quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mudas do Zezinho

Meu avô Zezinho me repetiu algumas histórias de seu pai, Comendador Rainho, diversas vezes.
Achava graça naquilo, na falta de lembrança dele, na necessidade de relatar suas experiências, que aprendeu com seu pai, mas sempre parava e prestava muita atenção.
Tínhamos um sítio no Bairro de Deodoro, Rio de Janeiro. Fui algumas vezes lá. Tenho a ideia de um grande aquário de peixes, externo a casa, vidros tomado por lodo. O da frente rachado, mas adora observar, acompanhar a movimentação.
Da casa grande, das suítes externas ´( abandonadas ) que meu bisavô idealizou para seus filhos, que nunca as ocuparam.
Da descida que levava a estrebaria, em um patamar mais abaixo da casa etc.
Não esqueço de um banho gelado, na última vez que fui lá, o Comendador já tinha falecido, a casa do sítio já com poucas coisas, cada filho carregou o que quis, e meu avô Zezinho mandando que me lavasse direito, especialmente o “pinto” e o “bumbum”, rsss.
Certa vez o Comendador encomendou mudas de uma árvore de Portugal, falava entusiasmado de como eram lindas as cores que as folhas durante as quatro estações apresentava.
Queria que plantassem por toda a estrada de entrada do sítio, com o objetivo de fazer um corredor, até a casa grande.
No meio a tanta empolgação, meu avô estava admirado, pois conforme seu pai, a tal árvore levaria uns dez anos para ficar madura, adulta.
Então questionou:
“...papai, o senhor acha que vale a pena esta despesa, pois já estamos velhos e esta planta necessitará de mais dez anos...”
O Comendador ficou sério, e em seguida falou:
“...meu filho, compre as mudas, se nós não as vermos, outros verão...”
Os dois já faleceram, meu avô Zezinho quando tinha uns 18 anos.
Então fiz um exame de rotina na Câmara de Deputados, pois estava preste a completar 50 anos.
O médico me chamou assustado, e de forma didática informou-me que estava com câncer no rim direito.
Perguntei o que teria que fazer.
Foi enfático, afirmou que teria que retirar imediatamente o rim, pois se o tumor saísse do órgão, poderia se alastrar por todo o corpo.
Perguntei sobre o tempo que tinha.
Então me explicou, era junho de 2007, que se não o fizesse rápido, não curtiria mais o próximo carnaval, de fevereiro de 2008.
Estávamos em processo pré-congressual do PSOL, que decidiria a nova Direção Nacional do Partido, a ser realizado no Rio de Janeiro.
Fiz as contas, ganho o Congresso e depois opero.
Apaguei o problema da cabeça, corri, agitei, falei, negociei, ajudei a construir a maioria.
Dito e feito.
Fomos vitoriosos.
Deixei pronto um desejo, um sonho.
Corri então atrás do prejuízo, operei em 15 de agosto de 2007.
Não brinquei o Carnaval de 2008, mas porque não quis.
Hoje fui ao médico, Dr. Cláudio Venâncio, e combinamos algumas coisas:

1. farei agora tomografia com contraste
2. em tudo normal, perco peso por 3 meses
3. realizo uma nova cirurgia com colocação de tela no abdômen

Promessa de ficar 90% do que era.
Gostei da promessa.
Gostei das mudas de meu Bisavô.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Odelita

