quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pensamentos

Pensei em lavar o carro,
MAS NÃO DEU.
Pensei em cortar o cabelo,
MAS NÃO DEU.
Pensei em fazer a barba,
MAS NÃO DEU.
Pensei em não tomar sorvete,
MAS NÃO DEU.
Pensei em dormir cedo,
MAS NÃO DEU.
Pensei em acordar bem,
MAS NÃO DEU.
Pensei em fingir vontade,
MAS NÃO DEU.
Pensei em parar de chorar,
MAS NÃO DEU.
Pensei em... esperar,
MAS NÃO DEU.
Juro que eu pensei...
MAS NÃO DEU.
Mas....
MAS NÃO DEU.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Incomoda

Volto ao teclado. Aqui vivo a possibilidade de encontrar, minhas necessidades, sem ter medo do invisível. A noite é clara, apesar da escuridão. Brinco com o chamado impossível. E dele extraio leveza, possibilidades, o dia seguinte. São complicadas as relações diurnas. Normalmente as coisas ficam pela metade. Nem necessariamente por causa do tempo, mas porque são poucos os que dominam a arte de tecer uma relação. Compreender que a continuidade de uma mesma história já é outra história. O recomeçar, é viver. Relação Fast-food nem pensar. A ansiedade, o medo, o frio na barriga, da corda no relógio da vida. O aguardar, o esperar, é turbilhão, é puro desejo. Dizem que ultrapasso a fronteira, que atropelo a razão, e a compreensão. Mas não sei como se vive sem reagir aos acontecimentos. Sou parte de minha época. Trago minha história, minhas vitórias, minhas dores. Dou risada e choro. Permito-me emocionar, em público. O que quero, o que desejo, não sei ao certo. Mas sei que quero, que sinto, que busco. O desejo existe, mas a sensibilidade incomoda.

sábado, 15 de outubro de 2011

Horário de verão

Ontem conversava com meu pai. Falávamos da hiperatividade de seus dois cachorrinhos Basset. Papo rolando, com um show a parte dos dois, que corriam, se batiam e mordiam, dando vida ao momento.
Então veio a lembrança de seu antecessor, o Oscar. Um também Basset, porém de cor marrom (os de hoje são pretos), que faleceu a uns dois anos, depois de 12 anos junto a família.
O pai se engasgou, relatando sua morte. Oscar dormia com meu pai, quando se sentiu mal. Correu para a área de serviço, onde ficava sua cama, lá deitou, vomitou e faleceu, com problemas de coração.
Tudo muito rápido, mas tudo muito longo, pois a sensação de perda arrasta-se até agora.
Então segurei-me mais uma vez, disfarçando o ato de secar as lágrimas que insistiam em correr.
Tudo é motivo de choro. Que descontrole é este? Que perdas são estas que me colocam sempre no limiar do desmanchar?
Ontem reunimos os primos/irmãos cariocas.
Eu, Wayman, Anne, Chris e Eliane. Crescemos juntos. Falamos da vida, dos filhos, das graças e desgraças vividos por cada um. Rimos de nós mesmos, até da falta de graça. Ao final fotografamos o momento. Aquelas fotos sempre tiradas, mas que quase nunca aparecem depois.
Tudo regado a muita cerveja, vinho (meu) e refrigerante, acompanhado de uma ótima feijoada.
Um dos papos que rolaram foi sobre o interesse de resgatar o passado, através da construção de uma árvore genealógica. Percebi em Anne e Eliane, um momento em comum comigo. Buscando entender as raízes, talvez para não se sentir tão solto(a) perante a vida. Ali resgatamos momentos de nossos pais e avós.
Quando nos despedimos, ficava a certeza de que tinha sido uma noite. Que o vinho tinha acabado, e que todos retornavam para ....sua realidade.
Por mais que eu queira, minha estada no Rio é pontual. Nada resgato, somente comprovo que existe um mundo para ser vivido, disputado, saboreado, e o que passou, tem que caber nas lembranças, não nas faltas.
Aí me perco, pesando a vida. Pois as lembranças criam vazios, faltas, choros, tristezas profundas.
Daqui a pouco será hora de adiantar em 1 hora os relógios.
Quero recompor-me neste hiato. Secar as lágrimas, retocar a maquiagem, enfrentar a distancia. Estarei uma hora mais perto do desejo deste amor que a amizade faz.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AQUELE ABRAÇO

