sábado, 8 de março de 2014

Grandes distâncias tão próximas


É o tempo, e totalmente sabotado por ele, ando com o jornal de domingo passado intacto dentro do carro, ainda com a esperança viva de ter um momento de tranquilidade e privacidade para lê-lo, desalinha-lo, embaralha-lo, desbravando-o...

É o tempo e amanhã será domingo de novo, e me incomoda perceber que não fui capaz de “viver” o que passou, e acumulo jornais não lidos, papos interrompidos, ações não começadas, beijos engolidos, olhares não trocados...

É o tempo, e esta vida de “motorista”, “pai-torista” ou carroceiro, me leva a uma sensação de abandono, de solidão profunda.

Foi uma vida inteira, levando e trazendo, sem na verdade ir junto, sem sair do banco do carro, do papel invisível.

Lembranças de não ser cumprimentado, de não despedidas, de nem fecharem a porta ao saírem, de conversarem entre si como se eu fosse o “GASPARZINHO”, de falarem somente ao telefone, de ouvirem música com fone de ouvido (egoísta), de ficarem no laptop, de dormirem por todo o percurso...

É o tempo acumulando mágoas. Criando papéis, personagens impostos.

Este jornal não lido, é um grande símbolo, de histórias vividamente não vividas. De grandes distâncias de relações tão próximas.

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