quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Provisoriamente seremos

Penso em ti, leve,
andando, rindo,
suando a vida.
Falando de vontades,
animada, querendo viver,
uma dia maior, que o próprio dia.

Azul, cor do céu,
dos olhos, da vida.
Presto atenção no dito,
na ação, no sabor colorido.

Lembrei de nós brincando,
se expressando.
É tão bom poder ouvir,
e ser ouvido.
O falar, é conseqüência,
seqüência da compreensão.

Provisoriamente seremos.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Faz Tudo

Estive no Rio, fui ver meu pai, meu irmão, minhas primas e primos, com meus filhos, Oliver e Breno.
Visitei também minha querida tia Zolita no hospital.
A cidade traz muitas recordações. Cada rua, cada canto. Andei por ali, vivi por ali. Mas os tempos são outros. Meu irmão, vi uma única vez, por motivo de negócio. Minhas primas, nem isto. Marcamos, marcamos, mas o ritmo da vida de cada um impediu o encontro. São prova que aquele espaço, não é mais o lugar que eu vivi, apesar de ser o mesmo lugar.
Foi bom porque sai com meus filhos, ficamos bem juntos, Fomos no Parque Lage, no Liceu Literário Português, andamos de barca, fomos a praia, andamos sem direção, mas com o coração. A todo momento estava com um dos dois em uma conversa mais próxima. Foi muito bom, mas na idade deles talvez nem tenham percebido ainda. Vivemos momentos que serão lembrados, que vai dar saudades.
Em diversos instantes parava e observava meu pai. Como o tempo age sobre a pessoa. Meus avós, sempre foram os mais velhos, mas meu pai era simplesmente aquela pessoa madura. Derepente ele é o velhinho. E comenta de seu “pouco” esquecimento. De seus medos de sair, dos amigos que se foram, da solidão e da segurança de estar em casa. Longe do mundo, hoje desconhecido.
Tem um cantinho na sala que meu avô Zezinho criou, aonde colocava fotos dos parentes falecidos. Ali ele me contava quem era cada um, de suas graças e manias, de diversos casos. Agora meu pai vem me mostrar o mesmo cantinho, mas não precisa me descrever a personalidade de cada um, pois vivi com eles também. Fomos contemporanios.
É uma casa de saudades, com paradas no tempo.
Meu pai vira e meche me chama de Wayman, o que sempre foi normal. Meu irmão sempre foi mais presente, mais previsível.
Lembro-me de uma vez em que cheguei no apartamento e ninguém estava. Já morava em Brasília esta época. Então fui esticar o corpo deitando-me no quarto.
Derepente chegaram meu pai e seu melhor amigo, Godinho, também coronel aposentado.
Sentaram-se na sala e começaram a colocar o papo em dia. Riam, se divertiam. Derepente a conversa partiu para a prole de cada um.
Godinho falou do Zé, Cristina e Gugu, com suas preocupações e expectativas. Depois foi a vez de meu pai, falou de Wayman, de sua sociedade com seu ex patrão, dos planos para o futuro, etc.
Ao fim, Godinho perguntou por mim, e meu pai de forma curta e direta foi logo afirmando, “esta bem, ele sempre se vira”.
Nunca esqueci aquele papo dos dois, pois tinha uma análise (se é que se pode chamar assim) sincera aos olhos de meu pai.
Aos poucos fui vendo que era quase uma unanimidade aquela avaliação entre a família. Afinal, nunca falava sobre minhas dores, meus medos. Sempre estava sorrindo e pronto para ser útil. Não pedia ajuda a ninguém.
Morava longe, sumia mas reaparecia. Tinha humor e muitas histórias engraçadas para contar.
Desta vez quando cheguei na casa de meu pai fui surpreendido com uma afirmação sua: “mandei juntar e guardar, você é o único que conseguirá juntar os cacos de um bule japonês de mais de 200 anos que quebraram aqui em casa”.
E lá veio Dulce, sua atual esposa, com um saquinho de supermercado, com um tanto de cacos de louça fina ao fundo.
Realmente não era a primeira vez que fazia o trabalho de “faz tudo” para a família. Sempre fui habilidoso e com orientação de meu avô restaurava muitas peças de arte praticamente perdidas.
E não foi diferente. Em pouco tempo a tampa do bule já estava descansando em cima da mesa. Logo depois o bule fazia companhia a sua tampa.
Meu pai olhou e afirmou: “eu não disse”. Pegou o bule o levou-o a seu lugar junto ao restante de seu jogo.
Logo depois veio me questionar a respeito da marca em algumas emendas. E afirmei, pai, são como as feridas da vida, elas fecham, mas as cicatrizes falam, retratando suas histórias.
Descobri então, que por sempre me virar, tinha aprendido a juntar os cacos da vida também, por menores que fossem. Mas hoje as tatuagens das cicatrizes, juntas com as rugas da idade, me paralisam.
Hoje as alegrias não afogam minhas tristezas.
Sinto-me sozinho, neste ser que aprendeu a se virar.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Contra a mão - Homem Lacaneano

