Silvia me disse:
“Por certo ela ( Vó Roma ) e Vó Inês eram irreverentes à época, só que por minha vó viver no interior sofreu muito preconceito de todos, porém os melhores anos de sua vida conforme ela mesmo contava foi no Rio na compainha de Tia Roma, que eu tive o prazer de conhecer, ver de perto sua sabedoria. Minha Vó Inês ao final da vida ficou amarga, mas eu aprendi a amá-la e compreendê-la.”
Agora estou com um pouco mais de tempo, e vou contar um pouco da Tia avó Inês e de minha avó, Roma.
A conheci no Rio é claro, afinal fui criado na primeira infância lá.
Sempre foi uma figura imponente, com opiniões formadas, agitado, a procura, sempre falando de um futuro em construção, com muitos planos, a idéia da idade parece nunca a ter atingido.
Foi com ela que conheci o lado místico da vida.
Já havia visto em filmes cartomantes e suas cartas, mas derepente na sala da casa de minha avó, se montava “algo” aonde se podia falar do futuro, dos sonhos, dos desejos secretos, dos medos e aflições.
Sua avó mudava o clima da casa, a cada carta, a cada olhar um novo suspense.
Havia momentos em que ela pedia que uns saíssem da sala.
Inês era muito sensível, experiente, e sabia controlar a cena.
Tinha vontade de experimentar também a sorte, tentar ouvir coisas boas e interessantes, coisas duvidosas, mas não tinha coragem de pedir, afinal de contas era um menino.
Como do nada, ou como quem lesse meus pensamentos ela falou que tinha chegado minha vez.
Foi ótimo. Tudo que foi dito caia como verdade absoluta.
No dia a dia “Vó Inês” era doce comigo. Sempre me chamava para sentar no braço da poltrona, e ficava me dengando em carinhos. Nós, os “netos” fazíamos a fila dos carinhos. Eu, Anne e Chris disputávamos os cafunés quase no tapa.
Isto mostrava um lado afetivo e de muito dengo dela. Eu como quase filho de gato, que adoro ficar me esfregando e reesfregando era companhia certa
Certa vez ela ficou sem dinheiro.
Então a noite conseguimos depois de muito custo, completar uma ligação para Belmonte.
Na época interurbano era o chique, rs.
Falamos com Alberto, seu filho, que se comprometeu em fazer uma transferência para o Banco Econômico de Ipanema.
Não me lembro, mas acho que foram três dias depois, nos preparamos para ir ao Banco.
Eu e Vó Inês.
Sentamos na mesa da gerencia, aonde fomos finamente atendidos.
Ela logo disse que seu filho Alberto tinha lhe enviado um dinheiro para , tal e tal coisa..
Prontamente o gerente pediu a confirmação da transferência e para agilizar o processo solicitou os documentos particulares de identificação.
Já haviam nos servido água e café, e o papo estava de primeira.
Foi quando “tia Inês” em um golpe rápido, sentindo dificuldade de encontrar seus documentos, levantou-se e pegou sua bolsa ( de tamanho bem razoável, quase uma sacola, rs) e despejou todo seu conteúdo sobre a mesa da gerencia.
Como um gato, o gerente salta para trás, e Inês se ajoelha ao chão comigo, olhando para o assustado gerente e afirmando que agora ela achava o que queria.
Tinha de tudo em tudo que é lugar nas proximidades, rs.
Até sobre a mesa.
Fingindo naturalidade, e saindo pela esquerda de forma escorregadia, nos desejou sorte e ainda nos mandou ficar a vontade.
Morri de rir, ficar a vontade, só se aproveitássemos para dar um cochilo, ou usar sua mesa para uma outra coisa.
Rapidamente o dinheiro apareceu, e o gerente sumiu, rs.
Com o charme de sempre, saímos e fomos lanchar.
Sinto falta de todos.
De minha avó Roma, de tia Inês, da Baba ( Vininha ) e de tia Estelita, minha bisavó e a sua, nem sei se você as conheceu.
Mas todas tinham suas istórias, e eu conheço algumas.
Amargura, talvez por solidão, mas acho que elas foram felizes. Tiveram como todos nós suas contradições, mas....quem não as tem.
Um fato talvez você não tenha reparado. Elas encerraram suas gerações. Foram as últimas a falecer.
Vamos nos rever prima.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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