Havia ido levar a mãe ao aeroporto. Como sempre meio atrasado. A vida nos faz correr. Sempre tentamos utilizar o nosso tempo da forma mais racional possível. Encaixando “compromissos/atividades atrás de compromissos/atividades”, e assim acreditando estar tendo mais tempo de vida.
Como tinha que sacar dinheiro para a mãe, deixei-a fazendo cheking, enquanto procurava um caixa eletrônico.
No correr pelo saguão deparei-me com um grupo de jovens, roupas leves, coloridas, meio anos 70, fazendo meditação em uma rodinha, todos sentados ao chão.
Passei correndo, tinha a hora contada, mas sorri, não sei se para o grupo, ou para mim. Resgataram-me algo, mas que logo abandonei.
Tudo pronto. Estava com o dinheiro na mão, a mãe havia ido se ajeitar no toalete, e era só embarcá-la.
Despedimos-nos junto ao portão de embarque, dei-lhe um beijo no cabelo em um meio abraço. Desejei-lhe boa viagem, e enviei abraços aos camaradas da Fundação Lauro Campos.
Ela já ia, então a chamei e disse “Me ligue, confirmando seu retorno”.
E fui, procurando o melhor caminho para chegar ao carro.
Mas novamente deparei-me com o grupo de jovens.
Estavam todos em pé desta vez. De longe não entendia direito o que faziam. Meio cercavam as pessoas, que se esquivavam. Logo pensei, “a segurança logo irá tirá-los daqui”.
Rapidamente era minha vez de ser cercado por eles, todos sorrindo, com alguns cartazes feitos a mão, convocando a população a dar um abraço gostoso. Parei, sorri, e dei e recebi, AQUELE ABRAÇO.
Foi um abraço tão gostoso.
Percebi então que se estivesse atrasado com algo, seria com minhas carências.
Olhei para trás, meio pensando em voltar, para chamar minha mãe e dar-lhe um abraço por inteiro. Um abraço com energia, com vibração.
A partir dali, resgatei alguns abraços, o que me deu muito prazer.
Vieram-me outros abraços que não dei.
O corpo fala. O contato físico aflora o desejo, denunciando a emoção.
A vibração transforma-se em expectativa, num tremor gostoso.
Abraço forte, abraço inteiro, abraço colo.
Quero e gosto de abraço de urso
.

domingo, 2 de outubro de 2011

Loucura, soucura.

