quinta-feira, 2 de abril de 2009

Navego, navego...

Começei a terapia há umas duas semanas, na Clinica Renascer.
Não por opção, mas por orientação dos médicos da Câmara Federal.
Um pré-requisito para uma nova cirurgia que terei que realizar.
Não sei se diagnosticaram minha alma ou meu corpo, naquela tomografia computadorizada.
Socialmente sou um exemplo de comportamento. Sempre educado, solícito, companheiro e presente.
Daquelas pessoas que não dão dor de cabeça.
"Só" porque não durmo a tal das oito horas diárias, rsssssss, os profissionais da saúde me pinçaram do dia a dia.
Porque fico as madrugadas acordado, lavando louça, arrumando a casa, limpando os carros, desenhando, lendo, escrevendo, rssssss.
Brincar com meus cães, cuidar das plantas....
Gostar de sua casa, querer vê-la em ordem, beira a normalidade.
Escrever suas experiências, seus desejos, suas buscas, seu cantar faz parte da história do homem.
Amplificar suas dores, seus choros, é organizar-se para a vida.
Adoro poder falar, conversar, perder-me na escuridão, nos prazeres das idéias, com somente a iluminação do brilho dos meus olhos.
Sinto prazer nisto.
E se for tomado pelo choro compulsivo, permito-me, pois na fragilidade me reencontro, na sinceridade exposta.
A solidão nestes momentos vai batendo, batendo....confesso.
Mas ali me percebo por inteiro, em fração de segundos.
Meu corpo muitas vezes exausto e cansado clama por calor, ressonâncias humanas, que em poucos momentos, se materializa nas figuras da “Cigana Encantada” ou da “Sandra Flor”.
Minhas amigas das eternas madrugadas.
No dia, embaixo da luz do sol, percebo que os “ruídos” da alma, não têm a mesma importância, se perdem entre as fortes vozes altas,
Escrevi para o grupo de discussão do PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, meu partido.
Fui ousado, sai da mesmice. Publiquei uns três poemas e uns dois textos em meio a importantes informes de categoria, da crise econômica, etc, etc.
Nenhum comentário. Nada.
Como se este novo mundo, que se quer construir, não fosse ter cor, melodia, poesia, olhares apaixonados.....
Muito "sensível", por algumas vezes, já afirmaram ser este meu grande problema.
Comentam que o mundo que vivo não existe.
Chamam-me de “lírico”.
Não busco o impossível. Desdobro-me atrás do tempo. Faço a mágica de fazer “caber” os compromissos nos horários. Dentro dos dias.
Muitas vezes em prol de minhas opções de vida.
Corro, corro muito, pela revolução que busco e acredito.
Por quem dei a vida, minha juventude, meus 51 anos, minha história.
Mas meu suor é poético. Porque minha luta ecoa com o pulsar do coração.
Volto a Clinica todos os dias. Converso brinco, me encontro.
Ali as pessoas “desequilibradas” como eu, ouvem-me.
Mostram seus escritos, seus poemas, com total naturalidade.
Ninguém tem vergonha disto.
Mostram-se os poemas durante o dia.
Lá não é necessária a madrugada, para se ser “sensível”.
Falam dos projetos, dos amores que tem, ou dos que não tem.
São claras as afirmações do que não querem mais.
Reconhecem a dificuldade do amanha, seus medos.
Alguns recebem seus familiares, na construção de um novo tempo.
Compõem, colocam melodia nas palavras, nos sentimentos.
Lá, se fala até com seu silêncio.
Pois o silêncio ecoa como percursão.
Enfim, começo a entrar em crise.
A Clinica Renascer, transformou-se em mais um pedaço de minha madrugada.
Uma madrugada a luz do dia.
Um dia de prazer.
Aonde posso olhar as pupilas de quem me relaciono.
Aonde meus contatos deixam de ser virtuais.
Tomam forma, cheiro, cor.
Aonde me emociono, choro, tremo.
Aonde percebo reações similares.
Sei lá. Sei lá mesmo.
Buscava um "oi", um sorriso.
Ultrapassei em muito minha busca.
Navego, navego, em direção a outros mundos.

6 comentários:

Fabiano Barreto disse...

Cara, é um desabafo tão rico que reverbera em inúmeras e inúmeras idéias.

Quando vier ao Rio ou mesmo que não venha nos visitar, conte conosco.

Independente de conhecermos (ou não) a embalagem, temos contato ao menos com centelhas do conteúdo. E reconhecemos o valor do "homem vivo" que aí está!

