terça-feira, 31 de março de 2009

Dez minutos

Nadei muito, muito
na esperança de chegar
mas faltaram dez minutos
pra meus dedos te alcançar.

Teve ato com a CONLUTAS
mil bandeiras a tremular
me sobraram dez minutos
pra gritar e pra lutar.

Muita gente ali passando
muitos cantos a ecoar,
dez minutos enfrentando,
meus direitos a resgatar.

No dentista vou chegando,
dez minutos a esperar,
pro relógio vou olhando
minha angustia à cooperar.

Mil viagens e desejos
um abraço a resgatar
Dez minutos de alquimia
todo tempo a eternizar.

As pessoas já comentam
esta crise econômica
as vontades já aumentam
dez minutos voz atômica.

Na distancia, no possível
dez desejos a fazer.
Na instancia do impossível
dez minutos com você.

sábado, 28 de março de 2009

Chupetas

Minha vida é um sinal,
um sinal verde.
Uma avenida,
uma free-way.
Muito iluminada,
com muito movimento.
Aonde pessoas passam
em diferentes destinos.

Passam alegres,
passam tristes,
drogadas,
amadas ou mal amadas.
Passam sem perceber
Passam para chegar.
Passam só por passar.
Mas passam....

Difícil se expressar;
não só pela própria dificuldade
mas pelo movimento,
pelo ter que achar normal
a eletricidade alheia.
Luzes se ascendem,
luzes se apagam,
baterias terminam.

Em alguns casos
damos um empurrão,
em outros
cedemos nossa energia
em ligações
tão íntimas,
e fortes,
chamadas “chupetas”.

Muitas vezes
damos “chupetas”
a ilustres desconhecidos.
Muitas vezes,
por eles
recebemos gratidão,
reconhecimento,
amor, paixão.

Nem sempre são carros velhos,
os novos
também nos surpreendem
apesar de toda improbabilidade.
Nem sempre são carros novos,
os velhos
também nos surpreendem
apesar de toda probabilidade.

Minha vida é assim,
uma passagem
com diversos retornos
e algumas paradas.
Algumas fotos,
caretas
e poses para a eternidade
do orkut.

Passarinhos,
muito verde,
amplidão....
Amanhecer,
por do sol,
madrugadas....
Trovoadas
com Rainhosssssssssss....

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sabor de madrugada

To zanzando pela casa
desde às duas da manha
Ontem
o dia foi uma chuva só.
Tipo São Paulo,
garoa.
A semana acabou
e os sonhos,
derramaram
na madrugada.
As vezes fujo pela dor,
outras pelo prazer.
Tomei banho de chuva
andei nas poças,
entre os carros
pelo transito
desafiando o improvável.
Terminei como anotações na tempestade
sujo e encharcado,
mas com uma vida escrita.
Como faz falta os castelos,
as princesas
os cavalos
e as armaduras...
Quero poder brincar
acabar com toda esta “seriedade”.
Saudades do Parque Lage,
dos pique esconde na mata,
da adrenalina,
do corpo eternamente suado.
Que bom seria
poder te ver
rever....
te rodar no ar
num movimento
ignorando a gravidade,
se apoiando nos sorrisos,
nos olhares,
no ritmo cardiovascular,
no pulsar do viver.
Beijos,
com sabor
de madrugada.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Para *(ássia* ... Quero Ser Gira Sol

Meus poemas são dançantes,
para quem os sentem,
em movimentos leves,
faceiros,
arteiros....

Meus poemas são dançantes,
nos rádios do coração,
nos programas “do” amanhecer,
nas grandes caminhadas,
cavalgadas....

Pois somos sobretudo,
tudo aquilo
que não sabemos de nós.

Às vezes releio,
minha vida,
minhas vontades,
meus devaneios,
minhas certezas.

Nestes momentos
até me assusto
“com meus poemas dançantes”.

Seus ritmos
diversas vezes
roubam-me o próprio fôlego.
Com seu eterno
e solitário bailar.

De viagem em viagem...

Partimos,
chegamos,
brindamos
amamos...

