Bem, eu na prática não conseguia perceber de fato o que acontecia, apesar de “viver” o acontecimento. Sabe, ficava só aquela sensação de não ter vontade, de esperar um algo sem identificação. Esperar sem sentir o tempo, esperar sentindo cansaço. Esperar esperando, numa gravidez, sem prazo de gestação, sem saber o que parir.
Hoje fui ao cinema com meus filhos, meio que intimado, mas fui. Lanchamos falamos besteiras, e nos acabamos de rir na ótima comédia. Na volta, no carro, fazíamos comentários sobre algumas cenas, e me descolei, deixando ao longe algumas falas. Então percebi que o prazer vivido em família, tem o seu papel. É ótimo, mas existe um vazio, que continua vazio. Um algo que não encontrarei no prazer do outro, nas graças ouvidas, nas músicas, nos livros.
Falo do vazio que a falta de desejo provoca. Falo da falta de vontade. Que paralisa-me, a ponto de negar-me a abrir um e-mail que possa questionar qualquer koiza. Surge o medo da exposição. Evito qualquer encontro, pois sinto-me frágil, oco. Isolo-me. Sinto falta de mim. Não adianta viver a rotina de beber os comprimidos. Tenho sede de falar e ser ouvido. Aprender a falar, nu, sem ter vergonha de meu corpo. Desejo o desejo.