quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Reveillon Palestino

Me lembro de alguns 31 de dezembro que passei.
Uns marcaram pela farra da passagem, com momentos ótimos, outros pela falta da mesma farra, por um sentimento de solidão.
Mas tenho lembranças do próprio dia 31, como o andar com meu avó pelo centro do Rio e presenciar aquela chuva de papel picado, a "alegria eufórica" de uma população, que me contagiava e deslumbrava.
A questão simbólica de "começar de novo" é muito forte.
De deixar o que passou, e listar expectativas a serem alcançadas, até as mais "simples", tipo daquele regime adiado, kkkkkkkkkk.
Mas ontem foi diferente, marcou-se um Ato de Protesto, em frente a Catedral, contra o Holocausto ao povo Palestino, em pleno século XXI, chamando-se o "Fim dos bombardeios Israelenses à Faixa de Gaza".
Quero marcar que apesar de estarmos em frente a Catedral, nenhum representante da Santa Igreja Católica se fez presente. Talvez ocupados, acertando os últimos preparativos do reveillon, ou porque não estão acompanhando o massacre.
Mas esta atividade foi diferente das tantas outras que participei, pois tinha como grande maioria dos presentes, os próprios Palestinos, comerciantes de nossa capital.
Então eles dirigiram o ato, chamando as palavras de ordem, em sua língua natal.
Era difícil fazer o coro, rs.
Muitas bandeiras Palestinas, uma do PSOL, e a presença de alguns de nossos militantes e outros poucos também do PSTU; mulheres trajadas com suas roupas típicas, Burca e Véu árabe, crianças, enfim famílias inteiras.
Saímos sem um carro de som, nenhum sindicato o fez presente, em carreata, passamos pelo Palácio do Planalto, buzinando e gritando, acompanhados pela imprensa e a polícia.
Seguimos até a embaixada de Israel.
Lá começou-se uma série de intervenções.
Uma senhora tinha a foto de sua filha, que a três dias não tinha mais contato, os bombardeios começaram a seis dias. Sua filha esta com a família lá na Faixa de Gaza.
Nós brasileiros, ouvíamos e observávamos, mas percebíamos as divisões internas do grupo Árabe.
Certo momento um senhor, uns 50 anos ou mais, citou em sua intervenção que os presentes deveriam continuar em caravana, seguindo em direção a embaixada Americana e do Egito, pois os mesmos traiam a luta de seu povo, juntamente com a Autoridade Palestina e o Hamas......
Pronto, armou-se o barraco, um outro senhor partiu em direção a ele aos gritos, e em fração de segundos estavam aos murros.
Vimos ali o que na prática acontece lá. As diferenças de políticas e estratégias para a região são enormes.
Israel sonha em colocar a Faixa de Gaza novamente sob o comando da Autoridade Palestina, cujas forças controlam a Cisjordânia e cujos líderes estão negociando um acordo de paz com Israel, acordo sabe-se lá em que parâmetros, e a que nível de traição....e conciliação sem ouvir os interesses locais.
Acordo que pode se dar somente ao fim do genocídio contra civis e com o “fim” estruturado do Hamas.
Na prática sabemos que a briga interna entre os grupos Palestinos já chegou a perto dos 600 óbitos.
O grupo Hamas levou um golpe com os ataques surpresa de Israel no último sábado. Deve agora considerar se é de seu interesse desenvolver uma tática da terra arrasada de resistência a qualquer custo ou se é melhor aceitar os termos de um acordo que pelo menos o manteria no controle de Gaza.
O número de mortos já ultrapassa 390 e o de feridos, 1.600. De acordo com o Hamas, 200 membros das forças de segurança do grupo foram mortos
Israel enviou mais tropas para a fronteira de Gaza em indicação que há preparativos para ataques por terra em uma nova fase da ofensiva.
A conversa de cessar fogo é pra ingles ver.
Durante os anos do acordo de Oslo, a Autoridade Palestina teve pouca oportunidade de estabelecer boa governança na Cisjordânia e Gaza; grande parte de sua receita chegava como ajuda internacional “através” de Israel. Vocês acreditam?
Sem independência política e financeira, com o nepotismo, a corrupção, a incompetência e a violação de direitos humanos, a Autoridade Palestina serve como uma marionete de Israel e EUA, como um entrave a real luta do povo.
Neste cenário de "não governo" nasce o Hamas, fundado em 1988 a partir de um movimento de assistência social que surgira da Irmandade Muçulmana. Se a Autoridade Palestina parecia incompetente, corrupta e fraca contra Israel, o Hamas passava a impressão de ser competente, limpo e forte.
Mas pura impressão, pois também levam uma política de acordos escusos, sem transparências e democracia em seus gastos e muitas vezes com atitudes contra o interesse dos próprios Palestinos.
Hoje os principais grupos políticos são a Autoridade Palestina, que é governo, e corrupto ao extremo, a Jihad Islâmica, política que o manifestante expôs aqui no ato, o Hamas, posição intolerante do agressor e as Brigadas de Al-Aqsa.
A uns três anos recebi um grupo de militantes Palestinos aqui em Brasília.
Organizei com outros companheiros um debate seguido de jantar na sede antiga do PSOL, que ficava no Conic, fundos, na área que o meretrício ocupa na madruga.
Pouca gente foi, afinal o tema não “atrai” muito, o que nos proporcionou um contato maior com o grupo.
Fiquei impressionado com o significado de algumas notícias que ouvimos com certa naturalidade quando ditas no Jornal Nacional. O que significa fechar a Faixa de Gaza? Você sabe?
Significa que seu filho foi a escola, sua mulher foi trabalhar, sua mãe foi comprar um remédio, e sem aviso nenhum, Israel fecha a fronteira, e ninguém volta.
Ou seja, uma parcela enorme da população não pode voltar para a casa.
È como se a sua mulher fosse ao mercado mais barato que fica do lado de fora de Gaza comprar um frango e não voltasse.
Vai ficar presa dois, três, sem lá quantos dias, junto a fronteira imposta por Israel. Obviamente que o frango apodrecerá...., o filho ou filha ficará dormindo fora de casa, passando fome do outro lado do “muro”, o remédio perderá a função de ser.
E se a fronteira fica fechada por mais tempo, toda a população local fica sem mantimentos, combustível, etc.
Fazer paz, acordo com os ânimos desta forma é impossível.
A política de Israel, da força, apoiada pelos EUA, nunca conseguirá paz na região.
É bom dizer que hoje existe um grande setor da sociedade Israelita contrário a esta política.
Mas voltando ao debate com os camaradas Palestinos, depois fomos jantar,
já tarde da noite.
Colocamos uma mesa de uns 5 metros na calçada, um bolo com a bandeira Palestina, e muito churrasco, cerveja, etc.
Aos poucos eles também foram se soltando, uns garis que limpavam o local se chegaram, depois as prostitutas, travestis e outros doidões da madrugada.
Sei que a lua ajudou, e tivemos um grande debate e confraternização.
Feliz 2009.

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