Muitas vezes o desejo se esconde, se faz de morto. Desaparece, com a falta de luz, com a depressão, como a sombra sem a luz do sol. E a gente chega a acreditar, pela doença, que se pode viver só. Mas se há vida, há libido. Se há pulso, pulsa o corpo, arrepia, provoca alquimia.
A língua que fala, lambe, alisa , tateia, invade, dilatando espaços e ditando ritmo.
Enquanto ela toca, implosões se dão, na espera sem lógica, do próximo ato.
Mora em mim a razão, como mora em mim a falta de razão. Que sonoriza, que orquestra, os movimentos, num balé de sussurros, sem frases feitas, regado a suor, a pele, a pelo, a excitação. Fico então....
A vontade imensa, derrama, transborda, inunda. Não consigo esconder o lado menino, moleque. Meus olhos, meus movimentos, são transparentes. Brinco, brinco, bolindo em teu corpo, ignorando o tempo, atingindo a exaustão.
Quero mais, quero você, descabelada, de pernas afastadas, em chamas.
Vulva, vulcão em erupção. Gemido, tremido, fatalidade da totalidade. Eu não sei me conter.
Me divido em dois mundos. Um mundo do umbigo pra cima, outro do umbigo pra baixo (palavras de minha falecida e amada amiga Marta Baggio)
E você lua, companheira da madrugada, cheia de crateras, buracos. Procuro te preencher, mas você quer mais, te bebo nas fontes, te penetro, te cravo os dedos, o desejo, o coração.
Perco minhas bordas, aonde apoiar minhas máscaras, aonde me segurar, aonde deixar a fantasia?
É como só comprar passagem de ida. Voltar pra onde??????? De onde????
Liberdade é a verdade que escondo, é o ser menino, é o se permitir brincar.
É o fascínio de vencer os medos.
De surfar nos líquidos, nas fontes, nas formas. De estar em pé, deitado, de quatro...esquartejado.
Nos carinhos e rituais secretos, cabem todas as vontades, cabem os poemas, as juras, nossa vadiagem.