quarta-feira, 5 de outubro de 2016

NÃO-POESIA

Teve um tempo,
em que a fala não existia.
Em que o cinema era mudo,
em que os desenhos,
arranhavam o "concreto",
expressando o encanto.

"Neste" tempo,
às cores brotavam
da emoção abstrata.
Não adianta "colorir",
se o colírio se repetia,
na pincelada da ação.
O artista se faz plástico,
com "as-penas" da escrita,
com o bailar do corpo,
com o gingar do movimento,
com o criar do personagem,
que explora o (in)consciente.
Desejar que o "ninguém",
tenha entendido o dito,
é um desejo "estranho".
Afinal, nossos olhares,
"conversantes" que trocamos,
são traços de cumplicidade.

Mácia Teixeira




NÃO-POESIA

Eu até gostaria de voltar a escrever artisticamente. Mas só aprendi a fazer poesia de minhas dores pessoais, expondo numa vitrine estética corações partidos e fantasmas muito verdadeiros e íntimos. Fazer poesia é despojar-me do instinto de auto preservação social e mostrar aos outros o que há de subjacente à alma; é fornecer as coordenadas exatas do calcanhar de Aquiles à estranhos.
Então calo o impulso do revelar-se em verdadeiras luzes e permaneço no show pirotécnico dos sorrisos virtuais, enquanto busco a linguagem simbólica e suficientemente abstrata que me autorize à poesia.
É possível que palavras não sejam minha linguagem para falar de verdades subjetivas; talvez os traços, quem sabe? Quem poderá afirmar categoricamente o significado de uma rosa ou serpente ou olhar? O simbolismo e a semiótica são refúgios mais seguros para a frágil e despida alma de uma artista em carne viva.
No mais, so espero com esse texto que ninguém tenha realmente entendido. Que fique dele apenas a beleza (ou a arrogância verborrágica) de construções gramaticais que não têm pretensão de clareza, mas que preservam a verdade.
Mácia Teixeira
**dedicado aos meus queridos poetas Bruno Frank, Rafael Daher, Vicente De Paulo Siqueira, Wellington Rainho, Lee Flôres, Jorge Breogan

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