Estive no Rio, fui ver meu pai, meu irmão, minhas primas e primos, com meus filhos, Oliver e Breno.
Visitei também minha querida tia Zolita no hospital.
A cidade traz muitas recordações. Cada rua, cada canto. Andei por ali, vivi por ali. Mas os tempos são outros. Meu irmão, vi uma única vez, por motivo de negócio. Minhas primas, nem isto. Marcamos, marcamos, mas o ritmo da vida de cada um impediu o encontro. São prova que aquele espaço, não é mais o lugar que eu vivi, apesar de ser o mesmo lugar.
Foi bom porque sai com meus filhos, ficamos bem juntos, Fomos no Parque Lage, no Liceu Literário Português, andamos de barca, fomos a praia, andamos sem direção, mas com o coração. A todo momento estava com um dos dois em uma conversa mais próxima. Foi muito bom, mas na idade deles talvez nem tenham percebido ainda. Vivemos momentos que serão lembrados, que vai dar saudades.
Em diversos instantes parava e observava meu pai. Como o tempo age sobre a pessoa. Meus avós, sempre foram os mais velhos, mas meu pai era simplesmente aquela pessoa madura. Derepente ele é o velhinho. E comenta de seu “pouco” esquecimento. De seus medos de sair, dos amigos que se foram, da solidão e da segurança de estar em casa. Longe do mundo, hoje desconhecido.
Tem um cantinho na sala que meu avô Zezinho criou, aonde colocava fotos dos parentes falecidos. Ali ele me contava quem era cada um, de suas graças e manias, de diversos casos. Agora meu pai vem me mostrar o mesmo cantinho, mas não precisa me descrever a personalidade de cada um, pois vivi com eles também. Fomos contemporanios.
É uma casa de saudades, com paradas no tempo.
Meu pai vira e meche me chama de Wayman, o que sempre foi normal. Meu irmão sempre foi mais presente, mais previsível.
Lembro-me de uma vez em que cheguei no apartamento e ninguém estava. Já morava em Brasília esta época. Então fui esticar o corpo deitando-me no quarto.
Derepente chegaram meu pai e seu melhor amigo, Godinho, também coronel aposentado.
Sentaram-se na sala e começaram a colocar o papo em dia. Riam, se divertiam. Derepente a conversa partiu para a prole de cada um.
Godinho falou do Zé, Cristina e Gugu, com suas preocupações e expectativas. Depois foi a vez de meu pai, falou de Wayman, de sua sociedade com seu ex patrão, dos planos para o futuro, etc.
Ao fim, Godinho perguntou por mim, e meu pai de forma curta e direta foi logo afirmando, “esta bem, ele sempre se vira”.
Nunca esqueci aquele papo dos dois, pois tinha uma análise (se é que se pode chamar assim) sincera aos olhos de meu pai.
Aos poucos fui vendo que era quase uma unanimidade aquela avaliação entre a família. Afinal, nunca falava sobre minhas dores, meus medos. Sempre estava sorrindo e pronto para ser útil. Não pedia ajuda a ninguém.
Morava longe, sumia mas reaparecia. Tinha humor e muitas histórias engraçadas para contar.
Desta vez quando cheguei na casa de meu pai fui surpreendido com uma afirmação sua: “mandei juntar e guardar, você é o único que conseguirá juntar os cacos de um bule japonês de mais de 200 anos que quebraram aqui em casa”.
E lá veio Dulce, sua atual esposa, com um saquinho de supermercado, com um tanto de cacos de louça fina ao fundo.
Realmente não era a primeira vez que fazia o trabalho de “faz tudo” para a família. Sempre fui habilidoso e com orientação de meu avô restaurava muitas peças de arte praticamente perdidas.
E não foi diferente. Em pouco tempo a tampa do bule já estava descansando em cima da mesa. Logo depois o bule fazia companhia a sua tampa.
Meu pai olhou e afirmou: “eu não disse”. Pegou o bule o levou-o a seu lugar junto ao restante de seu jogo.
Logo depois veio me questionar a respeito da marca em algumas emendas. E afirmei, pai, são como as feridas da vida, elas fecham, mas as cicatrizes falam, retratando suas histórias.
Descobri então, que por sempre me virar, tinha aprendido a juntar os cacos da vida também, por menores que fossem. Mas hoje as tatuagens das cicatrizes, juntas com as rugas da idade, me paralisam.
Hoje as alegrias não afogam minhas tristezas.
Sinto-me sozinho, neste ser que aprendeu a se virar.
domingo, 23 de janeiro de 2011
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