De reencontro
em reencontro,
nos tornamos
efervercentes

Beijos,
mil beijos
borbulhantes.

terça-feira, 24 de março de 2009

Tenho uns trocados para pegar o ônibus.

Aqui só um corpo novo, rsssss.
O problema é de junta....
Mas para o stress, comecei a terapia esta semana.
Até agora só de grupo, mas creio que logo começará as individuais também.
O psiquiatra ainda não me recomendou nada para tomar, rsss.
E eu nem reclamo. Me calo.
Acho que esqueceu de mim, então ando meio que de forma invisível pela clinica. Não gosto de remédios, detesto.
É bom que todo dia a gente vê e aprende algo novo.
Hoje uma professora desabafou na terapia, dizendo-se coagida a ir para a clínica, que tinha bebido ontem, muita depressão, e que não tinha dormido.
Queria hibernar na crise.
Parar o mundo e descer.
Comentou que aos 12 anos tentou seu primeiro suicídio.
Relatou que ligaram para ela cobrando sua presença, se não comparecesse teria alta administrativa. O que não queria.
Reclamou que o funcionário da clinica em momento algum perguntou se ela estava bem, se teria condição de se locomover até lá....
E teve que ir, apesar de não querer e não poder (avaliação dela).
Esbravejou, fez caretas, afirmou que na sua escola ( serviço ), liga e diz que não vai. Mas que ali era diferente!!!!!!. (Era coagida?)
Fiquei até espantado....
Então percebi que ela era uma privilegiada perante a vida.
Eu nunca deixei de ir a nenhum compromisso porque tinha perdido uma, duas ou três noites de sono.
Apesar de estar cansado, mal humorado, doente, com medo, sem vontade ou sem "paixão".
Apesar de estar sem tesão!!!!!!!!!!!
Vou aos compromissos, e vou rindo.
Não misturo alho com bugalhos.
Senão, do nada, toda a vida pode azedar.
E se a exaustão me acompanhar, canto,
canto alto, até levitar na melodia,
ou viajar nos poemas das letras das músicas.
Meu problema é o tempo.
Ou a falta dele.
Meu problema é não saber priorizar,
não saber dizer não.
Meu problema é não me dar a mesma oportunidade,
que dou aos outros.
É a cobrança interna.
Mas estou bem.
Tenho uns trocados para pegar o ônibus.
A incógnita, é se ele vai passar.
KKKKKKKKKKKKKKK

domingo, 22 de março de 2009

...sem acompanhante

Acordo novamente na madrugada.
Tento voltar a dormir, mas não consigo. Ando pela casa, rolo na cama, bebo agua, acompanho os latidos dos cachorros, os sons do silencio que me fazem eco.
Estou de pé desde as duas, vão ser quatro.
Ainda não sei como esplicar, à vida dia, que desde ontem, sou um ½ HD,
Hospital Dia.
Terei que estar na Clinica Renascer, a partir das 14 horas diariamente. Fazer terapia individual e de grupo, ser avaliado.
Logo eu, que adoro avaliar a vida, os movimentos , os suspiros, o não dito.
Que depois de uma conversa com o psicólogo por mais de uma hora, “chegamos” a conclusão de minha fragilidade emocional.
Que o fato de vagar pela madrugada, não reflete uma voz de rebeldia, mas uma mente stressada.
As primeiras pessoas com quem encontrei, e me perguntaram como foram os exames, meio que fugi do assunto.
Apeguei-me ao fato de o médico ter me pedido a colocação de um router, aparelho que medirá minha pressão durante o dia todo, como primeira notícia, e que depois ficaria diariamente na clinica a tarde para outros exames.
Quando questionado por quanto tempo, fui sincero, ao afirmar que nem perguntei, mas que seria pelo tempo necessário.
Estou desde ontem com um motorista, pois tenho sentido tontura, variação de temperatura, dormencia nas mãos e nos lábios.
Me incomoda a presença do coitado, que nada de mal me faz.
A vida continua a me emocionar, me rouba lágrimas como sorrisos.
Não sei bem o que sinto. Talvez medo desta viagem. Viagem que quer reler minha vida. Reescrever certas verdades.
Viagem sem acompanhante, sem máquina fotográfica, sem celular, sem cartão postal.
Derreto-me em mais um choro silencioso.
Mas quero ir logo, para poder voltar logo.
Pois tenho outra viagem a fazer.
Pretendo saborear um cruzeiro e alcançar a “interseção” do céu com mar.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Eu sei....

