Decidi parar de ir à Clínica, apesar de me sentir bem lá. Deixar a terapia por um tempo. Tentar voltar a testar meus reflexos, Afinal é como vivesse uma vida dupla. Em um lugar posso falar dos meus medos, ficar de olhos fechados, somente ouvindo a vida. Pois lá, não preciso fingir que tenho desejo, posso mostrar o cansaço que sinto
Fora da Clínica, acelero. Realmente torno-me elétrico, mas não quero me internar por isto. Deve haver uma forma de viver, tendo estas características. Vou refazer a experiência. Respeitando e continuando a tomar os remédios.... , tentando criar e respeitar horários, ter uma rotina. Realmente sinto falta disto. Dos apoios e segurança que uma rotina cria.
Minha realidade, minha experiência, traz-me lembranças, de um ser sem controle. Que acelera, acelera, na tentativa de resolver, de mostrar que tudo é fácil, possível e real. Um ser que opta, sem perceber percebendo, em viver o sonho do outro. Que não enxerga tempo e espaço para tatear suas vontades. E que hoje, desistiu de sua vida e optou em viver a vida de seus filhos e netos. Porque se não fizer isto, não terá estrutura de amanhecer.
Não percebo mais o amanhecer. Perdi esta parte do dia. Era excitante esperar pelo sol, Dar bom dia a vida, Desfrutar das cortinas de cores que se abrem, pincelando o horizonte, para o astro rei. Ouvir as trombetas dos pássaros, anunciando um novo dia. Ser acariciado pela claridade. Sentir o renovar da vida.
Hoje, nada me faz levantar. Não tem despertador, compromisso, promessa... Não tem cores, música nem poesia. A cama me engole. A vontade de continuar, mais um poucão deitado, mesmo que tente falar, “levanta cara”, não me move. É que vivo uma “vida” naquele limbo, que não é sonho, nem realidade. É como passar a limpo o que foi vivido, ou o que não foi. É aonde falo o que nunca tive coragem de falar. É aonde faço o que nunca tive coragem de fazer. É uma vida pegajosa, aos lençóis, a fuga.
Breno novamente grudou
Sua mãe ao optar por "redescobrir" a vida, ignora que isto pode ser feito, sem romper a relação com os filhos. As crianças sentem, a sensação do abandono, da troca... Então me procuram, cada vez mais. Cristalizo a posição de pai e mãe. Acho prazeroso poder ajudar a suprir esta necessidade, apesar do medo que sinto. O peso do papel é real. Eles não percebem. Acham que sou "somente" pai. Totalmente pai. Que nasci para isto. Barbara me confessou o quanto se sente segura a meu lado. Quer até que viaje com ela e o marido. Um dia me disse que quer que eu more com ela. PRA SEMPRE. Ai, é tão difícil dizer pra ela que nada é pra sempre. Que eu vou falhar. Ontem almocei com Oliver e Breno. Eles adoraram. Acham que tudo podem a meu lado. São meninos grandes, como eu.
A noite chega, e fico, observando o telefone, esperando um grito de "pai"!!!!!!!!!!!! Jogo paciência, escrevo, observo e espero por um e-mail, de um alguém, que nunca chega. Tomo os remédios, tento segurar a onda, solto o choro, sinto o descer das lágrimas, o gelar dos pés, das mãos, do corpo. Observo a cama como à opção que me resta. Converso com a morte, que me apresenta outra opção de sono. Reluto com a fronteira do abismo. Desequilibro-me....
Os cachorros latem, a televisão fala em outra língua, nada entendo. Sabia que o hoje seria comprido, então comprei sorvete de chocolate. Mas nem o chocolate adoçou minha vida. Não atendi os celulares, deletei as mensagens sem lê-las. Não seria capaz de suportar mais informações. Os pés e a alma estão totalmente gelados. Vou lavar a louça, varrer as varandas, arrumar a casa.