Estávamos em fase final da legalização do PT, na época, 1980, a lesgilação eleitoral exigia um número de filiados por zona eleitoral/municipal.
No meu caso, 18ª zona eleitoral do Rio de janeiro, teria que atingir a marca de quinhentas e poucas filiações, com título no bairro.
O tempo se esgotava, e meu “Pré Sal” eram as favelas do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo.
Tive que abandonar as filiações em praça pública, ou em prédios tipo cabeça de porco de Copacabana.
O ritmo a ser inserido no processo de legalização era outro. Não poderia mais achar um contato e ficar “proseando” com o intuito de “ganhar” o indivíduo para nossa causa.
O objetivo era de cumprir metas e prazos, porém havia um setor no partido que não aceitava esta forma de agir. Carminha, filha do ex-deputado pela Guanabara Sergio Magalhães, capitaneava este setor, com o apoio oportunista do MEP, Movimento Emancipação do Proletariado e da AP, Ação Popular, que na prática tinham o compromisso como nós de legalizar o partido, mas que sabiam que no futuro iriam precisar dos votos do setor independente e humanista do partido para nos enfrentar ( nós Convergência Socialista ).
Direcionamos então nosso trabalho para as favelas do bairro, aonde começamos o contato passando filmes junto a uma organização que se tornaria depois a associação dos moradores.
Fui eu que subi o morro e fiz o contato, logo fiquei conhecido e querido. Era chamado de Viking. Tinha acesso garantido, porém o resto do partido tinha que avisar quando iria subir em atividade, e esperar autorização.
O problema que tinha ali, é que após os mutirões de filiações, que eram feitos nos finais de semana, a gente só aproveitava ¼ das fichas, pois os títulos eram na sua enorme maioria de outros estados, ou de outros bairros/municípios do estado do Rio.
Houve uma vez que em uma ruela do Cantagalo legalizamos, ou seja, conseguimos o número necessário de filiações de uma cidadezinha do interior do Ceará.
Tínhamos uma máquina de escrever elétrica emprestada, e com ela passávamos a semana enchendo as fichas, que eram entregues ao TER em 3 vias.
De atrito em atrito, de semana em semana, íamos completando nossa dura tarefa.
Estávamos eufóricos pois naquele fim de semana iríamos atingir o número necessário de filiados, o que nos permitiria ajudar com nossos mutirões outros bairros.
Também estávamos de parabéns pois somente a 3ª zona ( a do Vladimir Palmeiras ) e a 16ª zona ( a do deputado José Eudes ) tinham atingido o número mínimo necessário até aquele momento.
Fomos então para a derradeira tarefa. O clima era de euforia e de dever cumprido.
Como sempre orientei e soltava os militantes sempre em duplas casais. Achava que dois homens poderiam ser mal interpretados e duas mulheres serem alvo sexual.
No final ficamos eu e a militante desafeto Carminha.
Pela primeira vez partimos para uma atividade juntos.
E como era de se esperar, discordávamos em cada bifurcação em que direção tomar, em cada barraco no filiar ou tomar o café com bolo e brincar com as crianças, enfim disputávamos o teor da atividade na prática.
Acabamos nos dirigindo para um lado do morro que ia em direção ao Pavãozinho. Tudo já meio ermo. Derepente nos vimos cercados por uma matilha de cachorros, que do nada atacaram.
Estávamos sobre uma grande pedra, sem mato ou arvores. Qualquer descuido era queda, era a morte.
Carminha se desesperou, chamei a atenção dos animais que partiram em minha direção e a deixei caída, porém bem. Consegui me livrar dos mesmo pouco tempo depois com pedras e a aproximação de uns meninos.
Voltei a Carminha preocupado, ela tinha torcido a perna, então achamos melhor não retornar por onde tínhamos vindo.
Apesar do local ser muito íngreme e arriscado, sem corrimão e com os degraus entalhados na rocha, decidimos descer por ali.
Na descida Carminha se apoiou em mim, me dando a mão, me abraçando, se escorando.
Fui tomado por uma sensação de calor profundo.
Algo que na pratica não tentei entender.
Mas estava separado a um ano, e para não pensar muito no que acontecera, me joguei de cabeça na questão da legalização partidária.
Achei que tinha deixado de ”lado” os sentimentos e desejos.
Fomos a segunda dupla a chegar a barraca ao pé do morro.
E o espírito era o de vitória. Todos chegavam felizes dizendo que tinham superado as expectativas e que estávamos com a legalização em fichas sobre a mesa.
Muitos sorrisos, abraços cumplicidade no grupo.
Fomos a uma pizzaria, beber a vitória, gole a gole.
Foi uma festa.
De lá Carminha me convidou para ir a sua casa, no Leme, checar e separar as fichas, com um outro casal amigo.
Fui, sem perceber direito o que fazia. Sentia prazer pela primeira vez em ficar ao lado daquela DEUSA, que todos sempre desejaram e comentaram.
Depois de muito separar, trabalhar, rir, organizar, comentar e se conhecer, estava na hora de encerrar a atividade.
O casal perguntou se podia dormir no quarto vazio, e foi.
Com a simplicidade que a era peculiar, me convidou a deitar de forma carinhosa, oferecendo sua cama.
Meio que me desesperei, e logo corri pra sala e afirmei que não poderia deitar em sua cama sujo como estava. Deitei em um canto, dando o caso por encerrado.
Depois de alguma discordância, ela aceitou, foi a cozinha bebeu mais um copo d’água e se deitou a meu lado.
Senti um calafrio, forte, meu corpo tremia como se tivesse tido um choque térmico monstruoso, tinha até dificuldade de falar e me mecher.
Ela assustada pediu socorro ao casal, que sem entender nada me cobriram com “n” cobertores.
Ela foi fazer um chá, eles me levaram para a cama dela, colocaram meia no meu pé
( realmente estava sujo ), e aos poucos fui melhorando, do medo de me permitir.
Mil beijos e carícias comemoraram a legalização da zonal.
Vivi um forte momento em minha vida nos dois anos que se seguiram.
A bebida e as drogas nos afastaram.
Infelizmente após o período de legalização as tarefas partidárias mudaram, eu e Carminha tomamos outros rumos.
A revi depois de 30 anos. Esta com um filho, um belo menino e bem.
Infelizmente perdi seu contato.
Felizmente rompi com o PT.
domingo, 30 de novembro de 2008
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