sábado, 16 de abril de 2011

4 dias no Rio

Voltar ao Rio é uma rotina sempre nova. Foram quatro dias, calmamente dinâmicos. Ouvi meu pai, com sua dor, causada pela expectativa da morte. Em todos os dias ele falou nisto. Comentou sobre o efeito da idade no corpo, das limitações físicas impostas pelo tempo. Apesar de estar aparentemente bem, dentro do possível.

Percebo então que a vida, realmente sem desejo, perde o sentido.

Devemos esperar, querer, desejar..., dar o próximo passo. Senão, nos sentamos, e aguardamos a morte, que é certa, o que pode nos dar, um grande cansaço, uma forte dor, uma depressão doentiamente incontrolável.

Mostrou-me os papéis dos dois túmulos da família, mas deixou bem claro que QUER ser cremado, e que suas cinzas sejam jogadas na praia de Ipanema, no Arpoador.

Então para que viver as “escrituras” dos túmulos? Porque não viver este desejo de voltar a praia de Ipanema que tanto lhe encantou? A este Arpoador, que é seu vizinho, e aonde ele quer ficar para sempre, em forma de “cinzas”.

Aí fui eu a praia. E vi gente de todas as idades, andando, conversando, vivendo de forma leve e prazerosa o desejo de estar ali.

Faltou você meu pai. Faça-se presente, não falte antes de faltar.

Abrimos seus arquivos e resgatamos diversas histórias de família. Fotos, recortes de jornais, impressos. Faz-me bem, sentir que tenho passado. Buscar este elo, fazer parte de algo maior do que eu.

Fico igual a pinto no lixo, futuco, escarvo, procuro. E de pergunta em pergunta vou montando meu quebra cabeça imaginário.

Então meu pai pegou dois envelopes lacrados, com minha letra pelo lado de fora e me entregou. São seus. Perguntei o que era. E ele me disse que um dia pedi que ele guardasse, mas nunca abrisse. Por fora estava escrito, não abra, com minha letra.

Tentei puxar pela memória, o que havia me provocado a construir aqueles dois “arquivos secretos”. Não lembrei, e então decidi deixá-los fechados, até que conseguisse resgatar aquele momento distante de quem sou hoje.

Sai dali com o telefone de meu tio Alfredo Rainho. Que hoje mora em Búzios.

Meu pai então disse que Alfredo Rainho lia meu blog, e que gostava do que escrevia. Comentou com ele alguns textos. Resolvi então procurá-lo no Face Book. O achei. Mandei um convite de amizade, outro para a tia Nadia, sua esposa, e um terceiro para Adriana, sua filha, minha prima.

Adriana me respondeu, e meio que on-line começamos a conversar. Mas a conexão caiu. Peguei o celular e liguei. Foi ótimo. O interessante é que ela, após me pedir desculpas, rssss, disse que não tinha a menor idéia de quem eu era.

Tentei lembrá-la do passado. Pois toda sua família ficaram hospedados na casa do pai por 3 meses em Brasília, inclusive seu cãozinho BOB. Falei que brincávamos bastante, falei de meu irmão, mas nada a fez lembrar. Sua lembrança de Brasília limita-se a 307 Sul.

Então pensei bastante sobre isto. Percebi que a chegada deles nos anos 70 para mim foi resgatar um vinculo de família, que havia perdido com a ida para Brasília. Já pra eles, era mais uma mudança, na vida de um diplomata.

Então fui visitar minha prima Christiane e seu fiel “escudeiro” Mure. Acabou que fui surpreendido com a presença de Anne, prima também, e dos filhos da Chris, Pablo e esposa e Daniela, esposo e a princesinha Sofia.

Foi tudo muito rápido, mas perceber primeiro as “crianças” já adultas, casadas, falando da vida me dimensiona perante o tempo.

Chama-me a assumir a figura gostosa de meu avô. De ser mais brincalhão do que já sou.

De curtir e ver a vida com outros olhos.

Chris, fala nos e-mails, e pessoalmente da falta que sente das grandes reuniões de família. Sorri, me abraça, demonstra prazer no encontro. Anne de forma mais comedida também. Adorei vê-las.

Faltou Eliane, a prima mais nova. Que mora na Barra.

A impossibilidade de usarmos o telefone, por causa de seu problema auditivo, limita em muito a comunicação. Mas através de e-mail e torpedos marcamos em sua casa.

E lá fui eu. Foram quase duas horas de ônibus. Mas cheguei. Acabou que nos encontramos na portaria do prédio, fomos a padaria e em seguida subimos.

Rever os móveis da casa de meus tios, seus pais, sempre me emociona. Objetos da casa de meus avós também. Todo um passado, exposto, em outra realidade.

Eliane, a Pelika, desabafou quando comentei sobre o tempo da viagem até ali. E ela ao afirmar que o tempo que levo até sua casa é o mesmo que ela leva para chegar a casa de todos. Ou seja. Na realidade se sente sozinha. Pois se não for aos “parentes e amigos”, viverá o afastamento.

Entendo o que ela fala. O morar em Brasília também é assim. Eu sempre vivi distante de meu núcleo familiar.

E ouvi-la contar sobre sua vida, longe da Zona Sul. De seus amigos locais. Das vizinhas, de sua luta com a saúde, das dificuldades de seu dia a dia

Tive o prazer de ajudá-la a criar um Blog. Vivendo a vid@, no silêncio...

Fala-me do vazio provocado pelo casamento de sua filha única.

Dali ligamos para a prima Nany. Queríamos vê-la e sua mãe, tia Zolita, que não esta bem de saúde.

