domingo, 21 de dezembro de 2008

Um Ateu abençoado pelo Papa

Coisas para rir e contar.
Outro dia conversando com minha filhota Barbara, 15 anos, sobre religião, informei-lhe que apesar de ser ateu, era abençoado pelo Vaticano e por Deus. Coisa que ela não conseguiu atingir, apesar de suas inúmeras incursões a igrejas e templos religiosos.
Questionando-me, amaldiçoou-me por brincar com Deus e sua fé.
Então fui ao passado, buscar fatos não tão remotos.
Meu bisavô Almachio Diniz, intelectual Baiano, jurista, sociológico crítico literário, ficcionista, pouco lembrado agora, mas de muita projeção nos primeiros decênios do século passado, um dos dois grandes obreiros da Cultura Jurídica do Brasil, possui uma obra erudita e esclarecedora sob vários aspectos, atingindo quase 200 (duzentas) publicações.
Sua colaboração na imprensa, sua atuação política de vanguarda e de inconformismo, contra o regime de exceção de Arthur Bernardes (estado de sítio), aonde foi preso em casa por duas vezes, sendo que na segunda se recusou a se vestir, e foi levado de pijama aos quartéis do estado. Quando solto, após revolta e manifestações da sociedade e de estudantes, retornou para casa a pé, de pijamas, cruzando o centro da cidade, explicando a todos a arbritariedade por que tinha passado, e arrastando atrás de si uma enorme legião de ativistas. Estas e outras o fizeram um ícone entre os intelectuais brasileiros e mundiais .
Foi um dos apoiadores de Emile Zola, seu amigo pessoal, na luta internacional contra as injustiças e prisão do major Dreifos ( judeu )
Conta-se que nunca reprovou um aluno, pois afirmava que quem reprova é a vida, não ele.
Foi indicado duas vezes a Academia Brasileira de Letras, por intelectuais do porte de Silvio Romero, Coelho Neto, Ruy Barbosa entre outros.
Seu nome foi recusado nas duas vezes, por ter escrito um romance chamado “A carne de Jesus”, aonde citava um relacionamento amoroso entre Jesus e Madalena.
Livro este proibido e recolhido pelo Estado Brasileiro, a pedido da Santa Igreja Católica.
Por este livro, o Papa da época, Pio XI, o excomungou e a três gerações depois dele ( olha o ódio, rs )
Desta forma, eu Wellingtinho, 51 anos, já nasci excomungado, rs.
Mas meu outro Bisavô, Comendador José Rainho da Silva Carneiro, católico fervoroso, ficou incomodado e em cócegas com aquilo.
Como sua bela e tradicional família, fiel a doutrina católica poderia ficar pagâ de uma hora para outra.
Seus netos ( meu querido pai, entre outros, rs ) etc, etc, etc.
Foi dada a partida da negociação.
Procurado, o Arcebispo do Rio de Janeiro logo negociou com o Vaticano a Benção do Santo Papa para a família do Comendador e de três gerações após a sua também.
Neste caso, antes de nascer eu já havia sido excomungado e abençoado pelo mesmo Papa, rs.
Assim posso curtir junto a minha filhota o fato de ter a benção da Igreja, mesmo sendo um Ateu.

7 comentários:

Anônimo disse...

Então foi daí que nasceu sua sagacidade.
Realmente a Igreja Católica é ríducula, pois se acha dona de todos nós.Crioumuitos dogmas e pior quer que todosas aceitem como verdades absolutas.
Antes um Ateu consciente que um crente fanático.
Eu já fui um pouco "atoa" rrssss!Mas com o tempo e as tempestades da vida fui me tornando Espirita.

Valéria Lisbôa disse...

