Brasília, 18 de fevereiro de 2006
Você chegou a pouco com a Bambinha.
Percebi o quanto ela estava feliz
em mais uma experiência “de adulto”.
Breno também gostou muito de poder brincar na rua à noite.
Chegou quase a chorar qdo o proibi de ir com os amigos,
por um instante voltei ao passado,
percebi que a cena se repetia,
só que desta vez sendo meu filho o personagem.
Voltei atrás,
apesar de sentir insegurança de saber que ele estaria ali na rua,
à noite, “longe” de meus olhos.
Mas o argumento de que todos brincavam,
e o relato de que os “novos amigos”
pela primeira vez o aceitavam em uma brincadeira,
me permitiu reescrever um instante de minha vida,
através de meu filho.
Vocês foram dormir,
porém minha inquietude,
me presenteou com carinhos,
e ternas palavras de meu filho,
chamando-me a voltar a dormir.
Trocamos olhares apaixonados,
e toques, numa sintonia única.
Percebi então que precisava tirá-lo de meu lado,
pois nosso filhote precisava de tranqüilidade para voltar a dormir.
Convenci-o a ficar contigo o restante da noite.
E lá foi ele, com seu cobertor.
E dormiu quase que instantaneamente.
Quando falei ao telefone com você,
informando de que não estaria em casa,
e sim no celular, acompanhando Breno,
percebi a forma educada e social,
como você me trata em frente aos seus amigos.
A forma como você se comporta e age.
Tenho certeza que lhe faz bem.
É ótimo podermos trilhar uma conduta pré determinada,
que nos conceda segurança e estabilidade.
Percebo também o quanto lhe faz bem este convívio social.
A forma que você se empolga,
contando suas coisas,
descrevendo detalhes,
sorrindo e reverberando suas experiências.
Infelizmente não temos a mesma sintonia.
O desgaste da relação,
carregado dos problemas,
juntamente com a falta de respeito ao colocar os pensamentos,
cria “soluções” administrativas como a divisão das despesas.
Tal decisão, é o reconhecimento de que o diálogo não existe
e que é difícil recuperá-lo.
A afirmação de que “desvio” dinheiro para fora de casa,
ou é mais uma tentativa de magoar,
ou uma declaração de que realmente você não conhece mais,
ou nem nunca conheceu,
a pessoa com quem vive.
Torço sinceramente que você tenha tentado me magoar.
Caso contrário,
também não te reconheço mais.
Não te culpo por nada.
Dizer que não tentamos muito seria mentir.
Realmente nunca incorporei a imagem do companheiro trabalhador,
vendedor de horas,
como todo mundo.
Membro de uma categoria específica.
Você sempre foi propositiva,
me indicando concursos,
tentando projetar uma vida,
um modelo de estabilidade.
Mas nunca percebeu que sou diferente.
Nunca respeitou as minhas diferenças profissionais.
Meu ritmo de vida.
Realmente também nunca incorporei o amante que você buscou,
ou precisou, por vários motivos alegados,
mas a verdade é que seu balanço de mim é negativo.
Realmente nunca incorporei a sua estrutura de uma casa,
de seu cantinho, que você projetou.
Aprendi a me calar em frente às diferenças,
tentando evitar atritos.
Porém e infelizmente,
muitas vezes meu silêncio ecoava como um grito.
Um grito de desespero.
Desculpe-me.
Realmente muitas coisa fizemos juntos.
Ontem Breno me disse que o que ele mais gosta
é da família que tem.
Me veio a imagem do desespero dele
quando a Bambinha torceu o pescoço.
Entendo o que ele e ela falam.
O patrimônio, a segurança,
o alicerce deles perante o mundo é a família.
Demos uma estrutura material privilegiada a nossos filhos,
apesar de você hoje mesmo depreciar a mesma.
Demos um relacionamento de primos, tios, avós e amigos.
Demos uma sensação de segurança.
Uma moral de classe.
Exemplos em atitudes perante a vida.
Demos experiências aos dois.
Entendo e percebo toda sua infelicidade,
seu desespero.
Só não entendo porque você me culpa “por tudo”.
Por sua infelicidade.
Porque você me agride sempre.
Eu não sou nem nunca fui seu inimigo.
Muito pelo contrário.
Muito mesmo.
Minha querida Leila,
reconheço minha incapacidade diante de tudo isto.
Torço por você.
Infelizmente neste instante
só tenho lágrimas nos olhos para lhe dar,
e uma enorme sensação de perda.
Sei que vou reinventar o sorriso.
Sou assim.
Espere de mim sempre um gesto amigo,
um beijo, uma mão.
Vou tentar dormir.
Felicidades.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
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