Nany ia buscar um de seus filhos, então postergamos a ida e fomos atrás da prima Lúcia Rainho, que também morava na Barra, e que era nossa amiga de internet.

Chegamos sem avisar, rssss. Nem ao menos um telefonema, rssss. Mas foi ótima a ida.

Primeiro nos conhecemos.

Como era possível, falarmos de um mesmo passado, de uma mesma história de família, dos mesmos personagens sem ao menos sabermos nem da existência do outro.

Ela me emprestou um caderno de pesquisa do tio Alfredo Rainho, aonde ele apresenta o diário do Comendador Rainho, desde sua infância em Portugal, a vinda ao Brasil, e por aí adiante. Deu-me foto da casa de tio Chico, irmão do Comendador, retratada por ela em uma pintura.

Então de forma elegante e inteligente contou diversas histórias vividas junto à família. Ela é mais velha do que eu.

Desde como o Comendador andava. Morou com ele por um ano.

Citou que havia diferenças entre os familiares que já haviam falecido, brigas, mas que tudo era passado e que o importante era conseguir unir a família no presente.

Também acho, mas em outra ocasião quero saber o porquê das pessoas se afastarem.

Aprende-se com a experiência dos outros.

Presenteou-me com dois livros de sua filha Cintia Rainho Martin. Que li no mesmo dia no aeroporto, quando de meu regresso a Brasília.

Abriu a porta de um quarto e mostrou-me ao longe Cintia, dormindo. Ali não a vi. Mas em seus livros sim. Quero conhecer esta prima que fala com a dança e poesia. Que transpira vida.

Lúcia acompanhou-me e a Eliane até a beira da praia, aonde iríamos tomar ônibus.

Pelo caminho conversávamos sobre praticamente tudo. Era como se não quiséssemos que aquela prosa acabasse ali. No meio a sorrisos e ao papo, Eliane fala da limitação da falta de audição. E afirma que pretende se submeter a uma cirurgia experimental. Então Lúcia Rainho preocupada pelo fato de ser “experimental” a cirurgia, tenta dissuadi-la afirmando que é melhor deixar as coisas como estão, pois assim vivemos.

Então Eliane de forma emocionada, fala que seu SONHO é poder voltar a ouvir. Que ela adora música. E que coloca a caixa de som no ouvido para sentir as vibrações.

Não é a toa que seu blog é Vivendo a vid@, no silêncio...

Quero acompanhá-la neste projeto, neste desejo.

Eliane, você pode não ouvir como a maioria, mas você ouve o mais difícil, você ouve as entrelinhas, ouve o que é murmurado e não dito. Ouve a fala dos corações.

Corri tentando não me atrasar, pois retornaria naquela mesma noite para Brasília.

Foi o tempo de chegar em casa fechar a mala e conversar 20 minutinhos com meu pai. Contando as notícias de minha correria.

Ele vendo os dois livros de Cintia Rainho Martin, correu para sua escrivaninha e me presenteou com outro livro, de Cleonice Rainho.

Disse-me que havia chegado pelo correio, mas que não tinha idéia de quem seria.

O li e adorei. Ela fala singelidade humana e da paz.

Pesquisei na internet e conheci uma grande obra dela. Especializou-se depois em literatura infantil. Quero poder viajar em seus escritos e perguntar a Lúcia Rainho se conhece esta “parente” de Juiz de Fora.

Já no aeroporto, voltei a pensar no fato de Adriana Rainho não se lembrar de uma convivência gostosa de 3 meses, com muitas brincadeiras.

Depois me peguei percebendo que se eu não conseguia me lembrar de dois envelopes SUPER ESPECIAIS que havia criado e dado para meu pai guardar a 7 chaves,

como iria querer que ela, ou qualquer outra pessoa, se lembrasse de algo que foi importante para mim.

E por falar nos envelopes, eles continuam fechados e guardados.

Acho que abri-los será bisbilhotar um alguém que não sou mais eu.

Tentarei resgatar-me. O que me levou a um segredo tão grande.

Se não conseguir, que eles fiquem fechados.

Ah, gostei do fato de meu pai ter guardado-os fechadinhos como havia lhe pedido.

É bem dele isto.

Viver sua vida, sem que a curiosidade o disperse.

E os quatro dias de Rio se foram.

Voltarei, quero ver Zolita, Nany, e mais um pouco de mim.

Quero ter mais um pouquinho de tempo e conhecer Marta Rainho e seu irmão Alex. Também poder abraçar e papear noite adentro com Tânia Novais e Valéria, duas amigas de internet que já sinto como se da família também fossem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa Tarde,
Wolly,
Vc é um amigo mais persistente, vai até ao fundo cavar jóias valiosas.
Exs.: o ar de ipanema c/ a sua importância, como os álbuns de família (os encontros c/ primos) o desejo de alcançar a vida, amar a todos os que lhe rodeiam, sem medo de ficar só na saudade. Um abraço ao teu pai, uma criatura que fez vc sorrir novamente.

De sua eterna amiga,

Cris

Anônimo disse...

ROTEIRO DE VIAGEM

Dias de introspecção...
Para pensar,dizem.
Ouço.Sinto.
Passos das formigas,
asas de borboletas,
o coração do outro
a bater,vivo e tão distante...
Não só a imensa paz.
A me invadir,a grande alegria:
em algum lugar,distante
o coração do outro,
a bater,
vivo.


Estarei sempre aqui,POETA.Mesmo que não mais comente.
Desejo que VOCÊ seja feliz,W.