sexta-feira, 19 de março de 2010

O outro

O outro,
me acompanha,
desde criança.
No início
como companheiro,
nas brincadeiras,
nas descobertas,
nas percepções.
Mas o outro,
aos poucos,
também foi crescendo,
criando vontades próprias,
verdades,
dualidades em meu eu.
Hoje somos dois,
em um.
Gêmeos siameses.
Dividimos,
os mesmos suspiros.
Dirijo, aproveitando o estar sozinho, percebo-me vendo o meu eu, frágil, perdido, então choro. O passar dos lugares pela janela, na amplidão de Brasília, me fazem mergulhar fundo, no vazio que me acompanha. Procuro explicação, ao peso sentido, a insegurança, no acordar. A falta de vontades e verdades me faz incapaz de cumprir a agenda, me leva ao nada fazer, ao me encolher, ao me cobrir, ao me esconder. A constatação de que construi uma vida de sonhos, um quebra cabeça irreal, em que não me incaixo, em nenhum lugar. As vezes me sinto a peça que falta. As vezes, a peça que sobra. Sei que sou o que não quero ser. Grito, "não, não...não quero mais, pois só quero demais". Não é atoa, que só vivo com meias palavras, que me limito a meias tristezas. Porque o permitir-me, me levará ao insuportável. Então grito!!!, grito com meu silencio, grito com meus sorrisos, grito com minha educação. Pena que não percebem. Quanto tempo terei a mais nesta prisão? Não sei. O fato, é que não consigo dizer não. Tenho que demarcar meus limites. Buscar na rebeldia e ousadia as condições necessárias para ultrapassar o que sinto. Confrontar a desesperança com os sonhos, buscando realizar as fantasias. Me sobram as receitas, me faltam as vontades, a ruptura.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Quebra cabeças

Que vida é esta,
que construo,
em que as manhas
não se encaixam.
Em que os arrepios
não tem vez.
Em que a madrugada
é considerada
perigosa.

Que vida é esta,
que construo,
com rápidos prazeres,
com muitas angustias,
com pesados horários.
Vida que dirijo,
vida sem escolha,
vida sem rumo,
vida sem espaço.

Que vida é esta,
que construo,
e que não me encaixo,
e que não me vejo,
e que não tenho vez.
Vida que me leva,
vida que me arrasta,
vida esculpida,
vida vomitada.

sábado, 13 de março de 2010

Passeio na memória

Passeio pelos jardins
da memória,
remexendo em histórias,
não contadas,
resgatando olhares
e até desejos
inseguros.

Nas noites
mal dormidas,
nossos fantasmas
apareciam
e partiam.
Pois fechava=me
ao abrir=me a você.

Vivi o compreendido,
não dito.
No sonho bom,
resgatado,
nos sorrisos discretos
ou nas gargalhadas.
Me entregando, a ti.

Memória de sentidos,
de toques,
desejos e pele.
Viagens nas fotos
de festas e brincadeiras.
Lembranças de arrepios,
sem fronteiras.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Buscar

Saio à rua
buscando um pouco
de brincadeira.
De vento,
de leveza,
com o seguir adiante.

No encontro
com a simplicidade,
chego ao prazer.
Cumprimento o “outro”,
percebo o tempo,
o balançar da vida.

Ah, como é bom
ser parte de um todo.
Sentir os passos dados.
Olhar o em volta,
com paixão.
Buscar você, felicidade.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Continuarei sendo

Preciso lutar
contra a censura;
não do regime,
ou dos meus pares,
mas do conservadorismo
que me acompanha.
Nos movimentos do eu,
construo sorrisos,
que muitas vezes se perdem,
incrustados em situações,
indesejáveis e
incontroláveis.

Carrego a certeza
do seguir,
pois me faz bem.
Abrigo o instinto
da fuga (seguir-mentos),
num arrodear
sem realmente chegar.
Convenço-me
que o sentimento é bom,
mas a aproximação....
Continuarei sendo,
existindo,
mas bem longe,
Mesmo assim,
pra terra voltaremos.

terça-feira, 9 de março de 2010

Arco Iris

Resgatar
um sentimento,
é resgatar você.
Sou um
camaleão urbano,
na forma de viver.
Tento ser adulto,
pois não soube,
ou pude,
ser criança
quando devia.
Aos poucos,
e bem devagarzinho,
fomos nos permitindo.
Pensei em te escrever,
falando de mim,
tipo carta de antigamente,
Existe a vontade
de ter coragem,
alimentada pela saudade,
Existe o momento
do descobrimento,
inconscientes pescados.
Vivo o arco íris,
das cores da vida.

O ato

Desejo,
é o ato
de sonhar,
acordado.

Rosangela

Me afirmas que
memórias afetivas
podem me enganar.
Te confirmo,
que não na essência.
Realmente,
talvez enganem
nos detalhes finos.
Vivo em lembranças
de histórias reais,
recheadas de fatos
ensopados em sentimentos.
As lembranças,
visitam-me
as vezes.
Em outros momentos
invadem-me.
E eu,
nisto tudo,
tentando segurar,
a sua mão.
É muito bom
poder falar
e ser ouvido por ti.
Hoje,
não falta sintonia,
sobra carinho,
falta a presença,
real.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Coringa

Sou meio assim,
mal assado.
Escrevo com a alma,
com o corpo,
com o desejo.
Exponho-me
para me esconder.
Embaralho os sonhos,
escondendo o coringa
que há.
Provoco amizades,
alegrias, vontades,
excitações.
Poetizo o que quero,
colocando-me
como uma terceira pessoa.
Planto sentimentos,
rego as relações
insinuo o proximo passo
sonoramente dançante.

Brinco

Brinco
de te tocar o ventre,
mechendo contigo,
te arrepiando.

Você sem jeito
me lambe a alma,
me retorcendo
internamente.

Perco o controle,
fico sem freios
e direção.
Guio o inconsciente.

Mas é você
que desrespeita
meus sinais
de transito.

Desmestificando o prazer,
ignorando o tempo,
parando os relógios.
Ultrapassando os limites.

Nossos lençóis
anunciam os fatos.
Revelam e revelam
o não dito.

A satisfação
me cansa
e cansado alcanço
e avanço no prazer.

Dar bom dia

Sinto falta
de boas risadas,
de andanças
pelas estradas,
pelas ruas,
pela imaginação.
A gente se cobra muito
achando que reproduzir
os conceitos sociais,
o mesmismo,
nos traz
equilíbrio e satisfação.
Derepente
nos vemos com saudades
dos momentos que jogávamos
"conversa fora",
que dávamos
ótimas risadas, do nada,
que percebíamos o outro,
pelo olhar,
pelo andar.
Bom
é podermos sentir saudades
do que fizemos,
do que vivemos.
Triste seria
não ter saudades
de nada.
Essencial também
é construirmos
novos momentos
de satisfação.
É perceber
nas pequenas coisas,
beleza.
É dar bom dia
ao sol e a lu@.
É ser sonhador.