É o tempo, e
totalmente sabotado por ele, ando com o jornal de domingo passado intacto
dentro do carro, ainda com a esperança viva de ter um momento de tranquilidade
e privacidade para lê-lo, desalinha-lo, embaralha-lo, desbravando-o...
É o tempo e
amanhã será domingo de novo, e me incomoda perceber que não fui capaz de “viver”
o que passou, e acumulo jornais não lidos, papos interrompidos, ações não
começadas, beijos engolidos, olhares não trocados...
É o tempo, e
esta vida de “motorista”, “pai-torista” ou carroceiro, me leva a uma sensação
de abandono, de solidão profunda.
Foi uma vida
inteira, levando e trazendo, sem na verdade ir junto, sem sair do banco do
carro, do papel invisível.
Lembranças
de não ser cumprimentado, de não despedidas, de nem fecharem a porta ao saírem,
de conversarem entre si como se eu fosse o “GASPARZINHO”, de falarem somente ao
telefone, de ouvirem música com fone de ouvido (egoísta), de ficarem no laptop,
de dormirem por todo o percurso...
É o tempo
acumulando mágoas. Criando papéis, personagens impostos.
Este jornal
não lido, é um grande símbolo, de histórias vividamente não vividas. De grandes
distâncias de relações tão próximas.
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