"Ah, que beleza a visita que farão à casa antiga. Que beleza existir uma casa antiga.
UMA CASA (hoje tão raras) cheia de passos e sentimentos. Sei que não sabes postar, mas isto não vai te impedir de fotografar cada cantinho, não é????? E poderá haver um jardim, árvores, bancos de madeira...lindo demais." Rosângela Benati
Nem foi tão fácil assim, afinal dirigir pelo Rio depois de algunsssssssssssss anos sempre nos trás novidades. Porém a demora nos proporcionou (eu, meu pai e minha prima Eliane) viajarmos no tempo, até chegarmos a Praça XV, na chegada da Família Real ao Brasil, que fugia das tropas de Napoleão Bonaparte.
Sim, de colônia o Brasil passava a abrigar a corte do Rei. Mas as acomodações preparadas para o Estado Maior Português eram pequenas. Insuficientes perante o tamanho da corte.
Dom João VI então mandou que procurassem pela cidade uma edificação (palácio) que comportasse seus pares.
Não foi fácil, pois na cidade da época, junto ao Porto, não havia tal edificação.
Foi aí que em um Bairro mais distante, com pequenas lagoas e jacarés pelo caminho, encontraram a “Quintas da Boa Vista”.
E Dom João VI afirmou que seria mais fácil e rápido abrir uma estrada para lá do que aguardar a construção de outra sede para o Reinado. E foi desapropriada a propriedade.
Desde então o Bairro de São Cristovão passou a ser o mais importante do Rio antigo.
E para lá a nata da sociedade se mudou.
Meu bisavô, Comendador José Rainho da Silva Carneiro, como um bom português, assim que suas condições financeiras o permitiram, escolheu pessoalmente o local aonde iria morar e criar sua família.
Mas a procura da casa de meu bisavô não foi fácil, sinais de transito, engarrafamentos, falta de sinalização e orientação.
Falávamos de um tempo, de um bairro, mas vivíamos outro. Hoje um local que guarda grandes sinais da arquitetura da época, porém que abriga pequenas indústrias e depósitos. De nada lembrava o bairro sofisticado e residencial de antes.
Meu pai procurava desesperadamente lembranças ao vento, porém a realidade não ajudava.
Nos apegamos ao endereço e conseguimos chegar ao local.
Pessoas trabalhando, de um lado para o outro, sem permitir que o tempo parasse. Fomos até o gradil de ferro fundido que hoje protege o Clube Imperial Português. Fizemos um pequeno escândalo na tentativa de atrair alguém de lá, já que era a hora do almoço.
Até que meio de lugar nenhum surgiu uma alma viva.
A partir daí fiz silencio. Era a vez dele. Meu pai meio que sem saber o que falar ou indagar, afirmou para o vigia que ali era a casa de seu avô. O mesmo meio assustado disse que não rssss. Que era um clube. Mas meu pai foi mais forte em sua certeza e começou a descrever a grande casa colonial que não mais havia ali, as varandas, ele e seus primos correndo por elas, a horta, as roupas balançando ao varal, a sala de jantar dos adultos e o local na varanda lateral aonde ele e as outras crianças comiam. E com nomes e gestos chegava aonde queria.
Foi bom, foi ótima a visita.
As fotos tiradas não existiram, as árvores frondosas não faziam sombras, mas foram as impressões deixadas, a lágrima solitária que correu em seu rosto, que marcou o dia.
Ficou um silencio de muitas vozes, de sorrisos, de um tempo alegre e para sempre, que o arma e sustenta em cada amanhecer.
Ficou o patrimônio da felicidade.
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