quinta-feira, 12 de março de 2009

Um ano solteiro, na Rodolfo Dantas em Copacabana

Tinha me separado de Vera, mudado para o Rio, e ido morar só.
Tentar ter esta rica “experiência” de um homem maduro e separado.
Tempo de Sarney no poder.....opssssssssssss, xiiiiiiii, ele nunca saiu na verdade, olha a Presidência do Senado aiiiiiiiiiiiiií.

1ª Parte: A casa....as lojas.

Comprei um jogo de sala de vime, leve e bonito.
Uma boa cama de casal, fogão, geladeira, liquidificador....
Duas camas de solteiro para o outro quarto, mantendo viva a perspectiva da visita das crianças.
Minha avó me deu algumas panelas e apetrechos de cozinha,
bem como roupa de cama.
Ainda assim comprei mais alguma coisa.
Televisão, vídeo e som, trouxe de minha loja.
Logo que cheguei ao Rio abri duas lojas, a primeira na Tijuca, a outra no Shopping de Campo Grande ( do Amarelinho ), de Foto, Vídeo e Som.
Além de venda, trabalhava com sonorização e iluminação.
A distancia entre meu apartamento, as lojas e a casa de minha avó (Ipanema), consumiam quase que todo o tempo do dia só em deslocamento.
Diariamente, na madrugada, lavava minha roupa no tanque, para não deixar acumular.
Acabou que fiz amizade de “lavadeira” com a empregada do apartamento de fundos do nono andar, eu morava no oitavo. Era quase sagrado o papo e considerações sobre a vida destes dois “morcegos” da lua urbana.

2ª Parte: O sair

Praticamente tomava café somente no bar que ficava embaixo de meu prédio. Era mais rápido e prático.
Ali sabia os resultados dos jogos de futebol e as primeiras notícias do dia e as confusões da rua, rsssssssssss.
Este bar não fechava.
Servia café, almoço e janta. Na madrugada, o fundo era aberto, aonde rolava muita música e dança.
O pessoal do partido, sempre me ligava, convidando para sair.
Gostava do auê, pois cortava a forte rotina de trabalho.
No final da madrugada muitos vinham dormir lá em casa.
O problema que rolou, era que o “tal” bar de baixo de meu prédio, era um dos points tradicionais da noite carioca.
Mas nunca consegui resolver a contradição de ter que me vestir, para a noitada, e simplesmente descer o elevador.
Para mim o ato de sair, necessitava de um rumo, alguma direção, como que uma expedição, a procura de raras especiarias, a procura de um novo tempo, a procura do prazer.
Por isto muitas madrugadas começaram e acabaram lá em casa.

3ª Parte: A mãe

Minha mãe veio dos EUA me visitar.
Já tinha uns quatro anos que não nos víamos.
Tudo foi festa e alegria.
Meu irmão Wayman estava casado com Patrícia, e morava em seu apartamento.
Percebendo algum constrangimento na relação e preocupação com seu retorno, de férias, minha mãe perguntou se poderia ficar comigo, já ficando.
Foi ótima as contradições vividas. Pela primeira vez, ela é que morava comigo, rssss.
Praticamente a mãe assumiu a loja de Campo Grande, me deixando por um período bem mais tranqüilo.
Chegando em casa, corria direto pro banho, afinal nunca me acostumei com o calor do Rio. Ao pegar minha escova de dentes, levei um choque. Ela estava com as cerdas escuras. Bem escuras.
Cherei-as, e em seguida assustado, corri para o espelho do banheiro, aonde procurava na boca e nos dentes algo que explicasse tal reação “química”.
Nada era lógico.
Logo cheguei a conclusão de que se tratava de alguma “acidez”, e que teria que procurar um médico imediatamente.
Saindo do banheiro, deparei-me com minha mãe, que já tinha retornado tbm.
Comentei o fato estranho, abrindo o “bocão” em sua direção.
Ela sem esboçar nenhuma surpresa me faz uma “pequena” pergunta:

“...aquela escova de dentes que estava no armarinho do banheiro era sua? “

Meio sem entender a pergunta, pois só morávamos eu e ela na casa, respondi que sim. E afirmei, uma é sua e outra é minha.

“Ahhhh, eu não sabia que era sua, então pintei meus cabelos com ela...”

Minha mãe voltou para os EUA, para tranqüilidade de minha nova escova de dente.


4ª Parte: Sarney

Todo Brasil era fiscal do Sarney. Nada poderia aumentar, então faltava tudo que queria aumentar.
Era fila da carne, do frango, dos ovos, do leite, etc....
Fartava tudo.
Me recusava a entrar em fila, mas o tal ovo fazia falta nos lanches rápidos.
Então resolvi criar galinha lá em casa, no 8º andar.
Apesar de ter explicado ao homem da loja que só queria fêmeas, vieram dois galos no grupo de 8 pintinhos.
E logo eles se desenvolveram, e foram morar no quarto de empregada.
Como saia muito cedo, e voltava muito tarde, não imaginava o reboliço que meu galinheiro criou no prédio.
Certo sábado, logo após entrar no elevador, um de meus galos cantou bonito.
Havia um casal de idosos comigo, que automaticamente fez o comentário:

“...veja que absurdo!!! Criam galinha no nosso prédio!!!!”