A claridade me acordou. Estava sonhando, eram duas pessoas, em quartos separados, me pedindo para entrar em uma cozinha.
Levantei então. Aos poucos fui percebendo que as senhoras eram minha avó, Roma, e Odelita, meia prima, meia tia, meia vó, meia família.
Não acordei com fome, nem elas eram de comer muito.
Fui me ligando, tentando resgatar do subconsciente mais dados.
Percebi depois que a cozinha era de um clube, da Asefe. Elas nunca foram a este clube, rssss.
Mas retornei a Odelita, voltei no tempo.
Lembro-me de um domingo à tarde em que meu avô colocou os cinco netos a desenhar.
Distribuiu papel e ofertou alguns lápis de cor.
Esta era uma estratégia boa, pois ficávamos calados, querendo todos dar o melhor de si. Anne, a mais velha, sempre detinha a melhor pintura.
Todos corríamos, copiando seu estilo, e tentando alcançá-la.
Estava desenhando uma casa, num gramado, uma árvore, com um belo sol e nuvens. Nada menos criativo, rsssss.
No meio da coloração Anne deu um ataque de que nós, os outros, estávamos usando seu conjunto de lápis de cor.
Correu de forma autoritária e recolheu os lápis.
Aquilo criou um rolo danado, com choro, lágrimas, etc.
Logo meu vô Zezinho correu nos trouxe outros lápis.
Chris, Wayman e Eliane logo se satisfizeram.
Continuei a chorar, de forma mais aguda, pois a tonalidade das cores não eram as mesmas.
E tinha a noção de que em uma pintura, como a de Anne, os contornos e as cores teriam que ser bem definidas e homogenias.
Chorava convulsivamente, como se o mundo tivesse acabado. Ninguém era capaz de acabar com tanta tristeza.
Depois de todos tentarem, e desistirem de mim, Odelita se aproximou. Estava já com o rosto inchado. Tentou abrir um diálogo. Não aceitei. Então de forma didática pegou meu desenho e com traços e cores foi me proporcionando a sensação de que as cores e as formas exatas não tinham importância. O conteúdo de uma pintura estava no conjunto, na sensação da forma que era criada. Que nas sombras, nas variantes dos traços e de tonalidade se encontrava o que se queria. Que dali surgia o vivo, nascia o diálogo, brotava a vida.
Aos poucos tomei um lápis, dei os primeiros traços, cores, perdi-me no papel, pois todos os lápis eram divinos, mágicos, únicos.
Ela se afastou sem nada dizer.
Não precisava mais desenhar o relógio da sala, ou copiar paisagens.
Bastava me soltar, e deixar rolar.
Nunca mais disputei com Anne ou com mais ninguém.
Afinal, Odelita me ensinou.
Odelita me inspirou, na vida.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Overdose Taliban

Com a lua acordo
Querendo me drogar
Buscar nos seus beijos
Loucura, alucinar

Na cama, no fogo
Arder te cozinhar
Sentir que me ama
os corpos a agitar

Então desejos...
Suor e manejos...
Transformo-me em arrepios
Teu corpo em assobios

Desejo e seus seios
Delírio a envenenar
Provar outros beijos
Meu corpo agitar

Te quero me arranha
Mulher hortelã
Me morde e assanha
Overdose Taliban

Viva a vida

Regina escreve:
Eu tava pensando enquanto descascava as batatas para o almoço: tá, tudo bem que a Maysa cantava muito bem , foi rebelde para a época etc e tals, mas daí a considerar um exemplo de mulher, de vida e de pessoa vai longe, heim? Ela gostava de uma maguaça lascada, fumava sem parar, não tinha tempo pro filho e ainda era mimada e agressiva.
Outro que endeusaram foi o Cazuza, com direito a um filme de longa metragem para mostrar todos os seus feitos em vida: drogado, irresponsável e mimado. Compunha músicas boas? Sim, compunha, meio chapado, mas compunha.
Esse só poderia ser considerado um exemplo: o MAU exemplo.
Evidente que a vida de uma pessoa batalhadora, de bem, com caráter não faz sucesso, é maçante e entediante, mas, então, vamos deixar claro que muitas figuras populares não merecem ser imitadas* e nem dá prá ficar tirando lição de vida ou qualquer outro ensinamento das suas atitudes.
E agora, vou terminar de descascar as batatinhas.....

Wellington comenta:
Infelizmente tive compromissos na hora de Maysa e não vi a mini-série. Mas pretendo ver ainda, já estão vendendo o CD.
Realmente existe uma grande contradição mesmo com a questão da sensibilidade, da criação, das experiências vividas ao extremo, com a realidade.
É possível viver de forma feliz e intensa sem se matar, sem se drogar, sem se afastar das maravilhas de um mundo real.
Olha a Cassia Eller, quando explodiu pra vida, se implodiu junto.Infelizmente perdemos pessoas com um potencial enorme, que marcaram sua época.
Infelizmente....

Regina pondera:
Quando falo que algumas pessoas não servem de exemplo de vida, não é por moralismo ou conduta.
Eu particularmente me simpatizo com os debochados, os rebeldes, os sem-noção, os que fazem diferença....
Quando eu digo que não são exemplos eu quero dizer que a vida dessas pessoas é difícil, é dolorida e sofrida. O bom mesmo é ser feliz, mas prá isso é preciso ser muiiiiiiiito sem-noção kkkkkkkkkkkkkkkkk nem sei porque estou falando isso aqui, deveria estar respondendo no blog, mas eu resolvi passar por aqui...fazia tempo que não mandava um scrapbook hihihihihihi.
beijos nonsense*

