terça-feira, 10 de maio de 2011

Desculpem

Quase uma reprise do fim de meus dias; lá estava eu trazendo para casa meus filhos Oliver e Breno. Trocavam idéias sobre os personagens que iriam desenhar. É o enredo de uma história, que se arrasta, que eu sei que existe, mas que nunca cheguei a ler. E eles confabulavam.

Derepente, nem sei como, Oliver começou a falar sobre a necessidade de eu me cuidar. Perguntou sobre minha dormência na mão esquerda, sobre minha alimentação, e aí foi... Demonstração de amor, misturado a coisa de filho preocupado.

Depois afirmou que tenho que procurar fazer coisas que me dêem prazer, como voltar a desenhar. Algo bem concreto, que nos assemelha. Continuou me convocando a ser PAI.

Questionei a princípio, aquela proposta, pois sempre me senti “pai”. Ele inclusive me chama de “papai”. Breno mais perdido do que tudo, nos seus 14 anos, afirmou que tenho a obrigação de continuar a ser pai, até ele ficar “DIMAIOR”. E eles continuaram a falar, e eu sai do momento, retornando a uma situação de muito tempo atrás.

A escola de Rebecca havia preparado um dia dos pais surpresa, com jogos e muitas propostas de brincadeiras.

E lá fui eu. Buscando ser o PAI, presente.

Já de cara, percebia-se a diferença entre EU e os outros pais.

A maioria estava de terno. Uns até afrouxaram a gravata, na tentativa de ficar mais a vontade. Outros com roupa social, mas todos bem estilo clássico.

Eu vestido de macacão jardineira Lewis e sandália de couro.

E vieram as propostas, e me animei, brincando, rolando pelo chão, participando da corrida de saco, engatinhando, cantando e gritando.

Realmente duas coisas me chamaram muita atenção na época, A primeira que “os pais” se mantiveram na posição de pais, desmontando as propostas de integração com a molecada, colocando-se na posição de espectador da festa, fugindo da participação da atividade moleque.

A segunda, foi Rebecca, me roubando de seus amiguinhos, me chamando para uma conversa a sós, aonde ela implorava que eu parasse de fazê-la ter vergonha. Que eu me comportasse como um PAI.

Aquilo ficou, meio sem digestão, meio engasgado, meio sem reflexão.

Tentei assumir a proposta “deles”, as crianças e a escola.

Meio virei herói da meninada, e fiz minha filha sentir vergonha.

Mas de 25 anos depois, meu filho me convida a ser PAI.

Hoje, talvez mais sensível, mais reflexivo, me pergunto: “será que meu papel foi de mãe?”.

O pai, traz consigo o papel do certo, do limite, da lei. Realmente nunca assumi este papel. Fui sempre muito mais mãe. Mais carinhoso, mais confidente, mais permissível. Fui irmão mais velho, ao propor bagunças, quebrando regras de casa, alimentos fora de hora, gastos e desejos fora do orçamento, ignorando costumes, negando a religião, afrontando o estado, pichando as ruas, conspirando por uma nova ordem.

E meu filho, me pede para ser PAI.

Não sei se consigo.

Chamo todos eles, de meu amor. Sou mãe.

Chamo-os para a farra, para o cinema, para dividir planos, sou irmão.

Desculpem.

Hoje vejo que nunca fui pai.

Na realidade, não sei ser pai.

Mas amo vocês, neste meu jeito torto de ser.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

..ser ignorado, por ser invisível socialmente.

Outro dia uma amiga minha perguntou brincando,
"afinal, o que é que você não fez ainda?"
Respondi rindo, "realmente já fiz um pouquinho de quase tudo".
Certa vez, a organização que eu militava, Convergência Socialista,
traçando linha de atuação aqui em Brasília, decidiu que era fundamental inserir um quadro partidário, entre os rodoviários.
O escolhido fui eu, já que era o cara que dava acompanhamento político a 3 rodoviários que se aproximavam da corrente.Teria que fazer concurso público para ingressar na empresa de ônibus estatal daqui, a TCB.
Falei então, não se preocupem, é mole, nem preciso rever nada, nem estudar. Deixem comigo.
E lá fui eu, realizar a mutação para transformar-me em um "peão".
Fiz a prova escrita e depois o psicotécnico. Meus camaradas indagaram, "como foi?'. Respondi, "foi mole, acertei tudo".
Então veio o dia de checar o resultado. Tinha sido reprovado.
Mas como, era impossível. Tinha certeza do que fiz.
Não aceitei o resultado e fui questionar o que houve.
Uma psicóloga veio me explicar que tinha uma formação muito maior do que a exigida, cobrador; sendo assim a empresa não tinha interesse em contratar uma pessoa que certamente logo a abandonaria. Seria jogar fora o curso de formação deles.
Então de forma macia, expliquei que na realidade tinha plano de entrar na empresa com o objetivo de crescer. Que almejava vôos maiores. Então a muito custo ela me deu "uma" chance.
Tendo sido aprovado, claro que os 3 rodoviários queriam "bebemorar" comigo.
Ualllll, você não imagina. Eles andavam de birosca em birosca na rodoviária, tomando pinga e presidente. Nunca fui de beber, não gosto, nem cerveja tomo. No máximo um vinho, uma vez ou outra, desde que seja razoavelmente bom.
Depois do Tour, eles se foram, felizes. Eu, rsss, consegui me arrastar até a sede do partido, deitei no chão, no meio do salão, e apaguei, de porta aberta e tudo.
Pronto, era um rodoviário. Um cobrador.
Só que depois descobri que não cabia naquele espaço destinado aos cobradores. Toda vez que a roleta passava, batia em meu joelho, que já estava super sensível.
E aí veio a experiência tambem. A linha que fazia saia da rodoviária, passava pela UNB, universidade, e depois por uma avenida que atravessava diversas outras escolas e faculdades. Pessoas conhecidas passavam por mim, sem me perceber, apesar do tamanho, rssss. Estudantes que também faziam política jogavam o dinheiro em cima do balcãozinho e seguiam rindo e conversando.
Certa vez meu filho, Oliver, passou por mim, sem me ver, sentando e rindo com colegas. Daí gritou, "pai, o que é que você esta fazendo aí?". Explica, rsssss.
Aí percebi alguns "clientes" educados. Empregadas domesticas, porteiros, e outras pessoas mais humildes, falavam comigo. Era até paquerado, rssss. E aos poucos tornava-me figurinha certa naquela linha. Já tinha com quem falar, rir, me divertir. Era invisível socialmente para "meus amigos", mais visível para um outro setor que não conhecia. Até que acabou a greve da UNB e com a volta dos estudantes, encontrei diversos alunos "gringos". Então querendo ajudar, dava informação em inglês e espanhol. Pronto, a partir dali voltei a chamar atenção e fiz "novos velhos amigos".
Meu motorista espalhou na empresa que o cobrador dele falava até russo, rssss.
O presidente da TCB, era um grande empresário da cidade, com diversos prédios e salas de cinema. Coincidência da vida, era inquilino de uma loja dele, Tinha uma BANCA DE JORNAIS e a LIVRARIA LENINGRADO. O problema, é que já havia pago o aluguel diversas vezes com a presença dele no escritório. Conversando com ele e com seu filho em papos gostosos, filho que havia sido meu contemporâneo de escola e Judô.
Mas vestido de rodoviário, com uniforme azul, ele nunca me reconheceu. Falou comigo "algumas vezes", pois dei bastante trabalho a gestão dele, rsssss.
Logo fui eleito membro da CIPA. Ou seja, peguei estabilidade, rsss.
Por mais que me apresentasse como rodoviário, nunca consegui ser um. Só para você ter idéia, rola um comércio mafioso, de vale transporte. E é comum todo mundo entrar no esquema, pois rende uma grana maior do que o salário.
Eu me recusava a fazer parte, não por questão MORAL, de estar "roubando a empresa", mas porque não poderia fazer nada que colocasse meu emprego em jogo, pois minha função ali era organizar os trabalhadores e parar a cidade.
Foi o que fiz. Até hoje, sou reconhecido por alguns na rodoviária, como "o galego".

Burguesinho

Certa vez em NYC, arrumei um trampo de garçom. No Cabana Carioca, na 46th Street. Então não sei como, num domingo, restaurante bombando, alguém derrubou muita coisa no meio do salão. O Português aos berros viu que o pessoal da limpeza não conseguia limpar aquela zona toda com a casa cheia. Então gritou para mim, "ô brasileiro, pegue o MAP aqui e limpe isto agora". Quando me vi, no meio do salão, com um MAP, na função de "auxiliar de limpeza", vendo o mundo que eu conheço sentado, comendo e rindo, senti-me mal, sem graça, perdido, deslocado.
Sem explicar, abandonei o salão e corri para o banheiro. Respirei fundo, ficando sem ação. Perdido.
Saindo depois, com as mãos no bolso, chocado comigo mesmo.
Afinal, vergonha de que?, de quem?????

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Viva a União Homoafetiva!!!!!

Foi “autorizado” pela justiça brasileira (Supremo Tribunal), apesar dos protestos das IGREJAS, e de setores homo fóbicos da sociedade a União Homoafetiva.

Se dependesse do PARLAMENTO, creio que nunca passaria, pois a hipocrisia e os interesses econômicos impediriam os falsos, corporativos e ilustres parlamentares a tomar qualquer decisão de avanço democrático e popular. Afinal, representam de forma

c a r i c a t a a MORAL e a FAMÍLIA brasileira.

