terça-feira, 28 de outubro de 2008

Lavando o carro

Tenho dificuldade de dormir por causa das dores nas costas, ou pela idade.
Na noite desenho, escrevo, lavo louça, etc.
Certa vez acordei logo após a meia noite.
Dei uma geral na casa.
Organizei tudo que podia.
Depois fui pro micro,
mas não tinha inspiração nem notícia que me atraísse.
Ansioso por não poder fazer barulho,
sobrou lavar o carro.
Mas eram quatro da matina ainda.
Fui nesta, afinal o carro estava imundo.
Aí o vizinho, por coincidência , estava saindo de casa.
Quando me viu lavando o carro, com balde, pano de chão e tudo mais, parou assustado.
Olhou o relógio e não se conteve em questionar,
se estava tudo bem, se era aposta ou promessa, ou o que?
Ao explicar o inexplicável, que somente o carro estava "muito sujo",
ouvi uma farta gargalhada rasgar a madrugada
e a afirmação de que só poderia ser eu.
Devo ser taxado de excêntrico, rs.
Coisas da vida, ou koizas da noite.

domingo, 26 de outubro de 2008

Mário Pedrosa.- Algumas histórias.





Quando da criação do PT em 1980, Mário Pedrosa foi o primeiro intelectual a aderir publicamente, o ingresso ao partido, que na época, tinha uma clara definição de independência de classe.
Mário nasceu em Timbaúba / PE em 25 de abril de 1901.
Foi crítico de arte, jornalista, professor além de militante ativo.
Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1926.
Já formado em Direito pela UFRJ, viaja para a Alemanha em 1927, onde estuda filosofia, sociologia, economia e estética na Universidade de Berlim.
Neste período teve contato com o Trotskismo, e um ano após seu retorno ao Brasil, juntamente com o Jornalista Fúlvio Abramo (irmão da atriz Lélia Abramo) e outros, funda um Grupo Trotskista ligado a Internacional. Por sua militância política, é preso em 1932.
Em 1937, com o golpe do Estado Novo (1937-1945), Mário Pedrosa é exilado. Fica em Paris em 1937 e 1938.
Já em Nova York, trabalha no Museum of Modern Art - MoMA
Retorna na clandestinamente ao Brasil em 1940, onde é preso e novamente deportado para os Estados Unidos.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, 1945, retorna ao Brasil, onde participa da luta pela derrubada da ditadura Vargas..
Refugiado político durante a ditadura militar, exila-se em 1971, em pleno governo Emílio Garrastazu Médici.
Dirige o Museu de La Solidariedad em Santiago, no Chile de Allende.
Torna-se Presidente do Secretariado do Museu Internacional de La Resistencia Salvador Allende, em Cuba.
Retorna ao Brasil em outubro de 1977.
Quando já com problemas motores.
Mas mesmo assim participa da discussão de criação de um Partido dos Trabalhadores e contrariando a “classe artística e de intelectuais” de sua época, adere publicamente a este projeto, um projeto de Independência de Classe.
Eu, jovem militante, já trotskista, presidia a 18ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, e tive a alegria de poder bater alguns papos em seu apartamento na Rua Visconde de Pirajá, e filiar simbolicamente este homem que foi um ícone da esquerda brasileira.
Guardo a ficha dele até hoje, como lembrança, de um camarada que viveu pela revolução, mas que com certeza teria repulsa de ver em que se transformou o PT hoje em dia. Sua trincheira seria a nossa.
Mário faleceu em 11 de novembro de1981.
Lembro-me do impasse que ocorreu em seu enterro, pois a família, católica, chamou um padre para que fizesse os rituais de corpo presente.
Romildo Raposo, da corrente Convergência Socialista, tentou negociar para que fosse respeitada sua condição de Homem Público, Militante e Ateu.
Como não foi possível um acordo, de um lado os familiares oravam, e de outro, nós a militância, cantávamos de forma alegre a Internacional Comunista, como uma homenagem a sua trajetória.
Foi-se o homem, ficou a história, com uma nova geração de lutadores.
Saudações Revolucionárias
 
 

Solidarnosc


Repetindo meu camarada Ricardo Guillen, também afirmo, que não sou de qualquer geração.
Vivi anos em turbilhão, em que as ideias eram questionadas a todo momento, em que a palavra conquistar estava ligada ao desejo.
Um tempo em que o poder estava em cheque, um tempo de enfrentamentos, da revolução sexual, do movimento estudantil, sindical, em que as organizações de esquerda afloravam.
Vou retratar neste momento um “causo” ocorrido em 1982.


