segunda-feira, 25 de abril de 2011

Era uma vez...a bipolaridade

Ella era nova, casada bonita, com dois filhos saudáveis e bonitos, com emprego estável. Tinha um BOM marido, funcionário público, bom pai, com uma bela posição social, o que lhe proporcionava ter um apartamento próprio, carro novo para cada um, filhos estudando em boa escola, particular, boas roupas, conforto, enfim, uma vida equilibrada, como “mar de Almirante”.

Tinha muitas amigas, uma vida social intensa, ajudava uma creche, e fazia parte da Associação de Pais e Mestres da escola de seus filhos. Nos finais de semana sempre preparava grandes e fartos almoços, aonde recebia a família e amigos.

Tinha férias sempre programadas e álbuns eternizando a “felicidade” em muitas fotos. Enfim, um exemplo...

 

Então veio transferido um dinâmico funcionário (Big Boss) para dirigir seu departamento na empresa.

Nem era tão atraente assim, mas detinha um carisma muito grande, pela atenção e preocupação que tinha com todos.

Arrumava tempo, para ouvir um a um, e colocava-se, de forma prestativa, sobre o que ouvia. Era engraçado, meio poético, brincava e coordenava o departamento com uma maestria impar. Os resultados comerciais mostravam a motivação e a camaradagem do grupo.

E como premio, realizava almoços, jantares dançantes e saídas para Happy Hour, aonde sempre declamava poesias.

O novo Boss era tudo de bom.

 

Ella como os outros se motivava com as atividades, pois fugia daquela vida feliz e programada que tinha.

Se preocupava com as mínimas coisas. Certa vez precisando tomar uma decisão, chamou Ella para uma caminhada, aonde trocaram impressões e decidiram que caminho profissional tomar. Da caminhada foram almoçar, e a partir daí, ficaram mais íntimos.

 

Ella adorava sua atenção, seus telefonemas, seus e-mails com belas poesias e colocações, querendo saber se estava bem, sobre as crianças, do que tinha almoçado, o que queria lanchar, etc.

E a aproximação foi se estreitando, agendaram cinema, mais almoços, mais jantares, recheados de atenção, novos e-mails, telefonemas, declarações e pequenos e singelos toques.

 

Daí para ficarem juntos foi um passo. Ella em primeiro momento se culpou. Como poderia fazer aquilo. Afinal era casada e bem casada. E não se propunha a procurar aventuras para a vida. Mas a atenção, os telefonemas, os passeios, a vida intensa e cheia de novidades e programas a envolvia. Vivia a história de cada filme, nas ponderações, na fotografia, nas vestimentas... Nada se perdia, a intensidade reinava.

 

Era aquele ritmo que Ella queria. Queria ouvir e sentir diariamente que era amada. Que era desejada, vista e observada. Queria dançar, bailar, sentir-se leve diante do ritmo da vida. Perceber que tinha alguém com ela, para falar da lua, para dar risada, para ouvir besteiras, parta simplesmente fazer nada juntos.

 

E paralelo a isto, em sua casa, tudo estava no mesmo ritmo. Tudo funcionava perfeitamente, nem percebiam a diminuição de sua permanência. Casa limpa, roupa lavada, almoços de domingo. Tudo funcionava. Todos eram felizes com aquela rotina.

Todos menos Ella.

A  partir dali, percebeu que era possível viver intensamente, mesmo depois de ser adolescente. Que os beijos, não eram forma de cumprimento entre casais, mas demonstração de desejo.

Que cada banho pode ser um jogo erótico. Que em cada fala, se deseja, e se tem prazer com o olhar.

Que o esbarrar propositadamente em público pode ser prazeroso. Que lugar e hora de fazer amor, é em todo lugar.

 

Big Boss, começou a achar pouco os momentos que ficavam juntos. E pedia, e queria mais. Chamava Ella a assumir seu relacionamento com ele. A queria 100%. Convocava-a  ser por inteira. A dizer a todos e em alta voz, o quanto eram felizes, o quanto se desejavam e se amavam. Que Ella não fazia falta na família oficial. Que eles também seriam felizes.

 

E aquela contradição foi aumentando, aumentando até que Ella resolveu viver e resolver a vida. Chamou seu marido em um primeiro momento, e contou que não era aquilo que queria para si. Que não era nada com ele, mas com ela, que simplesmente descobriu que poderia viver de outra maneira e ser feliz. E perguntou se ele poderia ficar com as crianças.

Daí foram ao segundo passo, e contaram as crianças sobre a decisão da separação. Seu marido ficou chocado, mas aceitou a decisão. Afinal Ella se mostrava decidida, e nada tinha a fazer.

 

Então foram viver o sonho. Finalmente poderiam colocar o amor que sentiam como parte do mundo. Andar pelo calçadão de mãos dadas. Escorregar pela vida, lambuzar-se de prazer, brincando de ser feliz.

Os dois eram sinceros, os dois eram..., não tinham medo do mundo.

Uma semana depois, o Big Boss, não levantou. Chorava compulsivamente. Ella sem entender, perguntava o que era. Mas nada, queria ficar sozinho, sem levantar, sem comer, sem falar, no escuro do quarto.

Ella super preocupada e sem nada entender procurou por ajuda, e chegou a um médico, que logo encaminhou-o a um tratamento psiquiátrico.

Era depressão profunda.

O Big Boss, saia da fase de excitação e entrava na crise de depressão. Era bipolar.

O grande amor, a grande atenção, o excesso de carinho, a imensidão de dengo, o universo de desejo, era parte da bipolaridade.

Parte de um ser inteiro.

Agora existia um homem que se recusava a sair, que buscava e priorizava o isolamento, o silencio, que tinha medo do mundo e da vida. Que vivia seu próprio umbigo, sem “prazo” para mudar, sem prazo de validade para a paixão a dois.

Ella se sentiu enganada, ludibriada, por tanta sinceridade.

 

Ella e Big Boss, podem ser qualquer um de nós. Podemos programar com exatidão muitas coisas. Mas a totalidade delas não.

Cada um tem seu momento.

A dor e a alegria é singular.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bipolar é uma situação deturpada, entre altos e baixos.

Felicidade e infelicidade.

Alegria e tristeza.

A solidão é bipolaridade.


Cris


= )

Anônimo disse...

O Amigo tentou mostrar ao Outro um caminho.O Outro não viu.
Talvez para facilitar-lhe a caminhada;talvez para despedir-se em paz,dizer-lhe:agora podes conti-
nuar, sozinho.Mas o Outro não viu.
É como fosse sempre um "ensaio para a cegueira"*...Ti-
ve pena de quem não consegue enxer-
gar o verde.Prefiro,até,o azul.Mas
tive,sempre,pena de quem não consegue enxergar o verde.(* Título de obra de José Saramago)

ABRAÇO,Wellington.