O que a justiça aprovou, foi o fim do preconceito, o fim do Bullying, tão discutido hoje em dia, contra um setor da população, que para se preservar, fugir das chacotas, em muitos casos, até se “escondiam em armário”. Tinham que viver, negando seu “EU”.

Foi simplesmente o reconhecimento de que existe carinho, envolvimento, companheirismo, vida em comum entre seres humanos, mesmo que sejam do mesmo sexo.

Foi o reconhecimento de que o amor existe, sem receita. De que a felicidade, é encontrada aonde se garimpa, aonde se constrói, aonde se tem respeito, desejo e admiração.

Descobriu-se, que o direito ao beijo, é de todos. É universal.

Que para estar vivo, tem que se viver o desejo.

Que não existe ser humano de “segunda linha”.

Que o SoL, nasce para todos.

As cores do Arco Iris, colorirão a vida de todos nós.

Não vivi a proclamação da Lei Áurea, não vivi o direito ao voto feminino, mas vivi a derrubada da ditadura, mas vivi as diretas já, mas vivi agora o reconhecimento da União Homoafetiva.

Que fique claro, que até o reconhecimento, muitas pessoas morreram, foram humilhadas, apanharam, foram demitidas, foram exiladas socialmente.

Esta vitória custou caro, como todas as vitórias arrancadas pela classe trabalhadora.

Agora é consolidar este avanço, se mantendo organizado, cobrando, exigindo, conquistando no dia a dia, o direito de existir e ser feliz.

Se o mundo é Gay

não sei ainda.
Mas que se tornou

muito mais colorido,
tenho toda a certeza.
Viva a União Homoafetiva!!!!!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Falta de percepção

A mão esquerda continua dormente; perco um pouco da sensibilidade, no toque, nos movimentos finos, no rumo, na busca da melhor direção. Parece que os dias estão mais rápidos. Talvez seja a falta de percepção, de sensibilidade mesmo. Talvez a mão seja a ponta do aceberg do coração. Tudo passa, e o tudo parece muito. Muito mais do que eu. Evito discordar, respondo muito com sorrisos. Tento mostrar domínio do leme, mas o barco esta novamente sem direção. Chega um ponto, que não consigo mais, interpretar ternamente, o que esperam de mim. Deixo a desejar no ser pai, no ser filho, no ser amigo, no ser companheiro, no ser namorado, no ser ATOR do meu “eu”. Fico sem responder (minhas ou “suas”) perguntas, cartas, e-mails. Gosto e preciso falar dando as mãos, olhando nos olhos, completando idéias por inteiro. Não me venha com proposta de MSN, Orkut, Face Book ou frações de sentimentos. Quero amar, viver, tocar, pisar, sorrir e ir por aí. Existem vidas e mensagens nos caminhos. Eu só quero ir, para poder voltar e contar. Sabe o que é contar e ouvir???? É algo tão gostoso. Quero me lembrar dos desejos, ter um tempo sem tempo. Escolhi na vida, trabalhar sem as amarras dos horários, da presença obrigatória. Descobri uma forma de produção lúdica, aonde construo desejos e sonhos, perspectivas vontades e estímulos. Embaralho as tarefas, faço canastras de brincadeira, baixo o jogo, te deixando bater, e gargalhar com vida. Mas muitas vezes, ficam sem entender meu jogo. Ou acham que o jogo é outro. Ontem “Ovelha” fez 50 anos, depois de amanha será meu irmão. Muitos sorrisos e alegria coletiva. Mas queria poder falar com o olhar de alguns... Sabe, com a impossibilidade, faço isso de forma unilateral. Uso a noite e sua densidade. Descobri que reproduzo meu pai. Ele me conto e mostrou sua coleção de DVDs, afirmando que com seu “exílio” no apartamento, fazia dali algo para se alimentar. Faço o mesmo na madrugada, ouvindo meus shows, correndo, até alcançar o amanhecer. Então deito, e deitado misturo os mortos com os vivos, os do sul com os do norte, os que não se conhecem, mas juntos vivem em mim. E meio acordado, meio dormindo, venço a manha, à tarde e alcanço a outra noite. Acabo saboreando uma intensidade inexistente. Que alimenta e vicia. E quando o telefone toca, ou sou chamado aos berros pelos meus filhos, ou por minha mãe, levanto recompondo-me do flagrante da vontade de não retornar. E quando volto a estar só, choro de dor, pelo retorno pesado e “obrigatório”. O preço cobrado por um sonhar, em meio a cafunés é caro. É a individualidade. Hoje novamente corri de mim pelo dia inteiro. Depois de viajar por toda manha, de muitas reuniões, de pagar contas e contas, de estar na clínica, fui pro Conjunto Nacional, ainda perseguido pelo telefone. Então me escondi na Livraria Leitura, e entre as prateleiras encontrei-me com dois amigos, Beto Guedes e Elis. Juntos fiquei mais forte e viemos cá pra casa. Acho que agora estou melhor.