segunda-feira, 9 de maio de 2011

..ser ignorado, por ser invisível socialmente.

Outro dia uma amiga minha perguntou brincando,
"afinal, o que é que você não fez ainda?"
Respondi rindo, "realmente já fiz um pouquinho de quase tudo".
Certa vez, a organização que eu militava, Convergência Socialista,
traçando linha de atuação aqui em Brasília, decidiu que era fundamental inserir um quadro partidário, entre os rodoviários.
O escolhido fui eu, já que era o cara que dava acompanhamento político a 3 rodoviários que se aproximavam da corrente.Teria que fazer concurso público para ingressar na empresa de ônibus estatal daqui, a TCB.
Falei então, não se preocupem, é mole, nem preciso rever nada, nem estudar. Deixem comigo.
E lá fui eu, realizar a mutação para transformar-me em um "peão".
Fiz a prova escrita e depois o psicotécnico. Meus camaradas indagaram, "como foi?'. Respondi, "foi mole, acertei tudo".
Então veio o dia de checar o resultado. Tinha sido reprovado.
Mas como, era impossível. Tinha certeza do que fiz.
Não aceitei o resultado e fui questionar o que houve.
Uma psicóloga veio me explicar que tinha uma formação muito maior do que a exigida, cobrador; sendo assim a empresa não tinha interesse em contratar uma pessoa que certamente logo a abandonaria. Seria jogar fora o curso de formação deles.
Então de forma macia, expliquei que na realidade tinha plano de entrar na empresa com o objetivo de crescer. Que almejava vôos maiores. Então a muito custo ela me deu "uma" chance.
Tendo sido aprovado, claro que os 3 rodoviários queriam "bebemorar" comigo.
Ualllll, você não imagina. Eles andavam de birosca em birosca na rodoviária, tomando pinga e presidente. Nunca fui de beber, não gosto, nem cerveja tomo. No máximo um vinho, uma vez ou outra, desde que seja razoavelmente bom.
Depois do Tour, eles se foram, felizes. Eu, rsss, consegui me arrastar até a sede do partido, deitei no chão, no meio do salão, e apaguei, de porta aberta e tudo.
Pronto, era um rodoviário. Um cobrador.
Só que depois descobri que não cabia naquele espaço destinado aos cobradores. Toda vez que a roleta passava, batia em meu joelho, que já estava super sensível.
E aí veio a experiência tambem. A linha que fazia saia da rodoviária, passava pela UNB, universidade, e depois por uma avenida que atravessava diversas outras escolas e faculdades. Pessoas conhecidas passavam por mim, sem me perceber, apesar do tamanho, rssss. Estudantes que também faziam política jogavam o dinheiro em cima do balcãozinho e seguiam rindo e conversando.
Certa vez meu filho, Oliver, passou por mim, sem me ver, sentando e rindo com colegas. Daí gritou, "pai, o que é que você esta fazendo aí?". Explica, rsssss.
Aí percebi alguns "clientes" educados. Empregadas domesticas, porteiros, e outras pessoas mais humildes, falavam comigo. Era até paquerado, rssss. E aos poucos tornava-me figurinha certa naquela linha. Já tinha com quem falar, rir, me divertir. Era invisível socialmente para "meus amigos", mais visível para um outro setor que não conhecia. Até que acabou a greve da UNB e com a volta dos estudantes, encontrei diversos alunos "gringos". Então querendo ajudar, dava informação em inglês e espanhol. Pronto, a partir dali voltei a chamar atenção e fiz "novos velhos amigos".
Meu motorista espalhou na empresa que o cobrador dele falava até russo, rssss.
O presidente da TCB, era um grande empresário da cidade, com diversos prédios e salas de cinema. Coincidência da vida, era inquilino de uma loja dele, Tinha uma BANCA DE JORNAIS e a LIVRARIA LENINGRADO. O problema, é que já havia pago o aluguel diversas vezes com a presença dele no escritório. Conversando com ele e com seu filho em papos gostosos, filho que havia sido meu contemporâneo de escola e Judô.
Mas vestido de rodoviário, com uniforme azul, ele nunca me reconheceu. Falou comigo "algumas vezes", pois dei bastante trabalho a gestão dele, rsssss.
Logo fui eleito membro da CIPA. Ou seja, peguei estabilidade, rsss.
Por mais que me apresentasse como rodoviário, nunca consegui ser um. Só para você ter idéia, rola um comércio mafioso, de vale transporte. E é comum todo mundo entrar no esquema, pois rende uma grana maior do que o salário.
Eu me recusava a fazer parte, não por questão MORAL, de estar "roubando a empresa", mas porque não poderia fazer nada que colocasse meu emprego em jogo, pois minha função ali era organizar os trabalhadores e parar a cidade.
Foi o que fiz. Até hoje, sou reconhecido por alguns na rodoviária, como "o galego".

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