A claridade me acordou. Estava sonhando, eram duas pessoas, em quartos separados, me pedindo para entrar em uma cozinha.
Levantei então. Aos poucos fui percebendo que as senhoras eram minha avó, Roma, e Odelita, meia prima, meia tia, meia vó, meia família.
Não acordei com fome, nem elas eram de comer muito.
Fui me ligando, tentando resgatar do subconsciente mais dados.
Percebi depois que a cozinha era de um clube, da Asefe. Elas nunca foram a este clube, rssss.
Mas retornei a Odelita, voltei no tempo.
Lembro-me de um domingo à tarde em que meu avô colocou os cinco netos a desenhar.
Distribuiu papel e ofertou alguns lápis de cor.
Esta era uma estratégia boa, pois ficávamos calados, querendo todos dar o melhor de si. Anne, a mais velha, sempre detinha a melhor pintura.
Todos corríamos, copiando seu estilo, e tentando alcançá-la.
Estava desenhando uma casa, num gramado, uma árvore, com um belo sol e nuvens. Nada menos criativo, rsssss.
No meio da coloração Anne deu um ataque de que nós, os outros, estávamos usando seu conjunto de lápis de cor.
Correu de forma autoritária e recolheu os lápis.
Aquilo criou um rolo danado, com choro, lágrimas, etc.
Logo meu vô Zezinho correu nos trouxe outros lápis.
Chris, Wayman e Eliane logo se satisfizeram.
Continuei a chorar, de forma mais aguda, pois a tonalidade das cores não eram as mesmas.
E tinha a noção de que em uma pintura, como a de Anne, os contornos e as cores teriam que ser bem definidas e homogenias.
Chorava convulsivamente, como se o mundo tivesse acabado. Ninguém era capaz de acabar com tanta tristeza.
Depois de todos tentarem, e desistirem de mim, Odelita se aproximou. Estava já com o rosto inchado. Tentou abrir um diálogo. Não aceitei. Então de forma didática pegou meu desenho e com traços e cores foi me proporcionando a sensação de que as cores e as formas exatas não tinham importância. O conteúdo de uma pintura estava no conjunto, na sensação da forma que era criada. Que nas sombras, nas variantes dos traços e de tonalidade se encontrava o que se queria. Que dali surgia o vivo, nascia o diálogo, brotava a vida.
Aos poucos tomei um lápis, dei os primeiros traços, cores, perdi-me no papel, pois todos os lápis eram divinos, mágicos, únicos.
Ela se afastou sem nada dizer.
Não precisava mais desenhar o relógio da sala, ou copiar paisagens.
Bastava me soltar, e deixar rolar.
Nunca mais disputei com Anne ou com mais ninguém.
Afinal, Odelita me ensinou.
Odelita me inspirou, na vida.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
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4 comentários:
Magnífica mulher essa Odelita!
Encantadora, didática e de ampla visão artística!
Se não fosse olhares como os dela, grandes expoentes não existiriam... Uma mulher de visão, que também ensinou ao menino os caminhos da inspiração!
Lindo demais!
Christiane disse:
Tb me veio a lembrança da Dedelita como a chamava, cantando músicas
em espanhol para as crianças e tb em outras linguas...........era poliglota!
Ela tb adorava dançar e famoso o "ponche" que ela fazia pro Natal.
Mas a lembrança mais forte fica pelos almoços de domingo ...farra geral e
tb a cobertura que a Marreca(Maria) dava a todos prá surtar da praia, tomar
aquele banho rápido antes que nos pegassem e nos botassem de castigo....
e a comidinha guardada no forno, que a gente devorava, uma delícia macarronada de frango.
O melhor que fica de todos nós, são as boas e eternas lembranças.
É só marcar, armar, agitar que eu topo.
Bjs saudosos de tudo o que ficou.
Chris
Eliane disse:
Boas lembranças não se apagam nunca, neh!
Eu adorava qdo Zezinho me presenteava com aquelas sacolinhas da feira do livro, cheia d livrinhos...
Meu gosto pela leitura devo mto a esse meu avó,
q adorava contar "causos" , isso qdo não pegava um livro para ler um trecho
e depois me explicar o q o autor quiz dizer ou mesmo divagar ... fantasiar...
me fazer sonhar acordada...hehe
Hey gente ..ta na hora da gente armar algo tds nós juntos
como nos tempos d criança....
q tal um almoço...
Vamos tentar
Bjus p tds com carinho
Eliane/Pelika
Anne disse:
Oi Well td bem?
Que sonho lindo vc teve.
Tão cheio de significados.
Me bateu uma saudade daquele nosso tempo.......
Estou trabalhando mês jan na Cehab (Companhia Estadual da Habitação),
provisório, no lugar de uma pessoa em férias.
Só tenho arranjado trabalho temporário através da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos).
Assim, vou indo, melhor q nada;
quem sabe, mais adiante consigo definitivo.
Espero q tds estejam bem e,
principalmente vc de saúde.
Bjs em tds.
ANNE
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