Wellington comenta:
Os debochados, os rebeldes, os sem-noção....tbm simpatizo, são ótimos. na noite, nos bares, na vida.
Na realidade aprendi que é entre estes pares, neste setor da sociedade, que poderiamos buscar os amantes da revolução socialista. Entre os alegres, os vivos, os de atitudes, que dançam, que jogam, que amam e se arrepiam, que choram e reagem perante as injustiças, estes nós recrutávamos.
Falamos de amor, de beijos, de um mundo aonde o meio ambiente será respeitado, aonde o brilho nos olhos será comum. Aonde a qualidade de vida, o respeito, será o motivo da vida.
Convidamo-os a juntos construirmos um novo mundo. A ter um instrumento próprio, que é o partido.
Imagine, se nos anos após o golpe militar, nossa juventude fosse detida como bêbados e drogados. Eles não fariam a diferença.....como fizeram. Não era fácil fazer esta discussão, nem é hoje ainda, pois como vc mesmo diz, a questão não é moral, mas de sobrevivência, pois tbm citando vc, “ acaba difícil, é dolorida e sofrida...a vida dos sem-noção”.
Viva os poetas, os surfistas, os músicos, os dançarinos, os artistas, os sonhadores, os revolucionários.
Chega de perder gente boa.
Viva a vida.

Amor Pop Star

Aconteceu, rssssssssss.
Um conhecido saiu do trabalho e foi com amigos tomar uma cervejinha, sem maldade.
Do nada rola um clima com a arquiteta.
Eles já trabalhavam juntos tinha tempo, mas naquele dia....o clima esquentou.
E a noite foi pequena pra tanto desejo.
No dia seguinte, ele, voltando pra casa não sabia o que falar.
Foi quando percebeu que só sendo vítima da vida, poderia escapar daquela enrascada.
Arrancou um pé do sapato e o jogou por cima de um terreno baldio.
Com um forte golpe abriu a camisa, aonde perdeu alguns botões.
Esfregou-se com força em um muro com chapisco grosso, provocando sangramento pelo rosto e peito.
Então correu, correu muito até em casa.
Chegou ofegante e explicou que fugiu de um seqüestro.
A esposa, delegada de polícia, imediatamente ligou para a delegacia e colocou toda equipe a procura dos “bandidos”.
Ele, a vítima, foi notícia dos jornais e tele jornais da cidade.
Este foi um amor Pop Star.

Tio Maninho

Estava lanchando com meu tio Maninho ( Henrique ), mesa farta, tipo café colonial, doces, geléias, frios, cucas, pães, queijos, nata, etc e etc.
Estiquei o braço e alcancei um pão de forma já aberto.
Imediatamente meu tio me tomou da mão.
E passou-me um pacote com um pão lacrado.
Afirmou de boca cheia, “este é novo”.
Tentei explicar que queria o aberto,
afinal era o da manha, ainda ótimo para o consumo.
Então tio Maninho disse de forma direta:
“coma o novo, o velho dou pro Urso ( o cachorro ) e pros porcos”
Tentei argumentar que não fazia sentido desperdiçar comida e que eu preferia comer o mais velho. Que ele deveria parar de comprar mais comida, até acabar o que tinha.
Maninho então rasgou uma gargalhada na copa.
Então afirmou:
“vc vai resolver o nosso problema daqui de Catuipe, irá primeiro consumir todas as mulheres velhas da cidade, pra não “desperdiçar” e deixará as novas pra nós, kkkkkkkkkkkkkkkkkkk.”
Este é meu tio Maninho, o velho Grebão, rsssssssssssssss.

Visite a comunidade do Tio Maninho, vale a pena, rs.

Maninhu, o Poderoso Grebao (32 membros)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Água viva