Na Polônia o processo de transformações políticas e econômicas começou antes que em qualquer outro país socialista. Já no final da década de 1970 e início da de 1980, movimentos grevistas agitaram os principais centros industriais do país, principalmente os estaleiros de Gdansk. Diante da falta de iniciativa das autoridades e dos sindicatos, atrelados ao governo, um grupo de operários e de intelectuais fundou um sindicato independente, o Solidarnosc (Solidariedade). Sua combatividade entusiasmou os operários, que aderiram em massa à organização.
Isto influenciava a trabalhadores em todo o mundo, inclusive no Brasil, pois aqui havia um processo tão rico como o de lá.
A iniciativa dos trabalhadores e de seus líderes, entre os quais se destacava Lech Walesa, atingiu frontalmente as autoridades, que passaram imediatamente a combater o Solidariedade.
Paralelamente no Brasil, terminávamos os anos 70 com a campanha pela anistia ampla geral e irrestrita sendo mote de toda a VANGUARDA e da Sociedade Brasileira.
As manifestações pela volta dos exilados, a discussão de um partido de classe pelas Organizações de Esquerda (Liga Operária-Convergência Socialista, MEP, AP, DS, POLOP, Ala Vermelha, OSI, PCBR, entre outras), Sindicalistas e setores da Igreja Católica, culminou no movimento pró partido dos trabalhadores, que se transformou no PT.
O PT e o Solidariedade na Polônia, eram marcos mundiais de luta e organização da classe.
O governo russo (1982) impôs a lei marcial, na Polônia, e o sindicato foi declarado ilegal e proibido de funcionar.
Lech Walesa, foi preso.

O PT juntamente com outras instituições da sociedade civil fizeram manifestações Brasil afora pedindo “Solidariedade ao Solidarnosc”.
Estes atos ocorreram em todo o mundo.
Era um momento em que o INTERNACIONALISTO OPERÁRIO era pauta de discussão, as ditaduras balançavam e caiam, vivíamos em um ascenso, fazíamos história.
No Brasil é bom lembrar houve ato em apoio ao Governo Russo e Polonês, orquestrado pelo PCdoB, PCB e MR 8.
Houve choque, porrada mesmo, nas imediações da Praça XV, nossa com estes stalinistas, que marchavam na contra mão da história.
Detalhe, nossos atos eram de massa e nós levamos a melhor, rs.
Num destes atos, tínhamos como pauta, entregar um abaixo assinado que exigia Liberdade para o Solidariedade. Então rumamos da Cinelandia em caminhada até o Consulado Polonês, que ficava na Praia de Botafogo, para entrega-lo.
Um estirão debaixo de sol e forte calor, já que estávamos no centro da cidade.
Ao chegarmos ao Consulado e anunciarmos nossa presença o Cônsul Polonês informou que seria impossível receber a todos.
Ficava no 1º andar do prédio o Consulado.
Pediu que fosse feita uma comissão entre os presentes e a imprensa para fazer a entrega.
Como eu era Presidente da 18ª Zona Eleitoral do PT fui selecionado entre os presentes.
De minha organização, a Convergência Socialista, fui eu e o camarada ROMILDÃO.

Fomos recebidos em um grande salão, tipo de festas, e foi pedido que aguardássemos um pouco, pois o Cônsul já nos receberia.
O cansaço e a exaustão era grande, após a jornada que tínhamos feito.
De repente as portas se abriram, e quase de um “sonho” surgiram garçons, com farta bebida gelada, inclusive VODCA, e petiscos quentinhos, recém fritos.
O som da sala mudou, virou do nada um som de boteco e de descontração. Confesso que tinha pego “alguns” salgadinhos na mão, com medo que não viesse mais, a fome era grande.
Quando olho para o lado vejo o ROMILDÃO me comendo com os olhos do outro lado do salão.
O Secretário Geral do PT da época, Professor CIDÃO, do MEP. “mangou” de ROMILDO:
“pode comer a vontade que eu pago, Raposão ( apelido de Romildo )”
Foi quando o camarada sumiu em uma mesinha de centro e reverberou em alto e bom tom que “não comia e nem bebia com quem matava e oprimia o povo polonês....”
Neste instante quase que me engasguei com os croquetes do buffet.
Procurava uma mesa para deixar o copo e os quitutes.
Aquele momento servia como uma aula prática de como não se devia agir em um enfrentamento. Vi a diferença, a persuasão e cooptação, da classe dominante, a um pequeno grupo de “dirigentes”, que por causa de sede e fome, perdem o referencial de classe, o objetivo da ação.
Do nada o Cônsul apareceu, senão sua tática de acalmar os ânimos e fazer “novos amigos” pioraria a situação.
O ato político foi realizado, os abaixo assinados entregues e a cobertura da imprensa feita. Romildo deu eixo a atividade, pois nossa organização sempre formou seus quadros.


Os anos seguintes foram extremamente difíceis.
O Solidariedade funcionou na ilegalidade e diversos membros da sua direção estiveram presos. Com a perestroika na União Soviética, a partir de 1985, a situação começou a mudar, e em 1988 o sindicato emergiu novamente com força, liderando uma onda de greves.
Um acordo assinado entre o Solidariedade e o governo, abril de 1989, a ilegalidade do sindicato foi revogada.
Em junho do mesmo ano, o Solidariedade, agora transformado em partido, conquistou 99 das 100 cadeiras do Senado e 35% das da Câmara dos Deputados
Em 1990 Lech Walesa venceu a primeira eleição para presidente da República.


Quero dizer o quanto foi rico em minha formação a convivência com certas figuras que fizeram nossa história.