Minha mãe me pegou neste domingo para desmontar um armário velho. Até que tentei fugir, mas não tive como.
Uma tarefa que já fiz muito, pois sou filho de militar, e as viagens e mudanças me acompanharam pela vida.
Hoje, uma tarefa solitária, pois ninguém viria me ajudar, nem seria habitual um adolescente se preocupar com a arrumação da casa, mas na solidão do trabalho, voltei no tempo, voltei a sorrir, quando já no final da retirada do fundo do armário, no último parafuso, percebo que o mesmo está espanado, e com uma pitada de humor, repito meu avô Zezinho:
“Ah, você esta aí !!!!!”.
É a certeza da lei de Murfei.
Se algo pode dar errado, se um parafuso pode espanar, se um prego pode entortar, vai acontecer.
Senti-me acompanhado, por meu querido e sábio avô. Na realidade sinto falta dele sempre. Finjo ser normal a solidão. O não ter com quem dividir os planos, o desmontar algo, as conspirações da vida, a conversa com o olhar, o brincar e o observar os animais, a natureza, o rir da vida.
O esperar ansioso o dia seguinte, com suas novidades e adrenalina.
Meu avô, diferentemente de meu pai, me provou que nada (verdade nenhuma) era absoluta.
Tudo era possível, em seu momento. A graça da vida, esta em nosso olhar, na percepção do que acontece. Passávamos pela família (pela casa), recolhíamos tarefas, ir a lojas, ver e buscar informações, resolver problemas. Depois andávamos pelas ruas, falando com um e outro, bailando no palco chamado prazer.
Hoje continuo fazendo o mesmo, vendendo sonhos, chutando pedras, mas sem o parceiro da conivência.
Tento tapar este buraco, mirando o céu.
Mas os passos ficam inseguros, coisa de idade, coisas de saudades.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
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