Meu avô Zezinho me repetiu algumas histórias de seu pai, Comendador Rainho, diversas vezes.
Achava graça naquilo, na falta de lembrança dele, na necessidade de relatar suas experiências, que aprendeu com seu pai, mas sempre parava e prestava muita atenção.
Tínhamos um sítio no Bairro de Deodoro, Rio de Janeiro. Fui algumas vezes lá. Tenho a ideia de um grande aquário de peixes, externo a casa, vidros tomado por lodo. O da frente rachado, mas adora observar, acompanhar a movimentação.
Da casa grande, das suítes externas ´( abandonadas ) que meu bisavô idealizou para seus filhos, que nunca as ocuparam.
Da descida que levava a estrebaria, em um patamar mais abaixo da casa etc.
Não esqueço de um banho gelado, na última vez que fui lá, o Comendador já tinha falecido, a casa do sítio já com poucas coisas, cada filho carregou o que quis, e meu avô Zezinho mandando que me lavasse direito, especialmente o “pinto” e o “bumbum”, rsss.
Certa vez o Comendador encomendou mudas de uma árvore de Portugal, falava entusiasmado de como eram lindas as cores que as folhas durante as quatro estações apresentava.
Queria que plantassem por toda a estrada de entrada do sítio, com o objetivo de fazer um corredor, até a casa grande.
No meio a tanta empolgação, meu avô estava admirado, pois conforme seu pai, a tal árvore levaria uns dez anos para ficar madura, adulta.
Então questionou:
“...papai, o senhor acha que vale a pena esta despesa, pois já estamos velhos e esta planta necessitará de mais dez anos...”
O Comendador ficou sério, e em seguida falou:
“...meu filho, compre as mudas, se nós não as vermos, outros verão...”
Os dois já faleceram, meu avô Zezinho quando tinha uns 18 anos.
Então fiz um exame de rotina na Câmara de Deputados, pois estava preste a completar 50 anos.
O médico me chamou assustado, e de forma didática informou-me que estava com câncer no rim direito.
Perguntei o que teria que fazer.
Foi enfático, afirmou que teria que retirar imediatamente o rim, pois se o tumor saísse do órgão, poderia se alastrar por todo o corpo.
Perguntei sobre o tempo que tinha.
Então me explicou, era junho de 2007, que se não o fizesse rápido, não curtiria mais o próximo carnaval, de fevereiro de 2008.
Estávamos em processo pré-congressual do PSOL, que decidiria a nova Direção Nacional do Partido, a ser realizado no Rio de Janeiro.
Fiz as contas, ganho o Congresso e depois opero.
Apaguei o problema da cabeça, corri, agitei, falei, negociei, ajudei a construir a maioria.
Dito e feito.
Fomos vitoriosos.
Deixei pronto um desejo, um sonho.
Corri então atrás do prejuízo, operei em 15 de agosto de 2007.
Não brinquei o Carnaval de 2008, mas porque não quis.
Hoje fui ao médico, Dr. Cláudio Venâncio, e combinamos algumas coisas:
1. farei agora tomografia com contraste
2. em tudo normal, perco peso por 3 meses
3. realizo uma nova cirurgia com colocação de tela no abdômen
Promessa de ficar 90% do que era.
Gostei da promessa.
Gostei das mudas de meu Bisavô.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
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