Busco a cura,
o fim do mal-estar,
Mas é falso separar
o “EU” indivíduo,
do sintoma “EU” social.

O bem-estar,
reduz a culpa.
Adapta o desejo
ao consumo, as vitrines.
A identidade é o preço.

“O” profissional
adapta-se ao mercado,
escanteando o inconsciente,
“aliviando” os sintomas,
cristalizando a verdade “social”.

Ser macho, pai, avô,
pulveriza o indivíduo.
Meu lado “Pãe” (pai&mãe)
que soa sensibilidade,
destoa, me tornando atoa.

Busco a licença poética.
para falar durante o dia,
da madrugada.
Do sujeito em reflexão,
da dor, da busca.

Ando na contramão, “da mão”,
buscando a direção do gozo.
Acompanhado por loucos&amantes.
Andamos no limite,
do homem lacaniano.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Dobrando a esquina

Sou filho de Ronaldo,
parido por Ema,
registrado no nascimento
e perdido pela vida.

Meu dia vazio,
melo com sorvete de chocolate.
No fundo,
sou profundamente adocicado.

Você tem de tudo.
Então, só me procura por hábito.
Capricho de menina,
Coisa de pirata, saqueando coração.

Não te faço mas falta.
Ser feliz
não depende de”tempo”,
depende do “tanto”.

Continuo cheirando,
ka-fungando os dias.
Mas foi seu cheiro
que perfumou a cabeça.

Me de a mão, vamos passear.
Brincar de ter prazer por aí.
Fingir fingindo que fugimos,
simplesmente, dobrando a esquina.

Vamos abrir as portas,
e dar bom dia ao SoL,
Os dias são longos,
mas as noites, são eternas.

Pura alquimia

Cheguei em casa hoje (depois de 1 semana)
Foi chegar que todos saíram
Voltei a cuidar dos cachorros,
conversar com os cachorros.

Não me peças perdão,
não há motivos.
Os e-mails vão e voltam
como o movimento das ondas.

És uma grande companheira,
sempre presente,
transforma a distancia,
em uma leve e gostosa brisa.

Seus comentários
penetram e curam
a doença "solidão".
São provas, de que não falo sozinho.

Somos primos,
mas isto não significa nada.
A verdade é que somos,
fomos e seremos como imas.

Você me leva
a passeios que nunca fiz.
Murmuro em teu ouvido
e trocamos sorrisos.