É interessante o ser visita, forasteiro das vidas locais.
Passo pelas casas de diversos primos, com suas esposas, filhos e grupo social.
Cada um colocando, apresentando, seu modo de vida, suas vitórias, suas buscas, contando seus contratempos e soluções de vida. Tudo regado de muita comida, rs.
O principal esporte daqui, é o levantamento de garfo, rs.
Ontem a noite fui a casa do Elton e Clarice.
Elton tem a marca de Greber no rosto. Feito em forma como parte da família. Me lembra o falecido vô, igual, digo igual a seu irmão mas novo, Eduardo, meu companheiro de boas farras em Brasília.
Dele pouco me lembrava.
O vi com uns 10 a 12 anos em Sta Rosa, e depois a uns 10 anos atrás em Brasília.
Sempre coisa muito rápida.
Sua esposa, Clarice, já tinha tido o prazer de conversar um pouco, de trocar alguns e-mails, ou MSN. Também muito pequena a experiência, mas de longe já percebia uma pessoa sensível e agradável.
Eles tem uma única filha, Lara, menina linda, que já faz o terceiro período de comunicação em universidade pública.
Enfim uma bela família.
Com algumas muitas características locais, mas com uma carga genética Greber acentuada, rs.
O amor e paixão pelo Elton por cães, é impressionante. Fez questão de me mostra-los um a um. Contar as istórias, sobre os pães, irmãos, procedência.
Mostrar fotos do nascimento e de passeios e momentos dele com seus cães.
Foge-me o presente, revivo o passado e vejo seus irmãos, Sonali e Eduardo, ambos professores em Brasília, com seus respectivos animais e também falando e contando sobre os mesmos, rs.
Sua esposa Clarice, vem relatar que Elton tem o hábito de acordar cedo, fazer o café, arrumar a casa, dar comida aos bichos, e sentar diante do amanhecer.
Começo a sorrir devagar, parece que ela falava de mim, de meu tio Henrique, estou hospedado hoje na casa dele, de meu primo Goia, digo Álvaro, de Porto Alegre.
Enfim, características físicas e de comportamento, que vemos em diversos membros da família.
A comilança foi muito boa, carne e carne de diversos tipos.
Uma maionese, famosa e comentada, que também recomendo e dou nota máxima.
Fiquei sabendo que o casal, no início de sua vida, tinha ido atrás de mim no Rio de Janeiro, mas que o desencontro se deu por já ter partido rumo ao exterior.
Ou seja, poderia ter tido a alegria de um primo parceiro, em minhas andanças pelas terras do Tio Sam. Sei lá o que não teríamos aprontado por lá. Afinal juntar Grebers causa euforia, ação e determinação, rs.
Mas a vida não nos premiou com estes momentos.
Porém aqui a vida é sonora, os pássaros falam dos sonhos, se confundem com as crianças, interpretam a vida, no vai e vem das paixões.
Elton, quando se despedia de mim no portão, confessou da “falta” que sentia em não ter seu mano a seu lado.
Mas uma vez disse o quanto Eduardo era um amigão, companheiro, e que estava muito bem e feliz com sua companheira “Cele”, figura impar e maravilhosa, parceira das parceiras, das noites e dos dias.
Nos despedimos, com gosto de quero mais.
Espero poder recebe-los lá em casa, poder emendar a noite com o dia, esticar o tempo, em longas conversas.
Agora vou ao clube.
Perceber o sol de dentro dágua, como camaleão, transformar-me em água viva.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Vendedor de Sonhos

Moço, que tipo de sonho que você vende?
Seu sonho tem recheio?
Custa caro?
Aceita ticket?
Beijos:-x

Tamaroli

Meus sonhos são simples,
caseiros,
não tem receita.

Faço-os de olho.
Respeito o instinto.
O tempo.

Às vezes coloco recheio
Outras vezes sirvo-os "puros"
Sonhos de criança....

Como te disse,
sou um vendedor.

Ando por aí
cantarolando
desmontando as armaduras
distraindo os linhas duras
dissolvendo algumas “turras”.

Tem gente que é freguês,
Gosta, come, repete.
Outros sedem a vez
Desdenham,
Vivem de barriga cheia....

Não fiz fortuna,
aceito ticket,
vale transporte,
vendo fiado,
e num caderno
comento a “sorte”.

Sou feliz,
Sabe porque?
Meu mercado
nunca vai acabar.

Tenho freguês
até da lu@!!!!

Na noite
eles se chegam
em vôo de morcego
cegos e instintivos.

Sou um Vendedor de Sonhos
Solitário Vendedor
Um eterno Sonhador

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cobrador Sofisticado

Logo que retornei pro Rio, aos quinze anos, em 1973, já me interessava pelo rumo da sociedade. As questões políticas me atraiam.
A propaganda da ditadura, era intensa na televisão, comemorava-se o sesquicentenário da independência (“projeto de amor e paz, este Brasil faz coisas, que ninguém imagina que faz...”)
Já tinha vivido a campanha do “ame-o ou deixe-o”, do governo “Garrafa Azul Médice” Achava aquilo intransigente, como se houvesse somente uma forma de amar, de pensar.
Percebia a diferença entre a palavra deixar e ser expulso, preso, torturado e morto.
Assustou-me um cartaz de PROCURA-SE, com fotos de ativistas, como se vivêssemos em uma época de faroeste americano.
Percebia o murmurar de um setor da sociedade, que na música, na arte, nos muros e nas esquinas clamavam o fim da ditadura.
Mas era menino, e precisava fazer “eco”.
Meu professor de inglês saiu candidato a vereador pelo MDB, Clemir Ramos, de Bangu. Ali fui. Comecei minha militância.
Logo conheci o setor “autentico” do partido, Alves de Brito, Raimundo de Oliveira, Délio dos Santos, Marcelo Cerqueira, José Frejat, entre outros.
Elegemos Frejat Vereador e posteriormente Deputado Federal.
Girava em volta do PCB e seus quadros, até que conheci um outro grupo, com seus pequenos cartazes, pretos, que clamavam:

Chega de Fome e Exploração!!!
Abaixo a Ditadura!!!
Anistia Ampla Geral e Irrestrita.

