quinta-feira, 5 de maio de 2011

Falta de percepção

A mão esquerda continua dormente; perco um pouco da sensibilidade, no toque, nos movimentos finos, no rumo, na busca da melhor direção. Parece que os dias estão mais rápidos. Talvez seja a falta de percepção, de sensibilidade mesmo. Talvez a mão seja a ponta do aceberg do coração. Tudo passa, e o tudo parece muito. Muito mais do que eu. Evito discordar, respondo muito com sorrisos. Tento mostrar domínio do leme, mas o barco esta novamente sem direção. Chega um ponto, que não consigo mais, interpretar ternamente, o que esperam de mim. Deixo a desejar no ser pai, no ser filho, no ser amigo, no ser companheiro, no ser namorado, no ser ATOR do meu “eu”. Fico sem responder (minhas ou “suas”) perguntas, cartas, e-mails. Gosto e preciso falar dando as mãos, olhando nos olhos, completando idéias por inteiro. Não me venha com proposta de MSN, Orkut, Face Book ou frações de sentimentos. Quero amar, viver, tocar, pisar, sorrir e ir por aí. Existem vidas e mensagens nos caminhos. Eu só quero ir, para poder voltar e contar. Sabe o que é contar e ouvir???? É algo tão gostoso. Quero me lembrar dos desejos, ter um tempo sem tempo. Escolhi na vida, trabalhar sem as amarras dos horários, da presença obrigatória. Descobri uma forma de produção lúdica, aonde construo desejos e sonhos, perspectivas vontades e estímulos. Embaralho as tarefas, faço canastras de brincadeira, baixo o jogo, te deixando bater, e gargalhar com vida. Mas muitas vezes, ficam sem entender meu jogo. Ou acham que o jogo é outro. Ontem “Ovelha” fez 50 anos, depois de amanha será meu irmão. Muitos sorrisos e alegria coletiva. Mas queria poder falar com o olhar de alguns... Sabe, com a impossibilidade, faço isso de forma unilateral. Uso a noite e sua densidade. Descobri que reproduzo meu pai. Ele me conto e mostrou sua coleção de DVDs, afirmando que com seu “exílio” no apartamento, fazia dali algo para se alimentar. Faço o mesmo na madrugada, ouvindo meus shows, correndo, até alcançar o amanhecer. Então deito, e deitado misturo os mortos com os vivos, os do sul com os do norte, os que não se conhecem, mas juntos vivem em mim. E meio acordado, meio dormindo, venço a manha, à tarde e alcanço a outra noite. Acabo saboreando uma intensidade inexistente. Que alimenta e vicia. E quando o telefone toca, ou sou chamado aos berros pelos meus filhos, ou por minha mãe, levanto recompondo-me do flagrante da vontade de não retornar. E quando volto a estar só, choro de dor, pelo retorno pesado e “obrigatório”. O preço cobrado por um sonhar, em meio a cafunés é caro. É a individualidade. Hoje novamente corri de mim pelo dia inteiro. Depois de viajar por toda manha, de muitas reuniões, de pagar contas e contas, de estar na clínica, fui pro Conjunto Nacional, ainda perseguido pelo telefone. Então me escondi na Livraria Leitura, e entre as prateleiras encontrei-me com dois amigos, Beto Guedes e Elis. Juntos fiquei mais forte e viemos cá pra casa. Acho que agora estou melhor.

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