domingo, 23 de setembro de 2012

Ainda no Rio


Conversar, ouvir o outro, se ouvir, sempre é bom, pois refletimos sobre  o que parece obvio, verdade absoluta. Daí podemos desconstruir, para reconstruir.
Meu pai, pressionado pela idade, 79 anos, sempre resgata balanços, faltas e arrependimentos pelo que deixou de fazer.
Citando seus pais, relembrando seus tios, de forma bem emocionada, tudo meche com ele, trazendo-o a lágrimas, fomos andando pelo tempo, até chegarmos a Silvio, o último da geração de meu avô a falecer.
E meu pai, refletindo seu posicionamento pela vida, lamenta o fato de não ter ido ao enterro de seu tio Silvio (eram 6 por parte de meu avô), o único de seus tios que foi a sua  formatura. E afirma de forma emocionada, “ a gente só morre uma vez, eu deveria ter ido a seu  velório. Passou, passou, não terei outra oportunidade.”
Verdade pai. Mas às vezes a gente deixa de ir aonde pretendíamos. Acontece por esquecimento, por cansaço, por outros compromissos, por falta de vontade ou energia, por descaso, por indecisão, por qualquer outro motivo lógico ou não, mas acontece.
Só que quando a gente elege um momento, no exemplo de agora o enterro, como o instante imperdível, único, não teremos realmente outra oportunidade.
Por isto pai, perceber que a gente só morre uma vez, é sábio.
Mas você com sua reflexão, me mostrou que a gente também só vive uma vez. E que não estar presente, não dividir esta VIDA, nos pequenos momentos, nas pequenas graças, nos leves instantes,  é se alienar perante a opção do “ser”, do existir, do viver, do prazer.
Pai, esta colcha de retalho que é a vida, pode ser curta e pequena, quando em momentos de frio precisarmos nos cobrir, como pode ser abrangente e quentinha como um ninho.
Dependerá de nós.
Isto ocorrerá, não pelo fato de sermos boas pessoas, mas pela atitude de sermos presentes junto ao amanhecer de cada dia. Junto a nossas atitudes.
Nos arrependeremos sempre, pela constatação de não termos feito, pelo fato de não viver, esta vida que é realmente única.
A primavera chegou. O mundo transbordará em cores. Sementes brotarão, Os flertes serão namoros. E o renascer, o novo, nos encantará.
Sempre é tempo, de perceber, nossa eterna amante.
Amante vida.

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