Então a dor me envolvia, numa
suposta camisa de força, paralisando seus movimentos, criando um pavor de um “abraço”
de uma serpente mitológica, um bicho de sete cabeças, que além de paralisar,
irá quebrar seus ossos, seus movimentos, triturar seus sonhos e seu amor a pó, a
autoestima, as expectativas, acabar com as buscas, com as perspectivas, te dar
a única certeza de que aquele instante será seu fim.
As lágrimas descem, sangram
sem controle.
Enfim, a dor é forte, muito
forte, capaz de na sequencia te ressecar por dentro e por fora, desidratando,
emagrecendo. Te fazer sumir. Traz consigo o esquecimento de todos os motivos,
que um dia te moveram. Corrói.
E aí, fui ficando, ficando,
ficando até desistir de ficar.
É a entrega do
“des-entegrar”.
Do desintegrar-se perante a
vida, perante o outro.
Do choro contínuo, da
submissão, da incapacidade de gerenciar seu instante.
Vivo um ser diferente,
enquanto
a febre não passa.
Um calor que me esfria
num desejo requentado
Até que teve uma manhã, que
acordei diferente. Senti um vazio. Um vazio imenso. Que me assustava, pois
criava um eco, que confundia-me na compreensão.
Não entendia a nada nem a
ninguém, nem meu EU. Um vazio enorme, que apesar de estar dentro de mim, era muito,
mais muito maior do que meu corpo, do que minha mente.
Um vazio tão grande, que
tudo que eu pensei que tinha, ou tive, ficou imperceptível diante dele. Um
vazio que não me permitia visualizar suas fronteiras. Seus marcos. Um vazio...
A princípio não sabia o que
significava. Pensei que era parte daquela “dor”, uma coisa só. Que em vez de
apertar, cresceu de forma sem sentido.
Mas aos poucos vi que não.
Era uma outra fase. Era uma luz no escuro, uma referência, uma possibilidade,
Pois apesar de assustar
aquele vazio todo, aos poucos percebi que diferente da dor, que nada permitia,
o vazio trazia o desafio, a possibilidade, de ser preenchido, por algo grande,
algo do seu tamanho, algo sem fronteiras, por um desejo, por mil vontades, por
um amanhecer, por novas primaveras, pela lua que havia perdido, por um amor
infinito.
Sim. Aquele vazio era um
coração limpo. Um coração sem dor.
A perplexidade era se sentir
tão pequeno diante da tarefa de ser feliz novamente.
Era não ter medo de voltar a
desejar.