Era a Liga Operária, mãe da futura organização Convergência Socialista, da qual fiz parte e me formou como pessoa.
Logo me identifiquei com os camaradas e ali conheci o Trotskismo e o Morenismo. Hugo Miguel Bressano Capacete, também conhecido como Nahuel Moreno, foi um líder revolucionário argentino dirigente Internacional da LIT-QI, ou Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional, que teve origem na antiga seção argentina da IV internacional, (o PST posteriormente MAS hoje chamado FOS). Moreno
faleceu em 25/01/87 .
Já na Universidade, por fazer arquitetura, fui envolvido pelos “Libelus”, nome dado ao setor universitário de outro grupo Trotskista, ligado aos dirigentes franceses Pierre Lambert e Daniel Gluckstein (agrupamento que seguiu a tragetória do Partido Comunista Internacionalista - PCI, atualmente Corrente Comunista Internacionalista - CCI do Partido dos Trabalhadores da França)
Com a aproximação das eleições na França e a possibilidade concreta de eleger François Miterrant, as duas correntes (Morenismo e Lambertismo) tiraram uma política em comum, chamando a unidade do PC e PS, que culminou na vitória de Miterrant.
Nestes momentos chamava-nos de primos. Havia um projeto de unificação das duas organizações. Infelizmente não foi possível e cada vez mais nossa política se distanciou.
Passei então a militar organicamente na CS, Convergência Socialista.
Sempre fui um militante diferente dos demais, por nunca ter pertencido a uma categoria da classe trabalhadora.
Isto sempre foi motivo de comentários, análises e gozações.
Argumentavam que para não sofrer pressão dos “encantos” capitalistas teria que fazer um concurso, ter horário, compromisso corporativo, etc...
Certa vez, já morava em Brasília, um grupo de rodoviários se aproximou de nossa corrente.
Eram todos funcionários da TCB, Transporte Coletivo de Brasília.
Faziam oposição a direção do sindicato, petista e cutista e ao governo de Joaquim Roriz (PMDB).
Era tudo que queríamos.
Mas o problema é que não tínhamos nenhum dirigente na categoria. Isto fazia falta.
Foi então que o CR, Comitê Regional, discutiu e votou que havia chegado minha hora.
Em cima das resoluções do 11º Congresso Mundial da 4ª Internacional, que orientava suas sessões, a operar um “giro operário” em sua base, fui o escolhido para a tarefa, teria que me tornar um rodoviário, seria uma solução para o trabalho na categoria e resolveria uma “distorção” de um militante “vendedor de sonhos”.
Lembro-me do papo com o camarada e amigo Ricardo Guillen, onde ele convencia-me a deixar de lado todos os meus trabalhos e que me adaptasse a viver, vestir, pensar, transpirar como um rodoviário, com o salário e o padrão da categoria.
Estava colocado o desafio. E que desafio!!!!!
Agora era se inscrever no concurso público, já que a empresa era estatal.
Feito, fiz o concurso, passei e fui chamado para a entrevista.
Lá fui reprovado.
Assustado fui reclamar e saber o porque.
A psicóloga me reprovou pois tinha certeza de que logo sairia da empresa por ter uma formação muito além da exigida.
Então depois de muito conversar e explicar, disse que sonhava com a oportunidade de entrar em um emprego público, e que pretendia crescer na empresa, ser um diretor e bla,bla,bla.....
Fui então admitido.
Meus novos companheiros de categoria, rodoviários, eufóricos me chamaram para comemorar.
Corremos os trailers ao redor da garagem, bebendo rabo de galo e não sei lá o que. Derramava as doses como eles.
Juro que não me permiti sentir saudades de meus bons vinhos....
Só me lembro que todos se foram, rindo e felizes.
Segui rumo a sede da Convergencia, deitei no chão e sem nem fechar a porta apaguei.
Se existe coma alcolico, tive um, rs.
Meu primeiro problema era que não cabia dentro do lugar reservado aos cobradores. Toda a vez que a roleta rodava, batia no meu joelho. A marca roxa era uma constante.
Tinha que ser rápido e invisível na categoria, pois se o Sindicato me descobrisse, pediria minha cabeça a direção da empresa. Seria usado como moeda de troca nas negociações.
Em tres meses haveria eleições para a CIPA, o que me daria estabilidade na empresa. Este era o plano.
Precisava ficar conhecido na categoria, e ao mesmo tempo não ser percebido pela direção do sindicato, que me conhecia.
Pois consegui.
Fui pra sede da associação, ABEM, aonde redigia ofícios, orientava e ajudava no que podia os companheiros.
Jogava dominó, e torcia nas peladas.
Construi um pequeno grupo, com quem já conspirava, mas de forma bem clandestina mesmo. Alí já tirávamos estratégias e políticas para ação.
Veio as eleições da CIPA e fui o 3º mais votado em 10 eleitos.
Sai então da clandestinidade.
Já podia rodar os refeitórios, os terminais, as garagens convocando reuniões. Sentia-me realizado.
Foi quando o sindicato foi com um fotográfo e me click, click, clickou diversas vezes. O PC, Paulo Cesar, gritava bravo, vc esta fudido, vai ser demitido, etc e tal.