O velhinho então retrucou:

“...mas isto logo vai acabar, pois montamos uma comissão para investigar o paradeiro destes animais na última reunião de condomínio”

Para não ficar por baixo na indignação exclamei, “em plena Copacabana!!!!”

Então percebi o tamanho da confusão.
Logo fui procurado por um dos zeladores do prédio, que por agradecimento as doações de resto de comida ( Pizza e chinesa ) me jurou fidelidade e disse que nunca me entregaria ao sindico.
Agradeci, meio cabreiro e vendo que teria que sair com o galinheiro do prédio.
Logo fiz uma “doação” à escola da Rebecca, minha filha, das penudas lá de casa, rssss.
A operação da saída do apartamento na madrugada, com a participação do vigia e zelador, foi coisa de cinema.

5ª Parte: O namorar

Não foi algo pensado, mas na prática, fiz de meu apartamento um local aonde poderia receber meus filhos.
Certa vez, na casa de Marta Baggio, conheci uma menina da serra de Caparaó, MG.
Era diferente, rica em suas histórias, hábitos e vivencias.
Uma pessoa que morava no mato, vivia da terra, de pouco falar, mas expressiva, de ações rápidas, dona de um sorriso, que me lembrava o amanhecer.
Em sua primeira vinda ao Rio, a ciceroniei.
Em sua segunda vinda ao Rio, nos envolvemos, namoramos, e depois soube, por ela mesma, que tinha uma “companheira” em MG.
O interfone toca, domingo bem cedo. O porteiro me informa que tinha uma moça com jeito caipira, com uma mala grande, querendo subir.
Mas como ele não conhecia, mandou que esperasse na praça em frente ao prédio, e interfonou.
Corri a janela, e pouco vi, sou muito míope. A mala e sua dona estavam lá. Mas não as identificava.
Mandei que a deixassem subir.
Era ela, vinda com o amanhecer de domingo.
Perguntei como tinha me achado, e ela respondeu, “perguntei aos pássaros”.
Foi um domingo inesquecível. Muito papo, muito carinho, muito namoro, muita praia.
Ela tinha vindo resolver uns problemas, tinha acabado com sua companheira, mas retornaria a Caparaó, com informações para um projeto.
Quando me dei conta, já era manha de segunda, e tinha mil compromissos.
Negociava a venda de uns telões a sindicatos.
Tinha que partir.
Despedi-me, lhe dei as chaves do apartamento e desejei-lhe sorte no dia.
Rodei, andei, trabalhei, falei, mutilei a razão.
Retornava ao apartamento, e lembrava-me dela, de outro mundo, de outra vida, de propostas simples....
Pensei, coitada, já estará dormindo, sem atenção, que cara eu sou.
Mas não. Estava sentada no safa da sala, só de calcinha, assistindo TV, e ao me ver, abriu os braços, e correu demonstrando carinho e muita alegria.
Nem sei como amanheci terça feira..... Era só o caco. Ela dormia como um anjo, linda, bela, provocante.
Mas fui a batalha, tinha compromissos, o outro lado do mundo me esperava.
Arrastei-me ao voltar para casa. Realmente não tinha mais forças. Estava mal, cansado.
Mas meu desejo, estava lá, viva, pulsante, estonteante, querendo falar do dia, das buscas, dos toques, da vida.
Sobrevivi, é o que posso dizer. Nada era mais lógico. Só sei que ia aonde disse que ia. Mas apesar de presente, estava ausente, Cumpria o dever de viver o dia.
A noite chegava, e sem medo de errar, “fugi” para casa de minha avó, único lugar que me sentiria seguro naquele momento, rssss.
Ela se foi, infelizmente sem nos despedirmos, deixou a chave do apartamento na portaria.
Nunca mais nos vimos.

6ª Parte: Casal Polonês

Continua....

7ª Parte: A viagem....

Continua....

3 comentários:

Susanna Lima disse...

Que delícia de texto, Rainho!

Nossa, quanta história boa pra contar... Adorei o caso da escova de dentes! hahahaha

Beijos querido!

Fabiano Barreto disse...

Após seguidas convulsões de riso a escova remoçada e os dois galos insistem em habitar o meu imáginário!

rsrsrsrsrsrsrsrs

Anônimo disse...

Vc e os seus "causos"...dei gargalhadas...aguardo a continuação...
Beijos mineiros...rsrsrsr