Estava pronto para dormir.
Amanha pela manha, seria o dia de minha cirurgia.
Como sempre acordei cedo, ainda estava escuro.
Não por medo, ou ansiedade, mas realmente por hábito.
No meu quarto, dormia meu amigo paciente, que também se submeteria a cirurgia naquele dia, e sua filha.
Andava pelo corredor frio e silenciosamente ouvia o grito da noite,
Logo amanhecia e fomos visitados por uma enfermeira que mandou que meu companheiro e eu tomássemos banho, pois “a hora” estava chegando.
Ele foi primeiro, meio que amparado por sua filha Norma.
Certa angustia, certo medo, poucas lágrimas e o desejo de sorte para mim quando seguiram com a enfermeira.
Pela cena, realmente senti o peso das palavras da enfermeira, “a hora esta chegando”.
Estava pronto e só.
Olhava a porta do quarto, meio com a certeza de que alguém meu apareceria antes do convite de seguir para a cirurgia.
Passaram-se umas duas horas. Eu sentado a cama, olhando para a porta.
Derepente uma senhora, vestida de branco, mas com a secura que os anjos não tem, convida-me a segui-la.
Manda-me deixar tudo no quarto, relógio, celular, documentos, os desejos, a vida....
Saio pelo corredor a segui-la.
Tento puxar algum assunto, cortar o silencio, o clima, mas ela não estava para papos.
Olho em volta novamente, na esperança de poder falar com alguém meu.
Passo por gente pelos corredores, uns rindo, outros sentados apresentando dor.
Passo pelo desconhecido, querendo me pegar a algo, a alguém, a palavra.
Enfim chegamos a porta da sala de cirurgia.
Seu trabalho havia terminado.
Me deseja “boa sorte”, como se estivesse a entrar em Lãs Vegas, chama um senhor, a quem me “entrega” e se vai.
O jovem enfermeiro de forma educada, questiona-me sobre se tinha um acompanhante, pois teria que deixar a minha sandália japonesa ali fora, no corredor de entrada.
Me apeguei naquele fato.
Era o único objeto lógico que tinha.
Construí minha tese de que infelizmente não poderia entrar na sala cirúrgica, pois aquela sandália era nova, e que seria totalmente ilógico e irresponsável de minha parte, abandona-la ali naquele corredor, aonde ficaria exposta a própria sorte.
Juro que tentei, argumentei, dei dramaticidade ao fato, olhando ao corredor se chegava alguém meu.
O jovem enfermeiro, pegou minha sandália, e jurou pelo mais sagrado, que poderia entrar, que minha rica e bela sandália ficaria sobre sua responsabilidade.
Demonstrando certa preocupação com minha sandália, entrei resignado.
Quando voltei ao quarto, após a cirurgia, fui visitado pelo rapaz, que de forma dócil, devolveu a mesma.
Tive tanto medo,
de perder a “sandália”.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
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