Vivo uma melancolia crônica. Faz parte da minha vida, da minha
doença, do meu meio show de improviso.
Muitos não veem, não percebem; é que os olhos são “pequenos” em meio
a tudo, a um corpo, ao desejo que se pode enxergar. Aí passa batido, a solitária
lágrima, o pequeno soluço, o olhar de socorro...
Aí tentei o inverso. Tornei-me reflexo de mim, aparentando quem nada
quer, quem tudo pode, resolve, descobre. Quem desrespeita a razão, a lógica,
quem “não tem” preço, ou apreço pessoal.
Descobri com o tempo de terapia, que meus desequilíbrios sempre
foram motivo de “exaltação e qualidade” para os outros.
Meu não dormir, permitia mais trabalho, mais produção, num horário
sempre mais alongado, mais espichado, em dias de cansaço, sem fim.
Minha inquietude, sempre me fez aceitar e carregar tarefas dos
outros, como se fossem minhas, numa agenda interminável, e “exaltante”, aonde o
prazer nunca passou perto. Aonde a “ajuda” era obrigação, invisível.
O ser “poeta”, ultrapassou a escrita tornando-se um personagem, uma
outra pessoa, que fala de alegrias desejadas, prazeres não vividos, de
princesas longínquas, de amores e encontros, de vinhos e cafés, que habitam um
querer comum.
O que existe, é um gato borralheiro, que lava, passa, cozinha,
dirige, corre, paga contas e sonha com as festas da revolução, com a queda do
regime, com outro mundo possível... Existe um ser só. Num mundo próprio.
Uma pessoa que passa sem ser notado. Que é um telefone agendado,
para se trocar uma lâmpada, para se legalizar um documento, para se justificar
e arrumar algumas pendências.
Alguém para se ser encontrar no facebook, e trocar mensagens.
Para se deixar os “netos” no final de semana, porque ser pai, virou
ser motorista, ser offboy.
Mal sabem que faço deste encontro com meus netos, mágica, um caminho
interplanetário, sem regras ou réguas, um mundo de curvas...
Carrego as contradições
de uma vida, de um abandono, de grandes saudades, de escolhas “de coração”.
Hoje já sei o que seria
o equilíbrio, mas como sempre me dei por demais, talvez querendo receber um
pouco em troca, simplesmente vivo o sintoma da doença.
Desde o câncer, o poeta
é bem presente. Fala o que não falo, porém em um outro lugar, diferente do que
vivo. Um lugar virtual.
Nunca tive muitos
espaços para mim. Chego a me assustar com o desejo, com o homem que sobrevive,
e quer continuar desejando, procurando um grande amor.
Dar ao wellington
poesia, e ao poeta uma história de vida, é a busca.
Procuro um porto para
atracar, viajo a muito tempo, Preciso avistar terra firme, e chegar. Ser parte,
ter um lugar.
Navego como um viking,
fora de seu tempo, no vazio do mar. Talvez aí a explicação de sempre falar
sozinho.
Esta tristeza, vem e
vai, em espumas, numa sensação de euforia e infelicidade, numa crise extrema de
bipolaridade.
Procuro novos rumos,
senão morro em mim; corro em mim, pois já aprendi, que na vida, nem os “ATRASOS”
costumam esperar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário