sábado, 16 de março de 2013

80 anos do pai


Domingo passado sai de casa ao final da tarde. Fui a orla esperar o entardecer. Lindo demais.
Sentei em uma gostosa sombra, ao lado de duas senhoras e um casal com uma menininha de uns 6 ou 7 anos que dava suas primeiras voltas de patins.
Os movimentos e questionamentos de uma criança são sempre tão leves e graciosos.
Os poucos comentários e o silencio de contemplação das senhoras tão sábios e prazerosos.
E eu ali, no meio de TUDO.
Porque “o tudo” era ali.
Era gente pra lá, gente pra cá. De bicicleta, skate, andando, namorando, conversando, conspirando...com a vida.  Fazendo do trivial, um momento de grande prazer.
Senti “diversas” saudades.
Falta de pessoas que por ali comigo passaram.
Falta de pessoas que por outros locais comigo passaram.
Falta de pessoas que por ali comigo passarão.
Vivo  bem com meu passado, vivo tranquilo meu presente, desejo muito o “abraço” do amanha.
E aí o “farol da ilha” se ascendeu, como na música de Marina.
Um marco da rebeldia. Do explorar “a” madrugada !!!!!!
Lindo !!!!!!
A noite chegava aos poucos. As luzes se ascendiam.
A lua dava sua graça, e começava a reinar.
Volto pra casa de meu pai, que é em frente a praia.
O vejo “aprisionado”, mesmo com as portas e janelas abertas. Com o telefone funcionando, com o celular na cabeceira.
Com possibilidade de ir e vir.  Com a afirmação do médico de que os exames estão ótimos, que são de garoto.
Aparentemente a  sua idade e as limitações implícitas a ela o bloqueia.
Fala e espera a morte, como se  esta fosse sua única opção ao acordar de cada dia.
Realmente seu corpo apresenta sinais de esgotamento, como falta de ar, dores na perna, manchas pelo corpo, tontura...
Um tanto depressão, outro sintomas reais.
Isto é certo, pois o corpo é concreto, e cada um tem o seu tempo. Mas o que me choca e incomoda é a impossibilidade do diálogo.
Não sou capaz de estimular meu velho a ir a um cinema, uma de suas paixões. Ou a um passeio pela orla. Ou a voltar a ler o jornal.
Ou a ir atrás de uma guloseima específica.
Nem a fase oral o motiva.
Começa a esquecer as coisas, a repetir histórias, e a ter medo do futuro quando esta com consciência de seu esquecimento. 
A cama, os olhos fechados, e a música alta são sua rotina.
O isolamento total.
Hoje preparamos um jantar cedo, programado para às 19 hs, na casa de minha prima.
Meu pai acabou de me chamar afirmando que não tem condições de ir, por “estar febril”.
Vou a janela e avisto o mar. Um céu convidativo. Uma vida para chupar, como picolé, com grandes lambidas.
Vai entardecer, para uns, uma poesia.
Para outros o fim de um dia.

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