Um beijo prima gata

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Branca de Neve


Lavo os cabelos, canto no banheiro. É tão gostoso o prazer que a água proporciona. Sinto-me leve, dou risada, penso na vida, volto no tempo. Lembro-me dos detalhes.
Estava sentado em uma confortável e velha poltrona, na Clínica Renascer.
O contraste do murmurim da varanda, contrastava com o silencio daquele salão.
Ali era como se o tempo tivesse parado.
Dois grandes sofás quase sempre vazios, confortavelmente convidativos, como se esperassem visitas...
A mesa de sinuca com os tacos e coloridas bolas abandonados, lembravam cenas de filmes, que retratavam tragédias, em que os jogadores fugiram de um instante para outro de uma grande catástrofe. Tudo largado.
Quadros sem graça, tortos, empoeirados, sem simetria, agredindo as paredes.
Em cima da mesa de centro, uma grande bandeja metálica, com bastantes cascas de banana. Um cinzeiro transbordando...
A fome passou por ali, e já morta, se instalou na farra da varanda, com risadas, gritos e muita alegria.
Mas derepente, o ritmo do zumzumzum mudou. Vieram gritos de deboche, de arruaça.
Corri me misturando aos outros na varanda, tentando identificar o diferente, o motivo da mudança.
Era uma jovem e bonita senhora. Alta, linda. Chamava atenção, por seu porte, o visual diferente. Estava vestida de princesa, de Branca de Neve.
Saia da secretaria da clínica.
Pensei logo, de forma feliz e animada, que era alguma atividade lúdica
em homenagem ao grande artista Augusto Boal (criador do Teatro do oprimido), que falecera há pouco.
Mas logo vi que não. Era mais uma paciente como nós todos. O motivo das fortes risadas, eram as roupas, o figurino, o assumir o personagem.
A diferença é que seus sintomas não se expressavam com a drogadição ou depressão. Não havia choro, tristeza, isolamento e arrependimento.
Ela era uma princesa, pura alegria, linda, contagiava o ambiente.
Os outros pacientes, de forma cega e preconceituosa, se sentiram sãos, com a suposta "loucura" da princesa.
Fiquei a observá-la, de longe, e ao deboche alheio. Não fui capaz de defende-la. O novo, o diferente, era simplesmente observado.
No dia seguinte, no café da manha, aos poucos o refeitório foi se esvaziando.
Ficamos eu e Branca de Neve.
Ela com o semblante sereno me perguntou meu nome. Parecia a vontade em sua realeza.
Me apresentei, de forma tímida, cheio de dedos fui a sua mesa.
Ninguém havia sentado com ela. Afinal não era mais “a” novidade. Era mais um, em um outro dia de internação.
Aos poucos o papo foi fluindo, ela sensível, falou de sua casa, de seus cachorros, de seus filhos, de seu marido, da rotina do dia a dia.
Então pensei, aonde se encaixaria o personagem de Branca de Neve, e mais ainda, onde estariam os 7 anões.
Então, mais a vontade, a questionei.
Ela de forma pedagógica, me ensinou sorrindo, o óbvio.
"Amigo, sou Branca de Neve, pois trago comigo os 7 anões".                                            E como um bobo, questionei, “aonde estão?”
Ela respondeu: Sou a Mestre, quando cuido de minha casa e de minha família.
Sou o Feliz, vivendo as belezas da vida.
Sou Zangada, quando algo me aborrece.
Sou Dengosa, em minhas relações.
Sou Soneca junto aos lençóis.
Sou Atchim, quando estou dodói.
Sou o Dunga, em meu silêncio e meu lado criança.
Parei e pensei, “e eu,quem sou???????”
Será que me represento, ou interpreto algum personagem???????
Ficou minha amiga, minha companheira de papo.
Aprendi com ela a assumir minhas vontades.
Poder falar, sem ser reprimido pelos risos.
Saudades de Branca de Neve e seus anões.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Bom tamanho

Viajo na palavra amor.
Amor companheiro, amor fraterno, amor paixão...
Viajo nas atitudes, nas expectativas, que temos em relação ao outro.
Todos amam, todos pensam saber o que é o amor, e refletem a expectativa, na imagem do outro.
Mas o outro é mais do que uma imagem, é mais do que um reflexo,
é mais que sua vontade.
Não será pela repetição da palavra amor, que criará a sensação de ser amado.
Não será "apelidando" o outro de amor.
Não adianta querer mais do que o outro possa te dar.
A capacidade de amar é diferente a cada momento.
O demonstrar o amor também.
O muito pode ser pouco, e vice versa.
O pouco pode caminhar junto ao limite do momento.
As verdades não são absolutas.
O remorso e o arrependimento expressão uma discordancia de você contigo. Imagine de você com o outro.
Os desejos não são abstratos.
Meu limite é de um bom tamanho.
Só não se pode aferir, "o bom tamanho", do limite do próximo.
Pra mim, poder amar, é poder voar.
Amar e ser amado, é como brincar, brincar de plainar.

Debaixo do céu

O entardecer é gostoso. Mais um dia se vai, chove fraquinho. É gostoso o falar da chuva. O céu cinza mostra amplidão, Sinto-me do meu real tamanho.
Os "novos", que de novos nada tem, tomam posse.
Posse de que ou de quem?
Diria que do "poder" de decisão.
Talvez eles não saibam, que a gente até pode, mas ter poder é pura ilusão.
Então viveremos a ilusão de um novo (????) ciclo.
A vida continua. Sacamos do passado, as ferramentas necessárias para esculpir o futuro.
Tenho gordura para queimar.
Provo do que sou, do que fui.
Reprovo o que não fui, por medo, cagaço e incompreensão.
Tenho um património, de laços afetivos.
Sonego ao Leão. Não declaro no meu imposto de renda.
Só agora liguei os celulares.
Hoje não recebi ligações. Também não as fiz.
Tirei o dia para pensar, tatear o EU.
Tirei o dia, parei o mundo, debaixo desta imensidão de céu.