Brinco de pique esconde.
Posso estar atrás do sofá,
da cortina,
ou invisivelmente visível.
Provoque-me,
que apareço.
Estou descompensando,
fluindo,
na idéia de estar próximo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Um ano solteiro, na Rodolfo Dantas em Copacabana

Tinha me separado de Vera, mudado para o Rio, e ido morar só.
Tentar ter esta rica “experiência” de um homem maduro e separado.
Tempo de Sarney no poder.....opssssssssssss, xiiiiiiii, ele nunca saiu na verdade, olha a Presidência do Senado aiiiiiiiiiiiiií.

1ª Parte: A casa....as lojas.

Comprei um jogo de sala de vime, leve e bonito.
Uma boa cama de casal, fogão, geladeira, liquidificador....
Duas camas de solteiro para o outro quarto, mantendo viva a perspectiva da visita das crianças.
Minha avó me deu algumas panelas e apetrechos de cozinha,
bem como roupa de cama.
Ainda assim comprei mais alguma coisa.
Televisão, vídeo e som, trouxe de minha loja.
Logo que cheguei ao Rio abri duas lojas, a primeira na Tijuca, a outra no Shopping de Campo Grande ( do Amarelinho ), de Foto, Vídeo e Som.
Além de venda, trabalhava com sonorização e iluminação.
A distancia entre meu apartamento, as lojas e a casa de minha avó (Ipanema), consumiam quase que todo o tempo do dia só em deslocamento.
Diariamente, na madrugada, lavava minha roupa no tanque, para não deixar acumular.
Acabou que fiz amizade de “lavadeira” com a empregada do apartamento de fundos do nono andar, eu morava no oitavo. Era quase sagrado o papo e considerações sobre a vida destes dois “morcegos” da lua urbana.

2ª Parte: O sair

Praticamente tomava café somente no bar que ficava embaixo de meu prédio. Era mais rápido e prático.
Ali sabia os resultados dos jogos de futebol e as primeiras notícias do dia e as confusões da rua, rsssssssssss.
Este bar não fechava.
Servia café, almoço e janta. Na madrugada, o fundo era aberto, aonde rolava muita música e dança.
O pessoal do partido, sempre me ligava, convidando para sair.
Gostava do auê, pois cortava a forte rotina de trabalho.
No final da madrugada muitos vinham dormir lá em casa.
O problema que rolou, era que o “tal” bar de baixo de meu prédio, era um dos points tradicionais da noite carioca.
Mas nunca consegui resolver a contradição de ter que me vestir, para a noitada, e simplesmente descer o elevador.
Para mim o ato de sair, necessitava de um rumo, alguma direção, como que uma expedição, a procura de raras especiarias, a procura de um novo tempo, a procura do prazer.
Por isto muitas madrugadas começaram e acabaram lá em casa.

3ª Parte: A mãe

Minha mãe veio dos EUA me visitar.
Já tinha uns quatro anos que não nos víamos.
Tudo foi festa e alegria.
Meu irmão Wayman estava casado com Patrícia, e morava em seu apartamento.
Percebendo algum constrangimento na relação e preocupação com seu retorno, de férias, minha mãe perguntou se poderia ficar comigo, já ficando.
Foi ótima as contradições vividas. Pela primeira vez, ela é que morava comigo, rssss.
Praticamente a mãe assumiu a loja de Campo Grande, me deixando por um período bem mais tranqüilo.
Chegando em casa, corria direto pro banho, afinal nunca me acostumei com o calor do Rio. Ao pegar minha escova de dentes, levei um choque. Ela estava com as cerdas escuras. Bem escuras.
Cherei-as, e em seguida assustado, corri para o espelho do banheiro, aonde procurava na boca e nos dentes algo que explicasse tal reação “química”.
Nada era lógico.
Logo cheguei a conclusão de que se tratava de alguma “acidez”, e que teria que procurar um médico imediatamente.
Saindo do banheiro, deparei-me com minha mãe, que já tinha retornado tbm.
Comentei o fato estranho, abrindo o “bocão” em sua direção.
Ela sem esboçar nenhuma surpresa me faz uma “pequena” pergunta:

“...aquela escova de dentes que estava no armarinho do banheiro era sua? “

Meio sem entender a pergunta, pois só morávamos eu e ela na casa, respondi que sim. E afirmei, uma é sua e outra é minha.