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector


Hoje, praticamente sinto-me bem resolvido em relação ao fato de minhas internações. Falo, comento, conto minhas experiências e meus aprendizados normalmente. Como quem retrata uma ida a um supermercado.
Mas não foi sempre assim. Quando de minha primeira internação, a 4 anos, trouxe comigo o olhar crítico depositado sobre as instituições psiquiátricas pela sociedade.
A idéia de um espaço isolado, longe de todos e excluído do direito a vida, era mais ou menos o que esperava. Um depósito de indivíduos que de alguma forma, cruzaram a fronteira, saíram da casinha, num processo de ruptura com os valores sociais e da razão.
Descobri que as loucuras, com suas formas, razões e dores, são diferentes, em suas semelhanças.
Mas na visão popular, a loucura é considerada como “rebeldia”, perda da consciência, devido a um desequilíbrio emocional ou comportamental, acompanhado pela fuga e isolamento da realidade, ou por distúrbios e deficiências orgânicas e mentais.
Mas vivendo, revivendo e convivendo a realidade de outras internações, fui acumulando avaliações sobre estas experiências.
Sai de um sentimento de dor, vergonha, abandono, falta de chão, incapacidade e entrega dos pontos, no momento de minha primeira internação, a contradição da certeza, da força, da alegria, da autoconfiança, do descobrimento de pares com quem repartia o existir, o brincar, o poder e o prazer. Todos estes sentimentos vividos em apenas 3 meses de clínica.
O diagnostico de alta, representou o total pavor. Hoje vejo que desejava viver ali para o resto de minha vida. Ao lado das pessoas “mais maravilhosas” que o “acaso” me havia presenteado. Ou seja, continuava com uma visão desfocada.
Mas porque isto???? São diversos fatores, mas vamos lá.
O fato de alguns internos pararem para te ouvir, terem tempo pra você, é o máximo de bom. Permitir-se a cantarolar ao lado de roda de violas, banhadas pela lua. Os corpos dançavam, os sorrisos faziam eco, num local em que todos soltavam seu lado artístico. Num local inacessível a minha pesada e antiga realidade. Aonde o amanha, não seria estressante, aonde ninguém te acusaria pelo fato de você simplesmente se permitir. Acreditei que se podia viver sem um relógio no pulso.
Para as crianças, para a família e amigos, estava curado e a primeira internação teria sido um momento impar, um resfriado, já inclusive esquecido.
No retorno, noutra internação, senti-me perplexo, pois indagava como a avalanche “DO TUDO” pode voltar mais uma vez sem pedir licença. Ali estava eu a ter que tentar falar das dores oriundas das perdas físicas, perdas emocionais, perdas oriundas do medo, da desistência, da falta de desejo a vida. Uma das inquietações era por quanto tempo, teria que deixar de respirar um lado da vida social, e viver aquele EU, só meu, de uma vida dupla, não pública.
Tudo já havia passado, a alta conquistada, e a certeza de que não teria vivido uma punição.
A convivência com os outros internos era parte do tratamento. Somente isto.
O perceber que o furacão habita o peito de todos. Uns falam dele, outros, de dentro e de fora da clínica, exteriorizam e interiorizam o eco do grito da inquietação.
Outras internações vieram. Hoje conheço-me mais. Sinto pena dos que nunca puderam parar o mundo, para melhor percebê-lo. Não fazem parte de meu currículo minhas internações, mas fazem parte de minha vida. Foi uma vitória poder conviver com minhas limitações, admiti-las. São muitos os que apreciam, me procuram, para conversar.
Para as crianças, para a família, estou curado e a primeira internação teria sido um momento impar, um resfriado, já inclusive esquecido. As outras internações ignoram. O que de fato existe, é o medo da perda, do que não é compreendido.
A dor vem, o sintoma simplesmente é a cicatriz da queda. Todos acessamos a porta de emergência da sensibilidade, ingressando num outro mundo, chamado “loucura”.
Sair da classificação de engraçado, exótico, diferente, e entrar na versão de um ser de comportamento supostamente desviante, que afeta a vida das pessoas com quem convive, é um pulo.
Da genialidade, da criação, a negação familiar. As brutalidades sociais, isolam, castram, e definem o internamento simbólico, e abrem as portas da loucura. Sem uma linguagem comum, o exílio é pura conseqüência.
Hoje existe profissionais que adotam a luta pela política “Anti Manicomial”. Mas as formas, o preconceito e as relações são e sempre foram diversas. Na antiguidade a loucura era considerada uma manifestação divina. Na Idade Média, inquisição, eram queimados, pois os “loucos” eram pessoas possuídas pelo demônio. Hoje parte da Igreja Católica e Evangélica, com uma visão moralista e discriminatória, classifica o ser, paciente, que não é produtivo na economia de mercado (valorização da razão), como alguém que tem algo a menos, e precisa de ajuda, para retirar o mal de seu interior e reintegrá-lo ao mundo, produtivo, do Senhor.
Já os Espíritas, de forma mais harmoniosa, dialogam, pois consideram MEDIUNICOS, os que ouvem vozes, os que são introspectivos, pois através deles, esta aberta à comunicação com os que se foram, e com o incompreendido, com o inconsciente.
Temos depósitos de “LOUCOS”, espalhados por todo o Brasil. O que não se vê, e não se ouve, não existe.
Mas os NARCOTICOS, criaram uma pandemia globalizada. Com um custo altíssimo ao estado. Então tentam criar um “modelo” de política antidrogas.
Como se fosse possível, separar as expectativas de lazer, da educação, da alimentação, da segurança, das oportunidades, de uma sociedade aonde o respeito e os problemas do homem serão ouvidos.
Sem entender a questão da subjetividade do homem, o gosto do azul ou do verde, do cheiro, das texturas, do ritmo, o respeito ao direito a opção, não se vai a lugar algum.
A importância das terapias, individuais e em grupo, do ouvir, do ouvir e do ouvir é o caminho. Do respeito à diversidade. O entender que o direito a busca do prazer, é viver.
Para começar, precisamos de uma linguagem comum, que respeite as variações culturais, com suas praticas e diversificadas. O tratamento pode se dar no núcleo familiar, ou em instituições. Manter o diálogo, é caracterizar cada caso.
As gigantes indústrias dos remédios tentam vender soluções caras e inexatas. A marginalização de algumas posturas como doenças vem do preconceito contra o que é ainda desconhecido. E temos que tomar, bolitas, bolitas e bolitas. No início tinha preconceito com os remédios, hoje apreendi a aturá-los. Participo até de comunidade no Orkut. Faço parte da turma do Zyprexa. E paralelo a isto, falo do que sinto. De minhas dores, tristezas e limitações.
Tenho que parar de demonstrar que posso tudo. Não preciso do olhar e da aprovação do mundo. Talvez queira só a atenção de “alguém”. Poder ser frágil, dentro de minha rotina. Tentando desacelerar, sem entrar em depressão. Quero apegar-me, as bordas da vida.
Antes amava a noite. Hoje, muitas vezes me confundo com ela.
Viro noite, vestindo-me de madrugada. Confundindo-me com a solidão.

Já pensei muito sobre o que é loucura, rsss.
O preconceito e a rejeição a classificação é concreta. Mas todos afirmam querer um momento de LOUCURA....., até acompanhado, com seu parceiro, rsssss.

A vida da gente é assim.
Muitas vezes damos voltas para chegar bem em frente.
Em frente do que não enxergamos,
Em frente do reflexo, em frente do EU.