Depois de alguns dias, quando me apresentei na rodoviária para trabalhar, o fiscal reteve meu ponto, e disse que o presidente da Empresa, Dr Karin Nabut, mandou me chamar. Que eu fosse imediatamente.
Então ainda perguntou, “o que voce fez de errado 1220 ?” ( chamavam-me pelo número do ponto )
Fui, no caminho com receio e ansioso, mas chegando lá, controlei-me para o enfrentamento.
A secretária mando-me sentar, e foi anunciar minha presença.
Quando o próprio Dr Karim, empresário, dono de cinemas e prédios comerciais, correu até a porta e mandou-me entrar.
“Entre meu filho”., falou ele.
“Queria muito te conhecer, pois fui visitado esta semana pelo Sindicato dos Rodoviários, que me trouxe fotos e informações sobre voce.
Falaram horrores, que é um infiltrado e que pode acabar com a paz e o sossego da empresa.
Fiquei espantado, pois o poderoso sindicato de voces, com medo de um cobrador. Cheguei a perguntar quantos eram?”, e então ele riu.
“Me conte, afinal de contas quem é voce?”
Na sala estavam o Dr Karim e mais uns outros diretores da empresa a me esperar.
Voltei ao passado e me inspirei no velho Apolonio de Carvalho, quando interrogado pela ditadura, repetia o nome e seu cargo no partido
( “Apolonio de Carvalho, secretário geral do PCBr” )
Fiz o mesmo, Wellington Rainho, cobrador, 1220.
Ele esbravejou, “isto eu já sei. Já tenho sua ficha. Voce é pontual, zela com o patrimonio da empresa, não rouba ( quis dizer negocia ) vales transportes...Quero saber quem é voce, porque eles tem medo de voce?” Falou aos berros. “Disseram que é um empresário, isto é uma loucura.!!!”
Então falei: Dr, um empresário seria um cobrador? Eles são loucos. Sou o cobrador 1220.
Então Dr Karim disse, “estou de olho em ti, mas como eu não gosto deles e eles não gostam de vc, vai ficar. Apareça por aqui depois para conversarmos”
Foi a primeira e única vez que fui a sua sala.
A partir daí me soltei totalmente.
Fiquei conhecido pois a linha que fazia, L2 Norte/W3 Norte, com passagem pela frente da UNB, Universidade de Brasília, transportava muito alunos/turistas estrangeiros. E como conversava com eles em ingles e espanhol, logo toda Rodoviária de Brasília, inclusive os policiais, me traziam os turistas em dificuldade, rs.
Sai do limite da TCB e já tinha contatos nas outras empresas.
Organizamos uma pauta de reivindicações para a data base, a revelia do sindicato, que tinha acordos com a patronal.
Nos organizamos pelas garagens e pelos cobradores.
Fiz um projeto, apresentado pelo então Deputado Federal Cyro Garcia, Bancário/RJ, que estendia o direito ao quebra de caixa que os bancários tem a cobradores, bilheteiros, caixas em geral, enfim todo trabalhador que recebesse pagamento e desse troco.
Isto mobilizou, aglutinou.
Fizemos a exigencia de banheiros nos terminais para uso exclusivo dos rodoviários e não o uso dos banheiros públicos, sempre sujos e sem segurança, mantidos pelas empresas. As cobradoras foram ao delírio, afinal nunca foi reconhecido que elas ficam mestruadas e precisam de um local para sua higiene pessoal.
Logo a contragosto do sindicato fizemos paralizações relampagos por terminais.
A greve estava quase pronta.
Era questão de dias, a diferença que a patronal e o sindicato estavam juntos em nosso encalço.
Decretamos a GREVE na madrugada. Invadimos as garagens, bloqueamos as entradas com onibus e esvaziamos os pneus. Nada entrava,nada saia.
Quando o sindicato acordou a cidade já estava toda parada.
Na rodoviária nada movido a combustível se mexia.
Houve uns quebra quebra em um terminal da cidade de São Sebastião, pois quatro onibus conseguiram sair, sob orientação do sindicato, e foram depredados pela população.
Cruzei com Dr Karin na rodoviária, então ele me disse “ voce nunca foi cobrador mesmo...”
Fomos vitoriosos, saimos com aumento real e outras reivindicações atendidas.
Cyro Garcia não foi reeleito e o projeto foi arquivado.
Sofri um processo administrativo, me cobrando os quatro onibus depredados.
Paralelo a isto, Cristovam Buarque, PT na época, se elege governador de Brasília.
Muda a presidencia da TCB. Sai Dr Karin entra a Dra Eliane.
A nova Presidenta, me chama, informa-me que estava arquivando meu processo administrativo, mas que estava fora da empresa, pois ela já tinha tido muitos problemas com a Convergencia Socialista em SP, aonde dirigiu a CMTC.
Nesta época tinha uma Livraria com Banca de Jornal, chamada “LENINGRADO”.
O curioso é que meu senhorio era o Dr Karin, rs.
Curioso também é que já tinha dado aula de Judô ao seu filho Marcos, meu amigo pessoal, que depois soube de toda a história.
Hoje, no Brasil, chamam-se de "morenistas" as correntes MES - Movimento Esquerda Socialista, CST - Corrente Socialista dos Trabalhadores, ambas do PSOL e o PSTU.
Sou militante do MES.
E ex-rodoviário, que retornou a sua profissão de Vendedor de Sonhos.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Reveillon Palestino