“Ahhhh, eu não sabia que era sua, então pintei meus cabelos com ela...”

Minha mãe voltou para os EUA, para tranqüilidade de minha nova escova de dente.


4ª Parte: Sarney

Todo Brasil era fiscal do Sarney. Nada poderia aumentar, então faltava tudo que queria aumentar.
Era fila da carne, do frango, dos ovos, do leite, etc....
Fartava tudo.
Me recusava a entrar em fila, mas o tal ovo fazia falta nos lanches rápidos.
Então resolvi criar galinha lá em casa, no 8º andar.
Apesar de ter explicado ao homem da loja que só queria fêmeas, vieram dois galos no grupo de 8 pintinhos.
E logo eles se desenvolveram, e foram morar no quarto de empregada.
Como saia muito cedo, e voltava muito tarde, não imaginava o reboliço que meu galinheiro criou no prédio.
Certo sábado, logo após entrar no elevador, um de meus galos cantou bonito.
Havia um casal de idosos comigo, que automaticamente fez o comentário:

“...veja que absurdo!!! Criam galinha no nosso prédio!!!!”

O velhinho então retrucou:

“...mas isto logo vai acabar, pois montamos uma comissão para investigar o paradeiro destes animais na última reunião de condomínio”

Para não ficar por baixo na indignação exclamei, “em plena Copacabana!!!!”

Então percebi o tamanho da confusão.
Logo fui procurado por um dos zeladores do prédio, que por agradecimento as doações de resto de comida ( Pizza e chinesa ) me jurou fidelidade e disse que nunca me entregaria ao sindico.
Agradeci, meio cabreiro e vendo que teria que sair com o galinheiro do prédio.
Logo fiz uma “doação” à escola da Rebecca, minha filha, das penudas lá de casa, rssss.
A operação da saída do apartamento na madrugada, com a participação do vigia e zelador, foi coisa de cinema.

5ª Parte: O namorar

Não foi algo pensado, mas na prática, fiz de meu apartamento um local aonde poderia receber meus filhos.
Certa vez, na casa de Marta Baggio, conheci uma menina da serra de Caparaó, MG.
Era diferente, rica em suas histórias, hábitos e vivencias.
Uma pessoa que morava no mato, vivia da terra, de pouco falar, mas expressiva, de ações rápidas, dona de um sorriso, que me lembrava o amanhecer.
Em sua primeira vinda ao Rio, a ciceroniei.
Em sua segunda vinda ao Rio, nos envolvemos, namoramos, e depois soube, por ela mesma, que tinha uma “companheira” em MG.
O interfone toca, domingo bem cedo. O porteiro me informa que tinha uma moça com jeito caipira, com uma mala grande, querendo subir.
Mas como ele não conhecia, mandou que esperasse na praça em frente ao prédio, e interfonou.
Corri a janela, e pouco vi, sou muito míope. A mala e sua dona estavam lá. Mas não as identificava.
Mandei que a deixassem subir.
Era ela, vinda com o amanhecer de domingo.
Perguntei como tinha me achado, e ela respondeu, “perguntei aos pássaros”.
Foi um domingo inesquecível. Muito papo, muito carinho, muito namoro, muita praia.
Ela tinha vindo resolver uns problemas, tinha acabado com sua companheira, mas retornaria a Caparaó, com informações para um projeto.
Quando me dei conta, já era manha de segunda, e tinha mil compromissos.
Negociava a venda de uns telões a sindicatos.
Tinha que partir.
Despedi-me, lhe dei as chaves do apartamento e desejei-lhe sorte no dia.
Rodei, andei, trabalhei, falei, mutilei a razão.
Retornava ao apartamento, e lembrava-me dela, de outro mundo, de outra vida, de propostas simples....
Pensei, coitada, já estará dormindo, sem atenção, que cara eu sou.
Mas não. Estava sentada no safa da sala, só de calcinha, assistindo TV, e ao me ver, abriu os braços, e correu demonstrando carinho e muita alegria.
Nem sei como amanheci terça feira..... Era só o caco. Ela dormia como um anjo, linda, bela, provocante.
Mas fui a batalha, tinha compromissos, o outro lado do mundo me esperava.
Arrastei-me ao voltar para casa. Realmente não tinha mais forças. Estava mal, cansado.
Mas meu desejo, estava lá, viva, pulsante, estonteante, querendo falar do dia, das buscas, dos toques, da vida.
Sobrevivi, é o que posso dizer. Nada era mais lógico. Só sei que ia aonde disse que ia. Mas apesar de presente, estava ausente, Cumpria o dever de viver o dia.
A noite chegava, e sem medo de errar, “fugi” para casa de minha avó, único lugar que me sentiria seguro naquele momento, rssss.
Ela se foi, infelizmente sem nos despedirmos, deixou a chave do apartamento na portaria.
Nunca mais nos vimos.

