quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Coisas de saudades

Minha mãe me pegou neste domingo para desmontar um armário velho. Até que tentei fugir, mas não tive como.
Uma tarefa que já fiz muito, pois sou filho de militar, e as viagens e mudanças me acompanharam pela vida.
Hoje, uma tarefa solitária, pois ninguém viria me ajudar, nem seria habitual um adolescente se preocupar com a arrumação da casa, mas na solidão do trabalho, voltei no tempo, voltei a sorrir, quando já no final da retirada do fundo do armário, no último parafuso, percebo que o mesmo está espanado, e com uma pitada de humor, repito meu avô Zezinho:
“Ah, você esta aí !!!!!”.
É a certeza da lei de Murfei.
Se algo pode dar errado, se um parafuso pode espanar, se um prego pode entortar, vai acontecer.
Senti-me acompanhado, por meu querido e sábio avô. Na realidade sinto falta dele sempre. Finjo ser normal a solidão. O não ter com quem dividir os planos, o desmontar algo, as conspirações da vida, a conversa com o olhar, o brincar e o observar os animais, a natureza, o rir da vida.
O esperar ansioso o dia seguinte, com suas novidades e adrenalina.
Meu avô, diferentemente de meu pai, me provou que nada (verdade nenhuma) era absoluta.
Tudo era possível, em seu momento. A graça da vida, esta em nosso olhar, na percepção do que acontece. Passávamos pela família (pela casa), recolhíamos tarefas, ir a lojas, ver e buscar informações, resolver problemas. Depois andávamos pelas ruas, falando com um e outro, bailando no palco chamado prazer.
Hoje continuo fazendo o mesmo, vendendo sonhos, chutando pedras, mas sem o parceiro da conivência.
Tento tapar este buraco, mirando o céu.
Mas os passos ficam inseguros, coisa de idade, coisas de saudades.