Olha só que curioso! Resolvi seguir o "lápis" que estava no e-mail e caí aqui! Bem diz o ditado inglês, "The curiosity dead the cat"!
Como disse na resposta ao seu e-mail,"verbis":
"Sobre Almachio, acredite, seus feitos me foram narrados pelo Prof.
Fernando Mendonça ( D. Comercial ), cujos avcs somente atingiram sua
mobilidade e não sua capacidade de memória e intelectual. Ele contou
o fato do trajeto de pijamas, lembro-me bem...
Narrou a história em minúcias e falou do dito livro de aspectos exageradamente sensuais.
Só não recordo sobre a extensão aos descendentes. Mas não há
problema, já que o Comendador resolveu esta querela!"
Sua narrativa é envolvente, deveria fazê-lo mais seriamente. Gosto dessa forma quase "Veríssima" na escrita... Posso mandar um beijo?
Me convide mais vezes se quiser e puder. Me agradaria muito comentar seus textos.

Wellington Rainho disse...

Legal a história, coisa de biografia autorizada rsrsrsrs, mas eu gostei mesmo sabe do que foi? Da impaciência que acomete a todo cara genial....o seu bisavô, o Almachio Diniz...tá na cara que ele era um inconformado e também um rebelde na época....E mais uma vez a igreja católica atrapalhando a vida das pessoas, do povo e da humanidade....
Fiquei com uma certa inveja...queria também ter nascido excomungada....quem sabe é uma questão de tempo né? hehehehe
obrigada por compartilhar comigo suas histórias.
TVB

Wellington Rainho disse...

Fala sério... que coisa mais chique. Pensa bem... até pra ser excomungado você precisa ser alguém... pra ser abençoado então... nem se fala... kkk

Você é a figura!

Beijos
Tania_tamaroli

Wellington Rainho disse...

Diga à sua filhota que você tem um amigo católico e trotskysta...Conte-lhe (se tiver coragem hehehe) que não fui aceito na OSI devido à minha ligação com a Igreja Católica. Conte também que fui excluído desta mesma Igreja por ser comunista e gay (mas diga-lhe como setores da Igreja foram importantes para os movimentos sociais da AL).



Mas continue contando que este seu amigo hoje tenta se reaproximar da Igreja através de um projeto que tenta viabilizar as identidades gay e católico. Peça que visite nosso site: www.diversidadecatolica.com.br.



Mas o principal é dizer a ela que - parafraseando Niemeyer e inspirado no pp Jesus - o essencial não são as religiões, os sacramentos etc. O essencial é a prática amorosa, as relações individuais que travamos com cada amigo, com os animais que encontramos, com aquele raio de Sol que nos toca, com cada pessoa que encontramos.



Conte-lhe que conheço poucos religiosos que vivam tão plenamente a prática do amor como o pai dela. Aquele mesmo que é excomungado e abençoado pelo Papa.



Um beijo, com amor



Arnaldo Adnet

O marmiteiro disse...

Companheiro Wellington Rainho, estou degustando o seu blog. És um iluminado, as imagens desse ocorrido me fez entrar na história me sentindo um dos personagens que seguiam seu avô de pijama pelas vielas de Salvador, gritando: Abaixo a repressão!... viva gregório de matos!! Padres, freiras e politicos são corruptos!!!!
Nada contra, pois tenho uma tia freira da ordem de São José, filosofa Irmã Valquiria lá na capital do pia u i e um tio que congregou na ordem lassalista também filósofo professor Antonio lino Rodrigues de sá. e o barato de tudo isso é quando nos tornamos saudosistas e relembramos fatos que são importantes no nosso existir. quando se fala de familia e sua diversidade democratica. Meu pai por ex,foi coroinha quase virou padre Raimundo Sá, uma outra tia ja desencarnada , mora hoje na pátria espiritual era também espirita. No ano do seu desencarne era coordenadora do curso de geografia na UFPI prof Socorro Sá e assim se faz o mundo de teorias, conceitos e práticas. somos todos filhos da Luz. somos bons, complexos, somos UMANO. um abração saudades

Marcelo Caland de Sá

Ana Viola disse...

Wellington,
estou fazendo a fotobiografia de Afrânio Coutinho, cujo avô Romualdo dos Santos, dono da Livraria Catilina, foi o editor do livro "A carne de Jesus", escrito por seu bisavô. Como vou citá-lo, recolhi algumas informações, mas gostaria de ter outras. E como você é da família poderia completar o quadro, sendo que receberia os créditos. Se você puder entrar em contato o meu email é: anahviola@gmail.com
Agradeço antecipadamente.