6ª Parte: Casal Polonês

Continua....

7ª Parte: A viagem....

Continua....

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nado...

Agora nado,
como um quase atleta.
As vezes encaro o fato,
como esporte,
Outras vezes
busco a agradável sensação
de viver com outra,
ou em outra,
densidade no corpo,
e na lógica.

O contraste dos movimentos leves,
o quase bale aquático.
Movimento!!!
Tem momentos
que encarno a eterna vontade
de chegar.
A realização de poder chegar,
a busca,
o desejo,
o toque no alcançar.

Na água,
ouço meu coração,
meu pulsar vida.
A percepção do mundo
se restabelece.
Sua individualidade é concreta.
Corpos passam ao seu lado
mas não são você,
cada um tem seu destino
sua procura
sua rota de vida.

Quando há sol,
se percebe a claridade
por seus raios.
Raios de cor,
raios de vida.

Quando há chuva,
a vontade que se tem
é de nadar ladeira acima
tocar o céu com as pontas dos dedos
virar surfista,
pegar onda nas nuvens.

Nado,
pensando em você;
doce vida.
Percebendo os “ecos”
do não dito.
Aumentando o volume
da voz
de meu coração.

terça-feira, 10 de março de 2009

O coral do “PULA, PULA, PULA” de Ipanema

Anos 80, morava na Rua Alberto de Campos, Ipanema, bem no iniciozinho da rua.
Em um primeiro momento eu ( militante da CS – Convergência Socialista ) e Nelsinho, estudante de Arquitetura da UFRJ, um ex “Libelu”, pois o apto era de dois quartos com dependência.
Logo se juntou a nós, Carminha, minha namorida, funcionária do INPI, ( militante da CS ), filha do ex-Deputado Federal Sergio Magalhães, irmã de Ana Maria Magalhães, atriz da Globo e cinema na época.
Por fim adotamos o Bira, Ubirajara Menezes de Oliveira, mecânico, natural de Vitória da Conquista, ( militante da CS ), um “representante” da classe operária, que nós, jovens libertários socialistas, trouxemos para o convívio de nossa República de Ipanema.
Certo dia, quando chegava em casa, assustei-me com o movimento em baixo do prédio.
Polícia, bombeiros e muita gente.
Era um rapaz que estava no 22º andar, ameaçando se jogar.
Os bombeiros argumentavam, em um diálogo tenso.
A polícia tentava cercar uma área de segurança.
Alguns profissionais dos bombeiros, já tomavam o telhado do prédio, tentando alcançar a viga em que o jovem rapaz estava sentado.
Aos poucos o número de pessoas que assistiam a negociação naquele bairro de elite aumentava.
Opiniões, comentários, especulações sobre o rapaz e o motivo daquela atitude.
Quando derepente alguém grita, “pula!!!!”
Fez-se um silencio e em seguida em coro a população gritava de forma afinada, “pula, pula, pula”, e o rapaz acompanhando o ritmo macabro salta.
Seu corpo bate em outra viga e desvia em direção a uma área interna do prédio.
Por um instante fez-se o silencio.....
Em seguida, como se ninguém especificamente tivesse feito o coro, volta o murmurim do comentário do fato.
O show tinha acabado.
Segui meu caminho para casa indignado.
Passasse mais alguns dias, e novamente chegando em casa, sou recebido pelo porteiro e mais alguns moradores do prédio, meio que assustados, meio que saboreando um novo show.
Era Bira.
Fui informado que ele tinha surtado, e que com o som aos berros, jogava tudo pela janela do apto, 20º andar, e uivava, xingava, etc.....