Pro espaço com os brucutus cinzentos da repartição!

Um grande abraço!

Anônimo disse...

Prezado Wellington, extravasar sentimentos em versos e poesia é algo exclusivo, apenas para quem consegue sentir na pele as dores do mundo. Todo poeta é solitário e realmente vive num mundo que não existe. Por isso a utopia é a nossa maior aliada.
A solidão, a lucidez das horas e a pressa em ser feliz nos escravizam numa sociedade sem "cor, melodia, poesia, olhares apaixonados". A racionalidade fria e sem sensibilidade, o mundo "realmente existente" está nos conduzindo a barbárie e a destruição da vida. Por isso, os "muito sensíveis" e "os que lutam por um mundo que não existe" são tão necessários. É justamente a poesia e o lirismo que ainda nos fazem continuar sendo militantes nesse mundo tão destroçado e apodrecido.
Muitos de nossos companheiros querem construir "um outro mundo" com as mesmas armas de quem nos domina e massacra. Ainda teremos que marchar muito para que isso mude.
Continuemos nossa profissão de fé na humanidade, mesmo que a solidão e a incompreensão sejam nossas companheiras certas. O que importa é que a semente frutifique, contrário a tudo que disseram dela, desafiando o chão árido, enfrentando todas as secas, fazendo do Sol seu único alento e a luz que põe fim a toda escuridão, da alma e da vida.
Fico feliz em tê-lo como companheiro e torço por sua saúde. Sei bem o que é sofrer as dores da alma e as do corpo. Sou diabético a 15 anos e conheci de perto a dor, a morte, as limitações. Fiz poesia no cárcere branco de minhas internações e a muito tempo perdi a vergonha de ter coração. A razão só me traz dor e asco com mundo em que vivemos. Só suporto a triste realidade em que vivemos com o lirismo-renegado de meus versos. Se ainda estou vivo tenho a certeza que é porque em minhas veias não pulsa só sangue, mas o sonho e a utopia, o lirismo renegado de meus versos.
Paulo Enrique
Presidente do PSOL/TO

Wellington Rainho disse...

Oi Fabiano

Obrigado pelo sempre carinho, força e atenção.
Quero além de conhece-lo ouvir o som desta "viola"
Se tiver mande algum arquivo com o que vc faz.
Gde abraço

Anônimo disse...

Vc é tudo isso mesmo...sempre foi...não precisa ir na clínica para encontrar seus parceiros...inda sou uma parceira,não das madrugadas pois meu corpo dói de tanto cansaço,meus nervos não se distendem mais nem meus músculos, minha cabeça roda mais que uma hélice de ventilador...os pensamentos se misturam e saem depressa demais...minhas palavras não me acompanham...tudo passa depressa demais...as pessoas são depressa demais...tenho sede de ficar sem pensar...não consigo, não controlo...segunda as 2 horas marquei analista....psicóloga...coincidencia não e´? também adoro cuidar da casa, dos meus cachorros...Bob Dilan e Djáia(Salve salve em sânscrito)
me entendem...me olham...são calmos...não cobram nada...só ficam deitados encostados em mim...são amigos de verdade...trabalho muito...me cobram muito...sou tb solícita demais educada demais...sempre sorrindo para os pais dos alunos, para os alunos...e pr dentro querendo largar tudo e ir morar em pirinópolis....largar tudo e me isolar nas profundezas do Catuípe...sou muito só...daquela solidão que eu acho que não merecia...que não devia existir...tenho muita saudade de vc...de olhar teus olhos azuis...de ouvir teus sonhos... de sonhar com vc... moramos na mesma cidade...
Me liga....me procura....
quero ir com vc na clinica....
quero ir com vc pra qualquer lugar...

sona

Fabiano Barreto disse...

Não é nada demais!

Torço mesmo para que fique tudo bem com você - ou como costumo dizer: que fique tudo joinha, joinha!

rsrsrs

Quanto a fonogramas, tem uma rádio online que se chama last fm - é só procurar no google. Nessa rádio tem algumas músicas da banda da qual faço parte. O nome é "Filhos da pátria". Basta procurar usando o campo de busca. É um rock meio porrada. Honestamente, não sei se você vai gostar (?). (rsrsrsrs) Talvez você curta mais as letras.

E estamos aguardando sua vinda ao Rio, eu, Amanda e a nossa fiel escudeira, Susanna!!

Um abraço e tudo de bom!

Domenica disse...

Tanta,tantas coisas que eu não tinha,ainda,como entender...