Me lembro de alguns 31 de dezembro que passei.
Uns marcaram pela farra da passagem, com momentos ótimos, outros pela falta da mesma farra, por um sentimento de solidão.
Mas tenho lembranças do próprio dia 31, como o andar com meu avó pelo centro do Rio e presenciar aquela chuva de papel picado, a "alegria eufórica" de uma população, que me contagiava e deslumbrava.
A questão simbólica de "começar de novo" é muito forte.
De deixar o que passou, e listar expectativas a serem alcançadas, até as mais "simples", tipo daquele regime adiado, kkkkkkkkkk.
Mas ontem foi diferente, marcou-se um Ato de Protesto, em frente a Catedral, contra o Holocausto ao povo Palestino, em pleno século XXI, chamando-se o "Fim dos bombardeios Israelenses à Faixa de Gaza".
Quero marcar que apesar de estarmos em frente a Catedral, nenhum representante da Santa Igreja Católica se fez presente. Talvez ocupados, acertando os últimos preparativos do reveillon, ou porque não estão acompanhando o massacre.
Mas esta atividade foi diferente das tantas outras que participei, pois tinha como grande maioria dos presentes, os próprios Palestinos, comerciantes de nossa capital.
Então eles dirigiram o ato, chamando as palavras de ordem, em sua língua natal.
Era difícil fazer o coro, rs.
Muitas bandeiras Palestinas, uma do PSOL, e a presença de alguns de nossos militantes e outros poucos também do PSTU; mulheres trajadas com suas roupas típicas, Burca e Véu árabe, crianças, enfim famílias inteiras.
Saímos sem um carro de som, nenhum sindicato o fez presente, em carreata, passamos pelo Palácio do Planalto, buzinando e gritando, acompanhados pela imprensa e a polícia.
Seguimos até a embaixada de Israel.
Lá começou-se uma série de intervenções.
Uma senhora tinha a foto de sua filha, que a três dias não tinha mais contato, os bombardeios começaram a seis dias. Sua filha esta com a família lá na Faixa de Gaza.
Nós brasileiros, ouvíamos e observávamos, mas percebíamos as divisões internas do grupo Árabe.
Certo momento um senhor, uns 50 anos ou mais, citou em sua intervenção que os presentes deveriam continuar em caravana, seguindo em direção a embaixada Americana e do Egito, pois os mesmos traiam a luta de seu povo, juntamente com a Autoridade Palestina e o Hamas......
Pronto, armou-se o barraco, um outro senhor partiu em direção a ele aos gritos, e em fração de segundos estavam aos murros.
Vimos ali o que na prática acontece lá. As diferenças de políticas e estratégias para a região são enormes.
Israel sonha em colocar a Faixa de Gaza novamente sob o comando da Autoridade Palestina, cujas forças controlam a Cisjordânia e cujos líderes estão negociando um acordo de paz com Israel, acordo sabe-se lá em que parâmetros, e a que nível de traição....e conciliação sem ouvir os interesses locais.
Acordo que pode se dar somente ao fim do genocídio contra civis e com o “fim” estruturado do Hamas.
Na prática sabemos que a briga interna entre os grupos Palestinos já chegou a perto dos 600 óbitos.
O grupo Hamas levou um golpe com os ataques surpresa de Israel no último sábado. Deve agora considerar se é de seu interesse desenvolver uma tática da terra arrasada de resistência a qualquer custo ou se é melhor aceitar os termos de um acordo que pelo menos o manteria no controle de Gaza.