Subi assustado, ouvindo as histórias e os comentários desencontrados, além é obvio do som explodindo.
Quando abri a porta, Bira estava deitado no meio da sala com um garrafão de vinho vazio, além de outras bebidas.
Logo desliguei o som, e fui montando o quebra cabeça.
Naquele dia ele seria o último a sair de casa, pois tinha uma cliente que faria o motor mas tarde.
Lembrei-me que como ele sempre perdia a chave de nossa casa, orientei-lhe a deixa-la no hall do corredor externo ao apartamento.
Fui olhar, e ela estava ali.
Estava explicado, Bira ficara preso no apto por dentro.
Então na vontade de sair, ligou o som aos berros, logo de manha, na certeza de que o chato do sindico iria vir reclamar, aproveitando o momento para que pegassem a chave que estava dentro da caixa de telefone do hall.
Mas o sindico tinha saído.
Então ficou no aguardo da empregada do lado, que já tinha medo dele, saísse com as duas crianças rumo a escola, para que pedisse o favor de pegar a chave.
Quando a empregada ouviu seus gritos de socorro, misturado com o som e as batidas a porta, correu e nem esperou o elevador, desceu de escada apavorada.
Então ele gritava pela janela, pedindo socorro.
O medo do baiano já se espalhava pelo prédio. Surtou, diziam.
Tentando atingir seu objetivo, Bira encheu um balde dagua, e sem dó nem piedade, deu um banho no primeiro morador que foi buscar o carro na pátio.
Agora seria impossível não virem reclamar. Afinal, as visitas de reclamações eram freqüentes por muito menos.
Mas ninguém foi.
As “razões”, ou não “razões” de Bira eram comentadas não só no prédio, mas na padaria, jornaleiro, açougue, sapateiro, etc.
Por um tempo continuou a jogar água. Em seguida jogou arroz, feijão, farinha até que o desespero de perder a cliente do motor, se transformou em brincadeira, de acertar as pessoas que buscavam seus carros lá no estacionamento,
E a brincadeira se transformou em cansaço, e o cansaço em decepção e embriagues.
Já no final da tarde somente o som das caixas se ouvia.
O silencio do baiano era completo.
A aflição era saber o que tinha acontecido, mais uma morte, mais um louco....?
O caso do rapaz que pulou pelo convite dos moradores, foi logo esquecido.
O caso do Bira, do apartamento dos garotos rebeldes, ainda hoje é comentado.
Tem dois funcionários do condomínio, que toda vez que cruzamos, me perguntam do baiano.
Louco é meu amigo Bira, uma pessoa boa, sensível, fiel, parceira, sempre pronta a buscar e vencer desafios.
Certo são eles, o coral do “PULA, PULA, PULA” de Ipanema.

...recado ao Fabiano Barreto

Meu primo chegou a Brasília.
Veio do Sul, de Torres.
Dormi muitas noites
em sua varanda da sala.
O bater do mar, a lua,
a brisa e os arrepios que o corpo ensaiava,
tocavam a madrugada.
Saudades de Torres,
dos perdidos na noite,
da amplidão e prazeres da vida.

Meu primo chegou,
só não se acostumou com o calor,
com o ritmo da cidade,
com os passos desincronizados.
Se vizinhos fossemos,
te pediria um pouco do vento
de seu “helicóptero”,
para servir a meu primo.

Como moramos longe,
vou servir idéias,
redações
e camaradagens virtuais.

Falarei de um mundo de percepções,
emoções e ventanias.
Aonde o calor é energia,
aonde a vida é poesia.