sábado, 18 de abril de 2009

Tentando me esconder

E então, Heloísa, a terapeuta do grupo termina os trabalhos.
Todos correm para se levantar, e o “barulho” do silencio, do grito, do engasgo, do choro....., se transforma em risos, em rápidos movimentos, em mais que alegria, em euforia, em beijos, em começo de festa.
Sempre fico sentado. Meio assustado com a rápida transformação de ambiente, com o carnaval fora de época.
Ali fico imóvel até que todos saiam da sala.
E a solidão e o silencio retorne a minha alma.
Fico sentado na intenção de resgatar o que se passou.
O que se disse, o que se afirmou, o que se negou, o que provocou.....
Provocou????????
Provocou!!!!!!!!!!
Sai da sala, em meu ritmo.
Vejo a bandeja de alumínio, com bananas.
Como primatas, todos voam nas bananas.
Como primata também busco a minha.
O grupo se concentra ao sol, na varanda, fora da casa.
A sensação provocada pelo vento frio “parece” mais forte do que toda a terapia que se passou.
O murmurim das conversas e dos risos, a normalidade de “jacarezar” ao sol. Se expor. Expor?
Esperar o momento do almoço. Eis a tarefa.
Tentei me juntar a todos.
Mas era difícil.
Beirava o impossível.
Voltei a sala de estar.
Lá estava o Edson, sentado, só, como sempre.
De costa a varanda onde as pessoas estavam. Assim não poderia ver a interação dos pacientes.
Olhava fixo para a parede em frente. Como quem não estivesse ali. Como quem também não ouvisse. Sem demonstrar frio, sem demonstrar calor, sem demonstrar vida.
As mãos simetricamente apoiadas em suas cochas.
Adormecidas, esquecidas.
Mãos, capazes de tocar, de sentir, de perceber, de dar prazer.
Cochas, que o sustentam, movimentam, o arrepiam.
Estava em seu mundo, transportou-se a outro endereço, saiu da clínica, sem que nenhum enfermeiro visse, rsssssss.
Não transgredia as “regras” de convivência.....que coisa!.
Além dele creio que uma senhora nova, chamada Maria.
Sentada em posição fetal, em uma poltrona.
Silenciosamente e individualmente vivendo sua gestação.
Mas era ali que eu também queria ficar!!!.
Na varanda, as pessoas, o ter que falar, o ter que sorrir, o ter que estar era pesado demais. Não suportaria.
Então fui também para a sala, aonde teria a “suposta companhia” do Sr. Edson e da Sra. Maria.
Também sentei-me em uma poltrona, pois assim evitaria possíveis pessoas a meu lado.
Mas ao perceber o ambiente, nós três, mais o frio, contraposto ao “circo voador” do calor de todo aquele sol externo, senti-me vulnerável, exposto em meus sentimentos, em minha solidão, como um castelo de areia, pronto a ruir, com possíveis movimentos de lábios, de questionamentos.
Medo de perceber o reflexo, a imagem, daquela realidade, nas grandes janelas, de me ver lá também.
Fechei os olhos.
Levantei-me e rumei à busca da “lógica” dos outros.
Precisava de algo sustentável, de um argumento, de prova material, que me permitisse sustentar na “dita normalidade” a razão, o sexo de todos os anjos, o desejo contido.
Então peguei o jornal.
Voltei a sala, e recostei-me na mesma poltrona, colocando o jornal no colo.
Agora não fazia mais parte do grupo de Sr. Edson nem da Sra. Maria.
Era um “intelectual”, pronto para ler os problemas da humanidade, e bordar soluções, alusões, e até "internações".....
Estava pronto para ler, sobre a greve dos Professores, da Polícia Militar, sobre o cache do Arruda a apresentadora XUXA, sobre as mazelas do governo LULA, mesmo com toda a penumbra da sala.
Mesmo com os olhos encharcados.
Mesmo com o jornal fechado.

Um comentário:

Tati disse...

Ola valeu por acompanhar meu trabalho que realmente tem mta dedicação e amor...www.familiabudalarins.blogspot.com blog de minha familia que tb toma mto da minha enorme dedicação e amor valeu Tati