O número de mortos já ultrapassa 390 e o de feridos, 1.600. De acordo com o Hamas, 200 membros das forças de segurança do grupo foram mortos
Israel enviou mais tropas para a fronteira de Gaza em indicação que há preparativos para ataques por terra em uma nova fase da ofensiva.
A conversa de cessar fogo é pra ingles ver.
Durante os anos do acordo de Oslo, a Autoridade Palestina teve pouca oportunidade de estabelecer boa governança na Cisjordânia e Gaza; grande parte de sua receita chegava como ajuda internacional “através” de Israel. Vocês acreditam?
Sem independência política e financeira, com o nepotismo, a corrupção, a incompetência e a violação de direitos humanos, a Autoridade Palestina serve como uma marionete de Israel e EUA, como um entrave a real luta do povo.
Neste cenário de "não governo" nasce o Hamas, fundado em 1988 a partir de um movimento de assistência social que surgira da Irmandade Muçulmana. Se a Autoridade Palestina parecia incompetente, corrupta e fraca contra Israel, o Hamas passava a impressão de ser competente, limpo e forte.
Mas pura impressão, pois também levam uma política de acordos escusos, sem transparências e democracia em seus gastos e muitas vezes com atitudes contra o interesse dos próprios Palestinos.
Hoje os principais grupos políticos são a Autoridade Palestina, que é governo, e corrupto ao extremo, a Jihad Islâmica, política que o manifestante expôs aqui no ato, o Hamas, posição intolerante do agressor e as Brigadas de Al-Aqsa.
A uns três anos recebi um grupo de militantes Palestinos aqui em Brasília.
Organizei com outros companheiros um debate seguido de jantar na sede antiga do PSOL, que ficava no Conic, fundos, na área que o meretrício ocupa na madruga.
Pouca gente foi, afinal o tema não “atrai” muito, o que nos proporcionou um contato maior com o grupo.
Fiquei impressionado com o significado de algumas notícias que ouvimos com certa naturalidade quando ditas no Jornal Nacional. O que significa fechar a Faixa de Gaza? Você sabe?
Significa que seu filho foi a escola, sua mulher foi trabalhar, sua mãe foi comprar um remédio, e sem aviso nenhum, Israel fecha a fronteira, e ninguém volta.
Ou seja, uma parcela enorme da população não pode voltar para a casa.
È como se a sua mulher fosse ao mercado mais barato que fica do lado de fora de Gaza comprar um frango e não voltasse.
Vai ficar presa dois, três, sem lá quantos dias, junto a fronteira imposta por Israel. Obviamente que o frango apodrecerá...., o filho ou filha ficará dormindo fora de casa, passando fome do outro lado do “muro”, o remédio perderá a função de ser.
E se a fronteira fica fechada por mais tempo, toda a população local fica sem mantimentos, combustível, etc.
Fazer paz, acordo com os ânimos desta forma é impossível.
A política de Israel, da força, apoiada pelos EUA, nunca conseguirá paz na região.
É bom dizer que hoje existe um grande setor da sociedade Israelita contrário a esta política.
Mas voltando ao debate com os camaradas Palestinos, depois fomos jantar,
já tarde da noite.
Colocamos uma mesa de uns 5 metros na calçada, um bolo com a bandeira Palestina, e muito churrasco, cerveja, etc.
Aos poucos eles também foram se soltando, uns garis que limpavam o local se chegaram, depois as prostitutas, travestis e outros doidões da madrugada.
Sei que a lua ajudou, e tivemos um grande debate e confraternização.
Feliz 2009.